Aos que virão depois de nós
terça-feira, novembro 20, 2007
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Z-61Ng7xhyKx9hlI31n11YMpM5qem_WhFJgmcoW_hfOW-dlAUuoLMUokgTFb0sY1M3u-1_Hd2APSSf1k7-is8lpiVRgREogjvIOrfjx3-wFj94n1qUhy0kCp2u_WErKGALBrLA/s320/b14_jpg.jpg)
I
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranquilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Bertold Brecht