domingo, outubro 09, 2011
Cacusso
Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.
Eugénio de Andrade in "As Palavras Interditas"
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domingo, outubro 09, 2011
Cacusso
Gosto de falar de Amor como quem fala das coisas simples da Vida...
Gosto de falar de Amor assim, de forma natural...
Não sei fazer versos bonitos, rebuscados, rimas perfeitas, isso eu não sei...
Mas sei falar de Amor com a simplicidade de quem senta à mesa da cozinha para conversar e tomar uma xícara de chá com torradas ou de quem olha pela varanda agradecendo à Natureza pelo pôr-do-sol...
Simples assim... e tão belo, e tão sincero, como as coisas realmente importantes da vida!
Gosto de falar de Amor e das coisas do cotidiano...
Porque é nelas que eu encontro a grandeza e a felicidade que a Vida me proporciona...
Gestos simples, frases simples...
Um beijo, um olhar, um carinho, uma palavra de afeto, uma atenção em um momento inesperado...
Estes sim, Gestos pequenos e, no entanto, Grandes atitudes...
Gosto...
Simplesmente porque é assim que eu Sei de Falar de Amor...
Carmem L Vilanova
sábado, outubro 08, 2011
Cacusso
nuvem galáctica que se dissipa no espaço
se condensa
perde a aura difusa
ganha forma
e se oferece para a vida
silhueta que emerge do horizonte
se define
transforma e muda
a essência da paisagem
miragem materializada
multidão indistinta
com vida mas indefinida
de onde rompes resoluta
fénix renascida
dádiva divina
palavras dedilhadas
de um lugar indistinto
palavras que encontraram palavras
grito de revolta e pedido de socorro
solidão e esperança
intenso e idílico encontro
sentenciado por tantâlico suplicio
apenas a marcha do tempo
a verdade e a resistência
á rudeza do caminho
os libertarão do sofrimento
para o amor
assim foi
assim será
Cacusso