A flor
























Foto de Angola em fotos



Meu tão doce amor de mais ninguém,
Imaginado neste deserto
Destes dias, como único bem
Do caminhante que segue incerto

– Onde o meu distante oásis te tem
Tão escondida, se foi desperto
Que sempre andei nesta vida sem
Nunca o encontrar para mim aberto?!...

Meu tão doce amor de mais ninguém,
Construí-te na dura memória
Como flor mais rara que se tem,

Como a flor mais doce e mais madura,
Que jamais alguém um dia viu,
Mas só amargura em mim floriu!...



António Cardoso

Solidariedade
























O Jumento para ser um dos melhores blogs em português não precisava da "ajuda" de uns quantos idiotas que terão reportado ao blogger ser o palheiro um local impróprio onde os leitores deverão entrar sob reserva, por sua conta e risco!

Inenarrável!

Mas não há que espantar... Povoaonline teve que ficar off, Portugal profundo teve tentativa de afundamento, um outro blog de Pombal (já não me recordo o nome) foi ameaçado...e esteve fechado.

Ou muito me engano ou, com a agitação populista e demagógica que se aproxima haverá mais episódios semelhantes.

Nada de espantoso, porém.
Esta, como se sabe é a arma dos fracos e dos que, sem outros argumentos, optam pela tentativa de silenciamento.

Estas tentativas estão, infelizmente, em linha com todos aqueles que acharam que os melhores portugueses de sempre foram, nem mais nem menos, Salazar e Cunhal.

Eloquente!

Pela minha parte continuarei a ser leitor solidário e assíduo de "O Jumento" e de todos quantos, no Portugal do século XXI sofram censura, independentemente de concordar ou não com o que escrevem.

Estratagema



















Tudo o que se come tem sabor a vómito
Aqui tudo é tão estranho
Que até o preço da utopia
Vem disfarçado nos noticiários da televisão

E quantos lábios confessam solidariedade?
Oh! Que penoso calote.



Sapyruka

Fala baixo coração




















Ela vinha toda mar
deixava em minha praia
seus vestidos seus perfumes
as algas dos seus pés.

Foi quando a criança
que mora em mim
ainda saía a passear
pelas ruas então estradas
todas cheias de brinquedos
das minhas vãs certezas.

Hoje tudo aquilo já passou
dizem até que ela morreu
vejam só tanta volta
o mundo deu
Agora o amor
só de velhas fantasias
se traja.

Dessas coisas pequenas
que mais parecem contos de fadas
fala baixo coração
Não vá forte tua voz
acordar
o que há muito adormeceu.



Rui Augusto

Os brancos daqui



















Foto de Jorge Alves em Akoka em Cabo Verde - Ilha do Sal




Os brancos daqui
são mais modestos que os pretos:
os pretos chamam-se pretos,
os brancos chamam-lhe gente daqui,
e aqui...
há brancos e pretos...



António Pedro

O que importa
























O que importa se te vais,
se ficaras sempre dentro de mim,
o que importa se este oceano que é a vida seja longo,
se mais longo consegue ser o meu amor por ti,
o que importa se esse oceano um dia te tenha roubado,
se um dia uma gota em mim tenha deixado,
a minha sede tenha matado,
bebi algo puro e belo,
que importa se esse oceano me haja abandonado,
e a minha gota houvesse levado,
mas se esse gosto em mim tenha ficado cravado.



Sónia Sultuane

Minha terra meu sitio



















Sempre que percorrer o mundo
saberei onde é o meu berço
o onde foi o primeiro abraço
com vento que me viu chegar
a luz do meu habitar
no dia que, desta mãe passei a ser filho

Assim tenho no sangue corrente dos rios
que circulam nesta terra
e dão a minha vida uma cultura
abrindo-me no horizonte novos andarios

Foi aqui o meu princípio
e mesmo que aqui não for o meu fim
os últimos instantes de mim
trarão na mente o postal do meu real sitio



Poetamenor

Zungueira
























Foto de Angola em Fotos, permanente fonte de inspiração.





Deambula nas ruas da vida
Enrolada de outra vida nas costas
Carregada de um sacrifício
Em busca da continuidade
Daquele ser que lhe consome forças
Daqueles que esperam desta sacrificada

Sem nada, senão nada para sobreviver
Sem vida, senão vida para respirar
Sem sonho, senão sonho
Sem estrada, senão estrada que faz seus dias

Tem sentimento, é forte e bela
Tem alegria no rosto, chora na alma
Tem no coração lágrimas em dor
Deste árduo destino

Não vê a beleza de um dia lindo
Vê apenas trajectória do seu dia
Quero apenas seu pão em dia




Ppoetamenor

Poemas ao sol




















Poema II


O sol da minha terra
o seu tamanho
entra em todos os olhos
mesmo nas fundas cacimbas sem futuro
é a única oferta

O sol da minha terra
o seu calor
arde em todos os peitos
aquele fogo lento das massuíkas
é o único alimento

O sol da minha terra
acende em todas as coisas
as cores do céu folhas musseque
é a única pureza.

O sol da minha terra
por vezes é também
um relâmpago ao meio dia
e queima as sombras dos homens.

O sol da minha terra!

O sol da minha terra!




Arnaldo Santos

Talismã perdido

























“dói-me a vida

já não vejo os meus olhos
sorrindo palavras molhadas
aos meus sonhos fechados em mãos

já não tenho ruas
para deambular os sonhos
que dos meus heróis herdei

pois
mesmo alucinada
a solidão já não tem futuro
a paixão já não tem destino
a evasão já não tem lógica

só me resta sorrir
d‘espanto


Jimmy Rufino

Coqueiros e palmares da Terra Natal



















Foto de António Ferreira de Sousa em Caminhadas e Descoberta em STP




Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
saturada do calor ardente
Mas faminta de irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras



Alda Espírito Santo

HAPPY BIRTHDAY MR. MANDELA





















Quis o amigo Namibiano Ferreira presentear-me com o belíssimo poema que deixou como comentário a este post.
Publicou-o igualmente no seu magnífico
Poesia de Namibiano Ferreira.
Ainda assim não poderia deixar de o partilhar por todos quantos por aqui passam.
Obrigado.

Obrigado a Nelson Rolihlahla Mandela pelo extraordinário exemplo de homem e de político.




Happy birthday, Mr. Mandela


Manda a Liberdade
que eu te cante
HOMEM entre os homens,
imortal!
Hoje, nos céus, riscaram os Deuses,
a Constelação da igualdade, paz,
perdão e liberdade:
Constelação Mandela
Constelação nova
do mundo que tu sonhas
bailando luz de savana
na brisa do teu riso…


Mandela, manda a Liberdade
que eu te cante…
mas perdoa a brandura do meu brado!


Mandela, na tua alma
ondula a savana loura;
na tua coragem
o rugido do leão;
nos teus olhos
a docilidade da gazela;
no teu sorriso
o sol da Igualdade.


Salvé, filho ungido da Liberdade!
Salvé, HOMEM entre homens,
imortal!
És o verdadeiro Prometeu africano!
Parabéns Mr. Mandela!
Hoje, nos céus, riscaram os Deuses
a Constelação nova
a Constelação Mandela
a única que viaja no céu dos Hemisférios…




King’s Lynn, 18/07/2008

Namibiano Ferreira

3 dimensões

























Na cabina
o deus da máquina
de boné e ganga
tem na mão o segredo das bielas.

Na carruagem
o deus da primeira classe
arquitecta projectos no ar condicionado.

E no ramal
- pés espalmados no aço dos carris -
rebenta pulmões o deus
negro da zorra.



José Craveirinha

Parabéns
























Nelson Mandela
Exemplo para Africa e para o mundo.
Parabéns pelos 90 anos!

A renúncia impossível




















Negação


Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser

Quero destruir-me
atirar-me de pontes elevadas
e deixar-me despedaçar
sobre as pedras duras das calçadas

Pulverizar o meu ser
desaparecer
não deixar sequer traço de passagem
pelo mundo

quero que o não-eu
se aposse de mim

Mais do que um simples suicídio
Quero que esta minha morte
seja uma verdadeira novidade histórica
um desaparecimento total
até mesmo nos cérebros
daqueles que me odeiam
até mesmo no tempo
e se processe a História
e o mundo continue
como se eu nunca tivesse existido
como se nenhuma obra tivesse produzido
como se nada tivesse influenciado na vida
se em vez de valor negativo
eu fosse zero

Quero ascender
elevar-me até atingir o Zero
e desaparecer

Deixai-me desaparecer!

Mas antes vou gritar
Com toda a força dos meus pulmões
Para que o mundo oiça:

- Fui eu quem renunciou a Vida!
Podeis continuar a ocupar o meu lugar
Vós os que mo roubastes

Aí tendes o mundo todo para vós
para mim nada quero
nem riqueza nem pobreza
nem alegria nem tristeza
nem vida nem morte
nada

Não sou Nunca fui
Renuncio-me
Atingi o Zero

E agora
vivei cantai chorai
casai-vos matai-vos embriagai-vos
dai esmolas aos pobres
Nada me pode interessar
que eu não sou
Atingi o Zero

Não contem comigo
para vos servir as refeições
nem para cavar os diamantes
que vossas mulheres irão ostentar em salões
nem para cuidar das vossas plantações
de algodão e café
não contem com amas
para amamentar os vossos filhos sifilíticos
não contem com operários
de segunda categoria
para fazer o trabalho de que vos orgulhais
nem com soldados inconscientes
para gritar com o estômago vazio
vivas ao vosso trabalho de civilização
nem com lacaios
para vos tirarem os sapatos
de madrugada
quando regressardes de orgias noturnas
nem com pretos medrosos
para vos oferecer vacas
e vender milho a tostão
nem com corpos de mulheres
para vos alimentar de prazeres
nos ócios da vossa abundância imoral

Não contem comigo
Renuncio-me
Eu atngi o Zero

E agora podeis queimar
os letreiros medrosos
que às portas de bares hotéis e recintos públicos
gritam o vosso egoismo
nas frases “SÓ PARA BRANCOS” ou COLOURED MEN ONLY”
Negros aqui brancos acolá

E agora podeis acabar
com os miseráveis bairros de negros
que vos atrapalham a vaidade
Vivei satisfeitos sem colour lines
sem terdes que dizer aos frequeses negros
que os hotéis estão abarrotados
que não há mais mesas nos restaurantes
Banhai-vos descansados
nas vossas praias e piscinas
que nunca houve negros no mundo
que sujassem as águas
ou os vossos nojentos preconceitos
com a sua escura presença

Dissolvei o Ku-Klux-Klan
que já não há negros para linchar!

Porque hesitais agora!
ao menos tendes oportunidade
para proclamardes democracias
com sinceridade

Podeis inventar uma nova história
inclusivamente podeis inventar uma nova mística
direis por exemplo: No princípio nós criamos o mundo
Tudo foi feito por NÓS
E isso nada me interessa

Ah!
que satisfação eu sinto
por ver-vos alegres no vosso orgulho
e loucos na vossa mania de superioridade

Nunca houve negros!
A África foi construida só por vós
A América foi colonizada só por vós
A Europa não conhece civilizações africanas
Nunca houve beijos de negros sobre faces brancas
nem um negro foi linchado
nunca matastes pretos a golpes de cavalomarinho
para lhes possuirdes as mulheres
nunca estorquistes propriedades a pretos
não tendes nunca tivestes filhos com sangue negro
ó racistas de desbragada lubricidade

Fartai-vos agora dentro da moral!

Que satisfação eu sinto
por não terdes que falsear os padrões morais
para salvaguardar
o prestígio a superioridade e o estômago
dos vossos filhos

Ah!
O meu suicídio é uma novidade histórica
é um sádico prazer
de ver-vos bem instalados no vosso mundo
sem necessidade de jogos falsos

Eu elevado até o Zero
eu transformado no Nada-histórico
eu no início dos tempos
eu-Nada a confundir-me com vós-Tudo
sou o verdadeiro Cristo da Humanidade!

Não há nas ruas de Luanda
negros descalços e sujos
a pôr nódoas nas vossas falsidades de colonização

Em Lourenço Marques
em New York em Leopoldville
em Cape Town
gritam pelas ruas
fogueteando alegrias nos ares

- Não há negros nas ruas!
Nunca houve
Não há negros preguiçosos
a deixar os campos por cultivar
e renitentes à escravização
já não há negros para roubar
Toda a riqueza representa agora o suor do rosto
e o suor do rosto é a poesia da vida
Viva a poesia da vida!
Viva!

Não existe música negra
Nunca houve batuques nas florestas do Congo
Quem falou em spirituals?
Os salões enchem-se de Debussy Strauss Korsakoff
que não há selvagens na terra
Viva a civilização dos homens superiores
sem manchas negróides a perturbar-lhe a estética!
Viva!

Nunca houve descobrimentos
a África foi criada com o mundo

O que é a colonização?
O que são os massacres de negros?
O que são os esbulhos de propriedade?
Coisas que ninguém conhece

A história está errada
Nunca houve escravatura
Nunca houve domínio de minorias
orgulhosas da sua força

Acabei com as cruzadas religiosas
A fé está espalhada por todo o mundo
sobre a terra só há cristãos
VÓS sois todos cristãos

Não há infiéis por converter
Escusais de imaginar mais infidelidades religiosas
para justificar
repugnantes actos de barbarismo

Não necessitais enviar mais missionários
a África
nem nos bairros de negros
Nunca houve mahamba
nem concepções religiosas diferentes
nunca houve religiosos a auxiliar a ocupação militar

Acabai com os missionários
os seus sofismas
os seus milagres
inventados para justificar ambições e vaidades

Possuis tudo TUDO
e sois todos irmãos

Continuai com os vossos sistemas políticos
ditaduras democráticas
isso é convosco
Explorai o proletariado
matai-vos uns aos outros
lutai pela glória
lutai pelo poder
criai minorias fortes
apadrinhai os afilhados dos vossos amigos
criai mais castas
aburguesai as ideias
e tudo sem a complicação
de verdes intrusos
imiscuir-se na vossa querida
e defendida civilização de homens
privilegiados

E agora
homens irmãos
daí-vos as mãos
gritai a vossa alegria de serdes sós
SÓS!
únicos habitantes da terra

Eu artingi o Zero

Isto significa extraordinariamente a vossa ética
Ao menos
não percais a ocasião para serdes honestos

Se houver terramotos
calamidades cheias ou epidemias
ou terras a defender da evasão das águas
ou motores parados em lamas africanas
raios vos partam!
já não tereis de chamar-me
para acudir as vossas desgraças
para reparar os vossos desastres
ou para carregar com a culpa das vossas incúrias
Ide para o diabo!

Eu não existo
Palavra de honra que nunca existi
Atingi o Zero
o Nada

Abençoada a hora
do meu super-suicídio
para vós
homens que construís sistemas morais
para enquadrar imoralidades

O sol brilha só para vós
a lua reflecte luz só para vós
nunca houve esclavagistas
nem massacres
nem ocupações da África

Como até a história
se transforma num tratado de moral
sem necessidade de arranjos apressados!

Os pretos dos cais não existem
Nunca foram ouvidos cantos dolentes
misturados com a chiadeira do guindaste
Nunca pisaram os caminhos do mato
carregadores com sem quilos às costas
são os motores que se queimam sob as cargas

Ó pretos submissos humildes ou tímidos
sem lugar nas cidades
ou nos escaninhos da honestidade
ou nos recantos da força
dançarinos com a alma poisada no sinal menos
polígamos declarados
dançarinos de batuques sensuais
Sabeis que subistes todos de valor
atingistes o Zero sois Nada
e salvastes o homem

Acabou-se o ódio
e o trabalho de civilização
e a náusea de ver meninos negros
sentados na escola
ao lado de meninos de olhos azuis
e as extorções e compulsões
e as palmatoadas e torturas
para obrigar inocentes a confessar crimes
e medos de revolta
e as complicadas demarches políticas
para iludir as almas simples

Acabaram-se as complicações sociais!

Atingi o Zero
Cheguei à hora do início do mundo
e resolvi não existir

Cheguei ao Zero-Espaço
ao Nada-Tempo
ao eu coincidente com vós-Tudo

E o que é mais importante:
Salvei o mundo!




Agostinho Neto
(1949)

Prémio Dardos
















Recebi da parte do amigo Namibiano Ferreira do excelente "Poesia Angolana" a menção (honrosa) para este "Prémio Dardos".
Obrigado Namibiano.


“Con el Premio Dardos se reconocen los valores que cada blogger muestra cada día en su empeño por transmitir valores culturales, éticos, literarios, personalesl, etc.., que en suma, demuestran su creatividad a través del pensamiento vivo que está y permanece intacto entre sus letras, entre sus palabras rotas.”


O “Premio Dardos” tem regras a seguir:

1. Ao aceitá-lo passa a ter-se direito a exibir o selo de distinção;
2. Indicar com ligação o blog de que se recebeu o galardão.
3. Eleger quinze blogs a quem se outorga o "Prémio Dardos" (talvez seja esta a parte
mais difícil)


A minha escolha recai sobre os blogs que indico:

- Malambas (Eugenio Costa Almeida)

- Mulembeira (Decio B. Mateus)

- Pululu (Eugenio Costa Almeida)

- Á Sombra dos Palmares

- África de todos os sonhos (Brígida Rocha Brito)

- Koluki

- Jumento

- In the meadow (Silvia Chueire)

- Mudança de ventos (Márcia Maia)

- Raim's Blog

- Os 2 pilares da criação

- Nimbypolis (Nilson Barcelli)

- Angola em Fotos

- Poesia Angolana (Namibiano Ferreira)

- Hukalile (Feliciano Cangue)

São Salvador / M'banza Congo






I celebrate the glorious past of the kingdom of Kongo.
A paradise that thrived in the XV century in the heart of Africa....
I cry for my people who were taken across the big river on a journey of no return....
And I pay homage to the brave warriors who fought to liberate my homeland
São Salvador.



Eu vou celebrando
Através do meu canto
A história gloriosa
Do reino do Kongo

Eu vou celebrando
Através do meu canto
A história romantica
Do reino do Kongo

Era um paraíso
Que próspero no século quinze
Situado em uma região formoza
No coração da Africa

Oh Mbanza Kongo
São Salvador querido
Oh Mbanza Kongo
Es meu paraíso

São Salvador
Kongo dia Ntotila
Eh Mbanza Kongo
Mbanza velela

Hoje presto homenagem
Aos guerreiros valentes
Que lutaram para libertar
A minha terra São Salvador

Que lutaram para libertar
A nossa terra Mbanza Kongo

Pátria querida
Através dos anos
Você passou por tantas tragedias
Seus filhos foram capturados
E vendidos como escravos

Hoje choro
Choro por mi'a gentes
Que foi levada
Para o outro lado do grande río
Em uma viagem sem volta

Separada de sua familia e sua terra
Mas a pezar de tudo
Nosso espirito nunca morreu
Santa Beatriz Kimpa Vita
Escutamos sua voz


Ricardo Lemvo

Raízes...



















O sangue rubro que corre em minhas veias
É herança das velhas gerações africanas,
Negróides tribos habitantes das aldeias
Das planícies togolesas e quenianas.

Há no meu olhar, que as vezes se inflama,
No pranto oculto que minh'alma chora,
A mesma dor que aflige meu irmão de Gana,
O mesmo sonho do meu irmão de Angola.

África! Terra mãe dos meus ancestrais,
Berço que embalou os sonhos dos meus pais
Onde, um dia, viveram livres e felizes...

A ti meu eterno preito de gratidão,
Pois, nas profundezas do teu negro chão,
Estão fincadas as minhas negras raízes!...




Agenor Martinho Correa
In "Para onde caminha a Humanidade"

A cidade negra























Foto de Dinis Manuel Alves






Os hipócritas dormem
No percurso que a memória lhes dá
A paz tardia por que outros morreram.
Os chulos na convicção do serviço público
Amam a perdição alheia
Para sujar serve a casa do vizinho.
Os ricos vesgos de ambição exibem-se
Exultantes com a escuridão geral
Que lhes permite o ganho.

Há na cidade
Homens negros
Passados negros
Cânticos negros
Beijos negros

Os Estúpidos renegam o seu passado pobre
Para a nova condição só sem passado
Os políticos mortinhos pelo noticiário seguinte
Habitam os palanques pregando a palavra amiga

Há na cidade
Vidas negras
Casas negras



Ismael Mateus

Canção do crepúsculo





















morrem
na paleta do sol no ocaso
os derradeiros tons

ao raiar da aurora
floresce a luta

e o amor renasce



Jofre Rocha

Quando eu morrer
























Foto de Eddi Shtern, via "O Jumento"


quando eu morrer
veste o teu vestido branco
e com uma rosa encarnada
vai encharcar-te de mar

bebe vento em cada gota
do encanto do dia a chegar
e entende as palavras todas
que te entrego som a som
na fúria verde do gesto
de um mirangolo qualquer

corre o círculo dos sorrisos
na firmeza da partida
e esquece o medo das nuvens
que abraçam a nossa distância

e se ao longe me vires a acenar
ri-te do louco que eu sou
por ainda pensar em ti

toda vestida de branco
desfolha a rosa encarnada
escreve o meu nome na praia
e vai encharcar-te de mar



João Abel