O que nós não vimos






















O que nós não vimos
donde escorria
o suor da surucucu
que caía
gota a gota
sobre aquela terra.

Um colar de platina
ou
as mãos cheias de missangas
deste modo me prendeste
às flores de laranjeira
que não tive.

Busco o teu corpo
como a sombra das tamareiras.
Dás-me de beber
e eu deslizo pela corrente
dessa água.

Tu és o meu oásis
e dispo os meus véus
em cada palmeira.
Fomos peregrinos de tantos lugares
e de gentes de outras línguas
bebemos água de muitas fontes.

Mas àquela cachoeira
que nos pertencia
não podíamos chegar.
Prenderam-nos no exílio
e na tortura de a sonhar.

Não somos mais peregrinos,
estamos em outro lugar.
Mas viaja a alma
para nessa cachoeira mergulhar.
Calar essa voz
que no caos do mundo,
dulcíssima e magoada,
não é senão um sopro
fora dos caminhos.

Recolher ao útero
quente e macio
não pelo cordão,
perdido para sempre,
mas por essa voz
silenciada



Maria Alexandre Dáskalos