(o rabo do gato desenha)


















o rabo do gato desenha
letras árabes no mosaico da sala.
arranha o tapete de arraiolos,
rasga o jornal de letras
e um verso escapa-se pela janela entreaberta

uma pétala de violeta
é o tempo das violetas
fugiu para a janela da vizinha
um andar abaixo.
talvez atraída pelo cisne de camille saint säens
no carnival des animaux

o gato enfurece-se com o silvo do vento
e quase me estraga o poema.
vale o método tradicional
um novelo de linha encanta o gato.

alguém pousa os lábios nos meus olhos.





José Félix
in “Geografia da Árvore (a reinvenção da memória)”
Abril, 2002