Poesia























Ai deixa, deixa lá que a Poesia
no perfume das flores, no quebrar
das ondas pela praia,
na alegria
das crianças que riem sem porquê
— deixa-a lá que se exprima, a Poesia.

Fica sentado aí onde estás, Poeta,
e não mexas os lábios nem os braços:
deixa-a viver em si;
não tentes segurá-la nos teus braços,
não pretendas vesti-la com palavras...

Se a queres ter,
se a queres sempre ver pairando à flor das coisas, fica aí
no teu cantinho, e nem respires, Poeta, e não te bulas,
p’ra que ela não dê por ti.

Não a faças fugir, toda assustada
Com a tua presença...
Deixa-a, nua, pairando à flor das coisas
que ela não sabe que a viste,
nem sabe que está nua,
nem sequer sabe que existe...



Sebastião da Gama