Se me quiseres conhecer

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Se me quiseres conhecer,

Estuda com olhos de bem ver

Esse pedaço de pau preto

Que um desconhecido irmão maconde

De mãos inspiradas

Talhou e trabalhou em terras distantes lá do norte.


Ah! Essa sou eu:

órbitas vazias no desespero de possuir a vida

boca rasgada em ferida de angustia,

mãos enorme, espalmadas,

erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,

corpo tatuado feridas visíveis e invisíveis

pelos duros chicotes da escravatura...

torturada e magnífica

altiva e mística,

africa da cabeça aos pés,

– Ah, essa sou eu!


Se quiseres compreender-me

Vem debruçar-te sobre a minha alma de africa,

Nos gemidos dos negros no cais

Nos batuques frenéticos do muchopes

Na rebeldia dos machanganas

Na estranha melodia se evolando

Duma canção nativa noite dentro


E nada mais me perguntes,

Se é que me queres conhecer...

Que não sou mais que um búzio de carne

Onde a revolta de africa congelou

Seu grito inchado de esperança.



Noémia de Sousa
In notícias, 07.03.1958, página “Moçambique 58
1 Response
  1. Unknown Says:

    Querido amigo,
    Agora que me sinto um pouco melhor da gripe que nao me querida deixar há mais de duas semanas, vim para pôr a leitura em dia e para dizer-te que deixei para ti um desafio lá no meu blog... espero que possas atendè-lo, pois é uma forma de conhecer um pouco mais sobre os amigos também... :o)
    Muitos beijos, flores e muitos sorrisos para ti, desde este mundo de cá!!!