chamei-lhe amiga

























Aquela rapariga de olhar triste...
Olhei-lhe os olhos
e vi que eram como os meus.
Olhei-lhe as mãos
e vi que eram como as minhas.
Sorriu
e vi que os dentes eram brancos como os meus.
Debrucei-me sobre a sua alma
ansioso
como quem se debruça da amurada de uma navio
para ver o mar.


E vi que era imensa
e livre
como o voo das águias.
Chamei-lhe amiga.


O semblante encheu-se-lhe de súbita alegria
e respondeu-me: "amigo!"
Entre nós só havia duas diferenças:
o sexo e a cor da pele.


Vasco Cabral
in A Luta é a Minha Primavera