Mukai*
sábado, junho 30, 2007
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizIJokB807gmQwk04KScOkPuKQO5UL_B5PtszzaoZSa9Rgw0lKfUcTyM5Zkl0GppvtmE4EI0UMJ6257W5UCy4QkyiwB965AgZN2VveXnlW7C23YKRNP_bFR0FNOafxHPTy48jZ0Q/s320/Um-trabalhadora-perto-da-Catedral-de-Mbanza-Congo.jpg)
Foto de Ana Filipa, em Mbanza Congo, in Onde a Lua Anda
1
Corpo já lavrado
eqüidistante da semente
é trigo
é joio
milho híbrido
massambala
resiste ao tempo
dobrado
exausto
sob o sol
que lhe espiga
a cabeleira.
2
O ventre semeado
deságua cada ano
os frutos tenros
das mãos
(é feitiço)
nasce
a manteiga
a casa
o penteado
o gesto
acorda a alma
a voz
olha p'ra dentro do silêncio milenar.
3
(Mulher à noite)
Um soluço quieto
desce
a lentíssima garganta
(rói-lhe as entranhas
um novo pedaço de vida)
os cordões do tempo
atravessam-lhe as pernas
e fazem a ligação terra.
Estranha árvore de filhos
uns mortos e tantos por morrer
que de corpo ao alto
navega de tristeza
as horas.
4
O risco na pele
acende a noite
enquanto a lua
(por ironia)
ilumina o esgoto
anuncia o canto dos gatos
De quantos partos se vive
para quantos partos se morre.
Um grito espeta-se faca
na garganta da noite
recortada sobre o tempo
pintada de cicatrizes
olhos secos de lágrimas
Dominga, organiza a cerveja
de sobreviver os dias.
Ana Paula Ribeiro Tavares
in "O Lago da Lua"
* Mukai: - mulher