As aparências enganam





















As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões.
Os corações pegam fogo e, depois, não há nada que os apague...
Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão,
o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão,
sonhos vividos de conviver...

As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam
Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões.
Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele...
Se a neve, cobrindo a pele,
vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer,
não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer,
senão chorar sob o cobertor...

As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam
Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões
Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno...
Mas o verão que os unira,
ainda vive, e transpira ali

— Nos corpos juntos na lareira...
na reticente primavera...
No insistente perfume
de alguma coisa chamada amor...




Sérgio Natureza