Sinais de preocupação

Cartoon de Luís Afonso


Escutar todos os nossos políticos, ver, ler ou ouvir a comunicação social, dar ouvidos ás várias corporações ou dar crédito a todos os lobbies, hoje em dia, é um acto de demência. Ninguém fica esclarecido, e a ideia não é esclarecer, obviamente…

Qualquer cidadão anónimo que tenha uma mediana inteligência e possua um mínimo de sensibilidade social, tenha suficiente acuidade auditiva e visual, perante o penoso dia-a-dia chega a algumas observações.

Os sinais de desconforto que se vêm e ouvem, as conversas de café e de transportes públicos, o descrédito (o real e o induzido) da classe política, o desprezo que uma parte de nós sente por algumas atitudes e formas de fazer política, levam a crer a eminência de que algo estará para suceder, quanto mais não seja porque a situação já aparenta ser irresolúvel.

Sem ser adepto de teorias conspirativas, sinto demasiado a ebulição contida, o calor e o cheiro a esturro…

- As finanças públicas estão num nível mais profundo que a Fossa de Mindanau!! Não se vislumbra qualquer remédio possível e ninguém faz por credibilizar uma qualquer solução que colectivamente assumamos ser a ideal, sabendo-se que não deixará de passar pelos mesmos apertos e cortes de sempre!

- Funcionários ministeriais confidenciam a particulares, que fazem divulgação de produtos financeiro, que o melhor é comprarem conservas em lata porque o “clima” vai …aquecer no Outono!

- As forças de segurança estão cada vez mais viradas para conquistas corporativas que na estrita defesa da ordem e da segurança públicas.

- Os militares estão em absoluta efervescência. Já me pareceu mais longe o momento em que haverá necessidade de uma qualquer “brigada do reumático” em nome de sublevados assumidos, ou não, tenha que prestar vassalagem aos dignitários de um regime mal amado, mal construído, mal defendido e, aparentemente, em declínio. É bom não esquecer que, se as Forças Armadas «fizeram» o 25 de Abril, mais vezes interferiram nos últimos 100 anos para que a democracia não vencesse.

- A vontade de restauracionismo de 24 de Abril, patente na direita, viu-se na vitória de 2002, sentiu-se na sua acção, na sua atabalhoada tentativa de manter o poder a todo o transe, sentiu-se e continua a sentir-se todos os dias. A fé sebastiânica na vitória presidencial de 2006 encaixa-se no propósito, propicia mais uma vez a ideia de vingança e dá corpo á tradicional, desde os tempos do Estado Novo, guerrilha entre Belém e São Bento.

- O agudizar de situações de extremismo, a sua proliferação, a sua defesa, publicitação e inacreditável incapacidade de lutar contra essas organizações.
De cada vez que se abre mais o fosso da pobreza criam-se as condições básicas de poder para estas correntes marginais.

- A falta de credibilidade de um sistema judicial, verdadeiramente justo, democrático, organizado e de acessibilidade universal é algo de inaceitável!... Se há falha aqui, há falha na qualidade do estado de direito democrático! Quando a única preocupação na justiça parece ser a diminuição das férias judiciais, creio que está tudo dito!!!... Não haverá mais nada a fazer naquele ministério?? Depois do que Alberto Costa fez na Administração Interna no tempo de Guterres não era de esperar outra coisa!!!

- A cedência do governo em questões de princípioe de ética, em favor de soluções populistas é preocupante! É salutar, e necessário, é absolutamente imprescindível, reformar… mas isso tem que ser feito sem estratégia, sem pensar, por atacado, sob pressão mediática?? Não há ninguém capaz de parar para pensar, bem, uma vez que seja??

- Há demasiadas vozes por esse país fora, por esse espaço virtual, a efectuarem a apologia de situações que pressupõem «caudilhismos pseudo-independentes pró-eanistas» que, sinistramente apelam a falsos unanimismos e amanhãs que riem, cheios de virtudes, alegrias esfusiantes e progresso social e económico imparáveis… Peronismo nem na Argentina funcionou!!!.. Sassá Mutema não passou de um personagem de telenovela… Dom Sebastião jamais voltará!!!

- Sinto hoje, aqui, amargamente, o mesmo que senti em 1996, em Angola e relativamente a essa terra maravilhosa… O país está a saque!! Perante a incerteza do poder e o risco da queda, a tentação de predação é enorme… há pessoas estupidamente ricas, uma infinita maioria a viver cada vez de forma menos remediada (gasta-se 118 %, em média, do que se ganha)… e um número crescente a viver na indigência, ou perto! Pressentem-se todas as tropelias e ninguém mexe uma palha… Angola era auto-suficiente no capítulo alimentar, morria-se (e morre-se) á fome. Uma visita ao Angoy-Frankas (ex-Jumbo de Luanda) revelava prateleiras cheias de produtos… portugueses.
Não me ocorre ter visto nada com a etiqueta de «Produto de Angola»… Por aqui vivemos quase o mesmo síndroma – raros são os produtos portugueses.

- É público e notório o desnorte perante as continuadas deslocalizações de empresas, apesar o esforço no seu combate e no facto de que, cada mês que se adia o destino fatal constituir, economicamente, a ampliação da sepultura da economia portuguesa – tão grandes, tão mal aproveitados são os benefícios oferecidos e tanto desprezo pelas autoridades portuguesas… É assustador, de cada vez que tal é referido, que a «acusação» recaia sobre os «altos» salários dos trabalhadores portugueses… sabendo-se que, á falta de imaginação, virão mais e mais sacrifícios!

- Tornou-se óbvio há muito que se mantivemos a independência durante 9 séculos não conseguiremos chegar ao milénio. As sucessivas guerras que vencemos, e tornaram viável este rectângulo, constituem glórias, efémeras, do passado… Aquela que urgia travar, está perdida há muito, muito por culpa de empresários que destratam os «maus» trabalhadores portugueses, os mesmos que fazem a riqueza de outros países… Os mesmos empresários que fazem do combate aos funcionários públicos a razão da sua existência, não com intuitos reformistas ou de aumento de eficácia, mas para que mais lhes sobre para a operação de mendigagem de subsídios a título de tudo e de nada. Que necessidade têm os empresários portugueses de investir, de arriscar, de internacionalizarem as suas empresas, de defender, dessa forma, a economia portuguesa se, por via dos subsídios do estado, o lucro está garantido??

Acho que chegou o momento de, com a serenidade possível, entendermos que conduzimos, colectivamente, o país a uma encruzilhada não sendo possível manter as evasivas e as hesitações quanto ao nosso futuro colectivo.

Salvaguardando o essencial, a democracia, a liberdade e a superioridade de podermos regular as nossas relações e construir o nosso futuro com base em leis, há que ter a coragem de colocar tudo em causa… pensarmos numa forma de melhor construirmos as nossas organizações políticas e económicas, numa forma saudável de, com isso, construirmos o nosso futuro e o dos nossos filhos, dando melhores condições de governabilidade áqueles que, de forma positiva e responsável soubermos eleger e a quem, com toda a naturalidade não tenhamos que pedir responsabilidades porqu,e a todo o momento, estarão nas nossas mãos.

O nosso futuro colectivo não pode ser viver á conta da «subsídiodependência» de Bruxelas…

O nosso problema é de rumo… e a pergunta fatídica é – O QUE QUEREMOS AFINAL DO NOSSO PAÍS???

Creio não ser responsabilidade de Bruxelas responder á pergunta mas, de certeza, que têm resposta para ela… compete-nos não continuar a assobiar para o lado e enfrentar, de vez e seriamente, o problema!
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