O Nosso Mar
















Cabo Ledo, Julho de 1996





O nosso mar,
O mar africano,
Não se parece com os outros mares.
Terá o mesmo corpo,
Talvez...
A alma, porém é como os palmares:
Tem a energia, tem o dolência
A vida e a morte na sua essência,
Tocadas do mistério africano.
Sua linguagem é toda nossa:
Não a percebe quem nos ignora,
Não comove a quem não comove

O nosso drama, que é noite e aurora.

Não conhece quem não conhece
O seu murmúrio, que é nosso pranto
Sua revolta, nosso protesto,
- nossas vozes semelham-se tanto!

O seu silêncio tão resignado
Cheio de unção, de paz e perdão,
Lembra o olhar manso do desgraçado
Levado longe dos seus queridos.

A sua espuma, essa branca espuma,
vem-lhe da graça, vem da inocência,
de mil crianças de tez escura,
de olhar de luz, sem concupiscência.

Cheio de graça, cheio de força,
como se agita o mar africano!
Negro e feroz está a lembrar
braços hercúleos, trabalho insano.

Mar africano,
não te conhece quem não conhece
a alma africana,
que o mar e a terra irmana:
Num só abraço fazendo um
o longe e o perto, a dor e a esperança,
tal como o riso e o choro em criança.



Dom Alexandre do Nascimento