M'Banza Congo













A minha memória de Mbanza Congo, em 1972




Mbanza Congo regressou aos títulos de 1ª. página... infelizmente pelas piores razões.
O acidente com um Boeing 737 vitimou seis pessoas.
Apenas um milagre poderá terá impedido que mais mortes ocorressem.
Ainda bem que há... milagres!
A minha solidariedade para com os familiares das vítimas do acidente.
















M'banza Congo é e será sempre um marco fundamental na minha vida.
O acidente trouxe-me á memória características únicas daquela pista, daquela lindíssima cidade e daquele povo portentoso e amigo.

O meu baptismo de voo aconteceu num voo de Luanda para Mbanza Congo, então São Salvador do Congo.























Um «enorme» DC3 da DTA, antecessora da TAAG levantou do Aeroporto Craveiro Lopes, hoje 4 de Fevereiro, escalou Ambriz, Ambrizete, Santo António do Zaire seguindo depois para São Salvador, antes de rumar a maquela do Zombo e regressar finalmente a Luanda.
Uma viagem inesquecível.

Recordo desse tempo as dificuldades que aeronaves de grande porte tinham para ali operar. O avião maior que por ali aterrava era o famoso «Barriga de Ginguba» - o Nord Atlas, militar.
Aviões de escala da DTA não recordo, ali, outro que não fosse o Dakota.

Lembro que a capital da Província do Zaire era, na altura, uma pequena cidade do interior, ameaçada pela guerra que não raramente passava não muito longe dos seus horizontes.

Rodeada de arame farpado por todos os lados, a sua extensão máxima correspondia, grosso modo, ao comprimento da sua pista de aviação - curta e estreita.

A «aerogare» não existia e todo o processo burocrático ligado ás viagens era efectuado numa loja de uma vivenda contígua á pista - a Casa Verde.

A pista do aeroporto tinha, no início da década de 70, características muito especiais. Dividia a cidade em duas, estando de um lado a «cidade branca» e do outro a «cidade negra», a sanzala.

Esta pista era talvez uma das únicas pistas onde de um lado para o outro da cidade circulavam livremente pessoas e veículos. Essa passagem situava-se junto ao CRESSA (Clube Recreativo de São Salvador).

O relato do acidente agora ocorrido recorda-me que um avião com a envergadura do DC3 passava com a ponta das asas sempre muito perto das casas, fossem elas, na altura instalações militares, a Missão Católica, a Catedral de São Salvador... ou as humildes casas de adobes de muitos amigos.
Qualquer incidente nestas circunstâncias pode tornar-se catastrófico.




Não me parecendo, pelos relatos que tenho, que a estrutura urbana á volta da pista se tenha alterado, mesmo que, como se sabe tenha sido melhorada e eliminada a tal passagem, fácil é admitir que uma pequena falha, tenha ela a origem que tiver, ponha em perigo a segurança da aeronave e de toda a zona urbana que ladeia a pista.


Admitir que aeronaves como a que agora sofreu o acidente escalam aquela pista assiduamente, por melhores que hoje sejam as condições, é sem dúvida uma proeza humana dos pilotos da TAAG!

Confesso que, mesmo antes do acidente, se me dissessem para regressar a Mbanza Congo num Boeing 737, o faria de imediato, sem pestanejar. Mas que, até aterrar em segurança, estaria absolutamente espectante quanto á possibilidade do «monstro» conseguir ali pousar, creiam que estaria...


Assisti, ali, a DC3 tentarem a aterragem e terem que abortar o processo, fazendo razante á pista, em aceleração muito próxima do Hospital Provincial, não muito longe do limite da pista, na altura assinalada com metades de bidãos de 200 litros.

A perigosidade daquela pista, fica patente na imagem de um outro acidente ali ocorrido em 1994, provavelmente por motivos idênticos, com um Boeing 727 da TransAfrik.




















Qualquer que seja o avião, quaisquer que sejam os riscos... aí voltarei, estou certo!