Tragédia em 2 actos























O Preconceito

I ACTO

Cena 1
(ao telefone)

Jovem: - Bom dia, gostaria de saber se está ainda por preencher alguma das vagas que o anúncio publicado refere...
Entrevistador: - Bom dia... Ainda temos algumas vagas. Terá que apresentar a sua candidatura na sede da empresa no endereço indicado no anúncio.
Jovem: - Muito bem, irei de imediato.

Cena 2
(pessoalmente)

Jovem: - Vinha apresentar a minha candidatura. Telefonei há pouco, falei com F....
Entrevistador: - O seu nome, por favor...
Jovem : - Silvia
Entrevistador: - Idade?
Jovem: - 22
Entrevistador: - Residência?
Jovem: - Rua Principal, 1213 Bairro Alto da Cova da Moura

O entrevistador pára repentinamente o preenchimento da ficha e avalia a jovem de alto a baixo.
Levanta-se, dirige um sorriso misterioso á jovem... e dirige-se a um terminal de computador.
Digita vagamente algo... Franze o sobrolho aparentando preocupação. Troca palavras inaudíveis com outro colega. Dirige-se ao local onde a jovem o aguarda.

Entrevistador: - Como deve ter reparado...
Jovem: - (levantando-se e envergando o melhor sorriso sarcástico...) - Sim, sei... não se incomode, as vagas afinal estão preenchidas...
Entrevistador: - Exactamente, lamento...

II ACTO

Sílvia opta por responder ao anúncio que, afinal, teima em continuar a aparecer no jornal.
Muda de estratégia, dá como residência o endereço de um familiar não muito longe da Cova da Moura...

Após a entrevista com outro funcionário, com outro visual para não ser facilmente relacionável com a jovem da Cova da Moura, acaba por ser admitida.


Nota explicativa:

O relato, ficcionado, é real. A jovem é minha amiga, é branca, altamente competente, empreendedora, mas morava - e mora! - na Cova da Moura!!!