Do romantismo… ao Chico-espertismo













Os primeiros anos do século passado de Ligas e campeonatos de Portugal terão sido, provavelmente, no amadorismo então reinante os únicos em que, competitivamente, o desfecho deverá ter sido mais transparente.
Era ainda prevalecente, no comum dos mortais, a ideia de que “ganhar ou perder era desporto”… e boa parte do pagamento aos intervenientes era feito por bebidas e sanduíches.
Este saudável e incipiente amadorismo deu origem ás conversas irónicas e brejeiras que alimentavam épocas inteiras pelos cafés deste país, autênticas extensões dos precários estádios de futebol.
As provas eram, por falta de competitividade e organização, discutidos a três competidores e meio e decididos basicamente por dois dos contendores.
Este clima foi alimentado pelo poder político de modo a evitar que usássemos a cabeça para pensar no que não devíamos.

Desta fase passou-se ao chico-espertismo nacional que conduziu, desde os anos 40 a ciclos bem definidos de dominação do sistema…
Primeiro o Sporting, em seguida o Benfica a quem através de sucessivos «chitos» dos 4 Pintos, como bem se recordarão, tomaram de assalto o poder na Praça da Alegria, entregando-o ao Porto.
Repare-se que a deriva foi (é) tão grande que, para contrapor ao poder discricionário obtido, os maiores clubes de Lisboa tiveram presidentes que se destacaram pela capacidade de cometer iguais ou maiores trafulhices… Jorge Gonçalves exilou-se em Luanda e Vale e Azevedo no EPL.
Uma alegria…

A gozação e o brejeirismo cedeu o lugar ao mais puro fanatismo, ao facciosismo, á profissionalização da arruaça, ás intimidações, ao poder dos gangues a quem eufemisticamente se chamam claques…e que na pátria do futebol, sem papas na língua, não passam de, sem apelo nem agravo, hooligans - um conjunto de arruaceiros organizados que são reprimidos, controlados e condenados quer judicialmente quer socialmente.
Os corredores passaram a estar povoados de “bobbies, tarecos e abéis” de todas as cores e em todos os locais…

Organizativamente, nos clubes, conforme se desenvolveu o mercado e profissionalizou a prospecção de jogadores, com base em parâmetros de produtividade, de personalidade e de talento… verifica-se igual desenvolvimento na identificação e catalogação dos intervenientes de modo a aferir fraquezas e forças que poderão ser exploradas em beneficio de uns, prejuízo de outros e… vergonha de todos.

Mas, verdade se diga… ladrão não é o que rouba, mas sim o que é apanhado.