Tão grande dor
domingo, janeiro 31, 2010
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv-zSkwhVUYGLKxYbXUvooE10z4X7wgp4DlX8r2ZEonBR7EiMlb4Av7rFVafyuJeTvU_LqVpmenBi3RZUanypkiWVHTbwHDh-rt196Z2omkv-ESgCs1a7vhbtrJcVVqrnYrXEj/s320/Santa+Cruz+229.jpg)
"Tão grande dor para tão pequeno povo"
Timor fragilíssimo e distante
«Sândalo flor búfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais»
Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Ruy Cinatti
Sentado no chão
Naquela noite em que voltara da viagem
Timor
Dever que não foi cumprido e que por isso dói
Depois vieram notícias desgarradas
Raras e confusas
Violência mortes crueldade
E ano após ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia - espanto prodígio assombro -
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha
Timor cercado por um muro de silêncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre tão falado
Porque não era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado
O cerco da surdez dos consumistas
Tão cheios de jornais e de notícias
Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silêncio
Irromperam nos écrans e os surdos viram
A evidência nua das imagens
Sofia de Mello Braeyner Adresen