Abandonicidade





meninos sem destinos
entre a terra e o céu
nos faróis, nas calçadas
cheiram cola, lambem o papel
usam, abusam e se lambuzam
vítimas de uma realidade cruel

aos restos
sem rostos
sem nomes
vagam defronte as vitrines
entre os sonhos e as fomes

meninos sem destinos
que a pátria mãe pariu
em berços nada esplêndidos
no ventre que se feriu
entre propostas e promessas
de uma política não gentil

aos montes
sem dotes
sem donos
vivem a espera da sorte
de serem acolhidos em seus abandonos


Zhô Bertholini