Apelo de Mbanza Congo

Vamos todos ajudar!

Grande trabalho fizeram e fazem os padres capuchinhos em Mbanza Congo!
Para continuarem a fazer necessitam ajuda.

Vamos a isto!

Grandes professores e grandes homens ali estiveram e ali formaram.
Foram meus professores os Padres Fabiano e Fabio.
Não os esqueci.

A minha velha cortina




















Na janela do meu quarto
desbotada pende a velha cortina.

No seu humor a cortina
exibe-me os fulgores da sua ironia.

A quem olha de fora
a minha velha cortina
ilude.




José Craveirinha
In “Maria”

Ali Farka Touré

Pas de deux

























Fecho a porta e as janelas,
a casa se foi.
eu vou,
leve como quem já conhece o amor,
Nenhum pássaro sabe como é voar com os pés no chão,
eu sei.




Gabriela Marcondes

Después, casi al despertar



















Foto de Rui Romão



Para José Watanabe



La muerte es muerte,
y lo sabe el que oficia la misa,
y el niño agnóstico,
y el profesor en el rincón del aula;
y lo saben las madres que vende olores en el mercado,
y los gallinazos con sus picos manchados.

El patrón se escapó de casa, una mañana,
enamorado tras su sombra;
orillando a sus criados
a artísticas labores celestes.
Y, jamás sabrá la nube lo hermosa que es
cuando se deforma.
Y, si ponen algo de sudor sobre una piedra caliente,
ésta olvidará de inmediato su sacrificio.

El número tres es el tres,
y un ave suele ser un ave,
y la muerte es la muerte,
y la inmensidad es muerte,
y el grito es muerte,
y el llanto es muerte,
y el fruto en la lluvia es muerte,
y la vida bajo de un plástico es muerte,
y la soledad en el anuncio es muerte,
y el equilibrio en un fósforo es muerte,
y la rabia es muerte,
y la ternura sobre un vidrio es muerte,
y la felicidad en un segundo es muerte,
y la indignación en un músculo es muerte,
y la palabra en los ojos es muerte,
y el tocadiscos es muerte,
y la comadrona en su ley es muerte,
y la mirada de una canción es muerte,
y el verano es muerte,
y el ladrido de los perros es muerte,
y la hoja en el cemento es muerte,
y el gusano en el avión es muerte,
y la muerte es cambio,
y el cambio es vida.
Y la vida es vida al cuadrado.




Alan Ybrahim Luna Rodríguez
























A morte da música pode ser lisa entre o início de um verão
e a direção que faz o silêncio. A surdez levanta a imagem
que a sombra distraidamente enterrara a cinco
palmos do chão. Para o coração se salvam as gaivotas
que levaram os mares para bem perto do sol que se despe
com o jeito das mulheres. A cicatriz é delicada
como se tivéssemos que olhar para a memória
com uma outra escolha astúcia. Hesita-se mas sabemos
que no ombro se fazem as glórias muito breves
e à deriva do coração. Cada erro persegue o espírito
que faz o teatro dourar mais que uma lágrima, um longo
cenário acaba por disfarçar-nos perante
o que nunca fomos. Faz-se um corte no dedo indicador
quando se perde a aurora para que a terra
fique mais perto da insónia. Vemos o abandono da juventude
vindo agora de nós uma interpretação
sem chamas. Por isso as palavras vão compondo
numa só estrofe o que a vida mesmo atenta não pode
consagrar.



Adriano Botelho de Vasconcellos

Solidão
























Minhas mãos rugosas
Dormindo as insónias
Da tua ausência
Descrevem o Inverno
Catalisando o tempo
Na esperança do teu regresso

Este dia
Será mais um
E amanhã o outro

Todos são dias de solidão



Cecília Ndanhakukua

Poema setenta e seis






















Hoje
acordado,
às tantas da madrugada
vi-te chegar.
Eram lentos teus passos
mas segredavas-me como sempre
tua calma
teu sorriso bonito
teu olhar sereno
(às vezes de um brilho triste).

Pouco depois
contornada a estante
explicavas-me então
toda a imensa verdade da doçura
perdida
esquecida
esganada
no justo momento do adeus.

Tenho comigo
a lupa
a fotografia em versalhes
os livros do carlos de oliveira
os discos proibidos
(mandados pelo eniuka de paris)
as cartas do joão purgante
o busto de tolstói
a prova quádrupla do rotary.

Mas não tenho mais
o teu rosto tranquilo
a infinita compreensão do mundo
os passeios à ilha
(com a mãe mais a manuela)
as histórias do socorro vermelho
as cartas da maria lamas
a canção do roberto
só eu mais a solidão.

Tu em mim
eu sem ti
só eu mais a solidão.



Carlos Ferreira

Fim de semana de esperança... ou talvez não










Não seja esquecida a fome em África.
Não se vire as costas ao atropelo dos direitos humanos.
Não se ignore o flagelo da SIDA e da malária.
Não se hesite na ajuda á educação e alfabetização.

Que seja aberta uma janela de esperança que evite que outras crianças vejam o seu quotidiano da mesma forma que as do Darfur.

















Desenho de criança do Darfur. Veja outros aqui.

...silêncio...


















Desliguem o mundo por momentos, tirem os carros das ruas.
Apaguem a Lua e as estrelas e façam todas as pessoas dormir.
Estagnem as ondas do mar e o vento não soprará jamais.
Façam a terra parar e os barcos ficarem no cais.
E não haverá chuva pois as nuvens não irão aparecer.
E não existirão pesadelos pois não há nada a temer.
Desliguem toda a loucura neste universo meu
para que possa acreditar que a escuridão venceu
e deixem-me dormir sossegada nas doces mãos que o silêncio tem
até encontrar a paz que procuro, no coração de outro alguém.


Ivone Neves de Almeida
In "Imaginatorium"

A terra que te ofereço




















1
Quando,
ansiosa,
pela primeira vez
pisares
a terra que te ofereço,
estarei presente
para auscultar,
no ar,
a viração suave do encontro
da lua que transportas
com a sólida
a materna nudez do horizonte.

Quando,
ansioso,
te vir a caminhar
no chão de minha oferta,
coloco,
brandamente,
em tuas mãos,
uma quinda de mel
colhido em tardes quentes
de irreversível
votação ao Sul.


2
Trago
para ti
em cada mão
aberta,
os frutos mais recentes
desse Outono
que te ofereço verde:
o mês mais farto de óleos
e ternura avulsa.
E dou-te a mão
para que possas
ver,
mais confiante,
a vastidão
sonora
de uma aurora
elaborada em espera
e reflectida
na rápida torrente
que se mede em cor.


3
Num mapa
desdobrado para ti,
eu marcarei
as rotas
que sei já
e quero dar-te:
o deslizar de um gesto,
a esteira fumegante
de um archote
aceso,
um tracejar
vermelho
de pés nus,
um corredor aberto
na savana,
um navegável
mar de plasma
quente.



Ruy Duarte de Carvalho
In “A decisão da idade”

Canto do nosso amor sem fronteira

















Estamos juntos.
E moçambicanas mãos nossas
dão-se
e olhamos a paisagem e sorrimos.

Não sabemos de áreas de esterlino
de câmbios
vistos de fronteira
zonas de marco e dólar
portagem do Limpopo
canais de Suez e do Panamá.

Amamo-nos hoje numa praia das Honduras
estamos amanhã sob o céu azul da Birmânia
e na madrugada do dia dos teus anos
despertamos nos braços um do outro
baloiçando na rede da nossa casa na Nicarágua.

Ou
com os olhos incendiados
nos poentes do Mediterrâneo
recordamos as noites mornas da praia da Polana
e a beijos sorvo a tua boca no Senegal
e depois tingimos mutuamente
os lábios com as negras amoras de Jerusalém
ambos entristecidos ao galope dos pés humanos
sem ferraduras mas puxando riquexós.



José Craveirinha
in “Karingana ua Karingana”