Quem muito viu
segunda-feira, outubro 15, 2007
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjtncXreZZwPMRqMW2gtLh0ue0y8c5jPbHl1KrMLK76ogA0dIFO1hckGoNlYuLGdL33Kj0LvPs0EYeC9fo09IwekROaOXptasETQocUCjO6YVe5Q3wqqrhXlCnJ7ILzePHld0gE4A/s320/AH-010d.jpg)
Quem muito viu, sofreu, passou trabalhos,
mágoas, humilhações, tristes surpresas,
e foi traído, e foi roubado, e foi
privado em extremo da justiça justa;
e andou terras e gentes, conheceu
o mundo e submundos; e viveu
dentro de si o amor de ter criado;
quem tudo leu e amou, quem tudo foi
não sabe nada, nem triunfar lhe cabe
em sorte como todos os que vivem.
Apenas não viver lhe dava tudo.
Inquieto e franco, altivo e carinhoso,
será sempre sem pátria. E a própria morte,
quando o buscar, há-de encontrá-lo morto.
Jorge de Sena
in "Poesia", Vol III