Pedras no caminho??




















Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...


Fernando Pessoa

Amar-te no mar






















sou coral, calor

apareço nos mares em avermelhado e luz
e tua aura, em verde e azul,
turquesa

cor de pedra sagrada,
és a água limpa e calma onde me banho,
coral, gata,

que quer tua luz serena
para ser sorte e pedra d’água

em espontânea coragem e comunicação etérea
de palavras, sons, imagens,

respirar-te



Cristiane Grando

Casulo





















Viver em silêncio. Doce silêncio.
Ruído nenhum. Nem luz, nem sombra.
Só a brisa do tempo.
Olhos fechados, assim como o corpo.
Silêncio sem movimento.
Sem fome, sem sede. Sem ninguém que abale meu terno silêncio.
Doce silêncio, doce sono, só sonhos...
Sonhos de um sono só.
Sozinha em minha cama, eu: pós lagarta, pré borboleta



Pam Orbacam

Quando eu não te tinha

























Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.



Alberto Caeiro
Escrito em 6-7-1914

Canção do exílio

























Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
Respirando este ar;
Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo
Os gozos do meu lar!

O país estrangeiro mais belezas
Do que a pátria, não tem;
E este mundo não vale um só dos beijos
Tão doces duma mãe!

Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor de rosa que passava
Correndo lá do sul!

Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!

Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!

Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!

Minha campa será entre as mangueiras
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranqüilo
À sombra do meu lar!

As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!

Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! não seja já
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!



Casimiro de Abreu
Lisboa — 1857

Aceita o universo

























Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.

Se há outras matérias e outros mundos
Haja.



Alberto Caeiro

O génio de... Salvador Dali


São Tomé


























"Juste quelques photos de Sao Tome, petite ile indépendante africaine au large du Gabon sur l'équateur.
Très peu de visiteurs, de paysages luxuriant et une population très accueillante qui ne demande qu'à faire découvrir ces iles..."

Fotos e texto daqui, a merecer uma visita.

Dia Internacional da Mulher























Elas brigam por aquilo em que acreditam
Elas levantam-se para a injustiça
Elas não levam não como resposta
Quando acreditam que existe melhor solução


Pablo Neruda

Para uma jovem negra de calcanhar róseo


























No céu primitivo erguem-se imaculados os cantos dos pássaros
e o fresco cheiro da erva ágil com eles se ergue, Abril.
Ouço o respirar profundo da madrugada movendo as nuvens
brancas dos cortinados
e escuto a canção do sol nos taipais das janelas
melodiosas.
Sinto como que um hálito ou uma recordação de Naett
na minha nuca apaixonada e nua
E o meu sangue cúmplice, a despeito de mim, chocalha-me
nas veias.
És tu, minha amiga – ô! Escuta os suspiros escuta
os quentes suspiros neste Abril dum continente novo
Oh escuta, enquanto deslizam, no gelado azul, as asas
das andorinhas migratória
se não te esqueça ouvir o murmúrio negro e branco das aves
de arribação
horizontais no extremo das suas velas desdobradas.

Escuta a mensagem da Primavera duma outra idade, dum outro
mundo
Escuta a mensagem da África longínqua e velha e a canção do
teu sangue
Pois eu estou ouvindo a seiva de Abril que nas tuas veias

cantando me desafia.



Leopold Sédar Senghor

Conheci-te


























Conheci-te
Longe de Moji
Porque te espero
não me separo de Moji
nem pelo mar
não deixarei Moji
nem pelo sono
não esquecerei Moji
nem pelo tempo
sem ter estado em Moji
em tempo algum
Encontro Moji
em cada espuma
vejo Moji
em cada grão de areia
porque te vejo Moji
o tempo todo

Se o tempo o sonho o mar
te confundem com Moji
como pode o coração
a distância e a saudade
deixar de ver Moji
na tua ausência?

Se te recordo nome de Moji
Moji de pele veludo
Moji boca de luar
Moji do breve encontro
Moji tão distante de Moji?

Não. Não quero mais
já não preciso
viajar até Moji
conhecer Moji!

Moji és tu e o teu beijo.



Costa Andrade

Clandestino