Adultério Literário



















Alguém me disse que pareço mais velho
Sinceramente acho que sim
Fui envelhecido pelas muitas vidas que vivi
Já fui viajante, religioso,
Revolucionário, músico,
Louco... e até trabalhador.


Hoje sou poeta, faço versos
Uso as palavras
Sou possuído por elas
Tomam-me de assalto
E quando percebo, escrevo
Saem de mim correndo
Para encontrarem seu papel
São como as espumas
Que o mar não consegue esconder,
Brotam, esbravejam, quebram


Tenho um caso de amor com as palavras
Um romance secreto, adultério
São minhas amantes caladas
E me cobram encontros noturnos
Na calada da noite, na praia...
E eu vou, contestando a moral
Ao encontro fugaz dessas doidas
Que me enchem a mente arredia
Fazendo de mim refém
Se não escrevo, maltratam-me
Pois não saem da cabeça


Tenho que escreve-las, me ordenam
Dominam-me, como na cama
Domina a mulher sorrateira
Enlouquecem-me até que de gozo
Chego a explodir muitas delas
Prazer, choro, alívio
Elas já não me aprisionam
Agora me deixam livre...
Livre ???


Daqui a pouco começa tudo de novo...




José Barbosa Júnior