Presença

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Sou dos que ainda estão presentes
e bebem do amor a única ausência.

Quantos pedaços de mentiras
retenho na viscosidade do meu cuspo?

Quantas verdades apaixonadas
reclamam ansiosas o esperma das palavras?

Nenhumas, talvez, nenhumas...
escravizo o silêncio
e faço dele o meu mensageiro.

Estou presente em tudo ou mais
e aí onde me procurarem
será a minha próxima ausência.

Helder Muteia

Dádiva

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Foto de M. Montenegro em Chamuanzas


Sou mais forte que o silêncio dos muxitos
mas sou igual ao silêncio dos muxitos
nas noites de luar e sem trovões.

Tenho o segredo dos capinzais
soltando ais
ao fogo das queimadas de setembro
tenho a carícia das folhas novas
cantando novas
que antecedem as chuvadas
tenho a sede das plantas e dos rios
quando frios
crestam o ramos das mulembas....

e quando chega o canto das perdizes
e nas anharas revive a terra em cor
sinto em cada flor
nos seus matizes
que és tudo o que a vida me ofereceu.


Fernando Costa Andrade

Não conheço nada do país do meu amado

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Não conheço nada do país do meu amado
Não sei se chove, nem sinto o cheiro das
laranjas.
Abri-lhe as portas do meu país sem perguntar nada
Não sei que tempo era
O meu coração é grande e tinha pressa
Não lhe falei do país, das colheitas, nem da seca
Deixei que ele bebesse do meu país o vinho o mel a carícia
Povoei-lhe os sonhos de asas, plantas e desejo
O meu amado não me disse nada do seu país
Deve ser um estranho paíso país do meu amado
pois não conheço ninguém que não saiba
a hora da colheita
o canto dos pássaros
o sabor da sua terra de manhã cedo
Nada me disse o meu amado
Chegou
Mora no meu país não sei por quanto tempo
É estranho que se sinta bem
e parta.
Volta com um cheiro de país diferente
Volta com os passos de quem não conhece a pressa.


Ana Paula Ribeiro Tavares

O espanto, a tristeza...a estupefacção!

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Acabei de ler em Um pipi no planeta evax que o Dalai Lama terá afirmado:

*Estamos dispostos a ser parte da Republica Popular da China* declarou em resposta à exigência de uma posição clara por parte de Pequim.

Poesia africana

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Lá no horizonte
o fogo
e as silhuetas escuras dos imbondeiros
de braços erguidos.
No ar o cheiro verde das palmeiras queimadas.

Poesia africana.

Na estrada
a fila de carregadores bailundos
gemendo sob o peso da crueira.
No quarto
a mulatinha de olhos meigos
retocando o rosto com rouge e pó de arroz.
A mulher debaixo dos panos fartos remexe as ancas.
Na cama
o homem insone pensando
em comprar garfos e facas para comer à mesa.

No céu o reflexo
do fogo
e as silhuetas dos negros batucando
de braços erguidos.
No ar a melodia quente das marimbas.

Poesia africana.

E na estrada os carregadores
no quarto a mulatinha
na cama o homem insone.

Os braseiros consumindo
consumindo
a terra quente do horizonte em fogo.


Agostinho Neto

I don't know how to love him




I don't know how to love him.
What to do, how to move him.
I've been changed, yes really changed.
In these past few days, when I've seen myself,
I seem like someone else.
I don't know how to take this.
I don't see why he moves me.
He's a man. He's just a man.
And I've had so many men before,
In very many ways,
He's just one more.
Should I bring him down?
Should I scream and shout?
Should I speak of love,
Let my feelings out?
I never thought I'd come to this.
What's it all about?
Don't you think it's rather funny,
I should be in this position.
I'm the one who's always been
So calm, so cool, no lover's fool,
Running every show.
He scares me so.
I never thought I'd come to this.
What's it all about?
Yet, if he said he loved me,
I'd be lost. I'd be frightened.
I couldn't cope, just couldn't cope.
I'd turn my head. I'd back away.
I wouldn't want to know.
He scares me so.
I want him so.
I love him so.

El cóndor pasa

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Oh majestuoso Cóndor de los andes,
llevame, a mi hogar, en los Andes, Oh Cóndor.
Quiero volver a mi terra querida
y vivir con mis hermanos Incas,
que es lo que mas añoro oh Cóndor.

Espérame en Cuzco,
en la plaza principal,
para que vayamos a pasearnos
a Machupicchu y Huayna-picchu.


Um canto de liberdade

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Olhando as mudanças do pôr do sol
meu ser fica imerso em devaneios
Aconchego-me nos doces braços dos sonhos
e deixo-me embalar
A realidade está há milhões de anos luz
de minhas fantasias
Não importa!
Na velocidade do pensamento
dou asas ao coração e simulo vôos de liberdade
Sinto-me dona do tempo
Domino cada minuto ao meu bel prazer
Quero encontrar a terra prometida
porque lá eu escondi meu paraíso
Não vim ao mundo por acaso
Não estou aqui para ocupar apenas um espaço
Quero descortinar todas as cores da vida
Caminhar na insensatez das
belas estradas coloridas
Renascer em dias azuis e noites estreladas
Pôr o infinito na palma da minha mão
e beber todo o néctar desta doce ilusão.
Poder embalar-me neste
canto de liberdade.


Zena Maciel

A Ilha

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Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!
Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca,
fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!


Amílcar Cabral
- Praia, Cabo Verde, 1945 -

Vida

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A crioula que meus olhos beijaram a medo
predeu-se na confusão de um porto francês

Ela sorria continuamente, erguendo no seu riso uma cançaão extraordinária.

Não foi um romance de amor
nem mesmo um pequeno segredo entre ambos.

Somente, quando Ela falava ao pé de mim, eu sentia:
um aprazível devaneio
pela maravilha escultural duma Mulher Perfeita.

Depois,
a Vida separando Nós-Dois
a confusão, os ruidos, os braços agitando-se
e o vapor levando para outros mares,
outros portos,
a graça, o mistério, o perfume e os cantares
da crioula que meus olhos beijaram a medo
no tombadilho daquele vapor francês.


Luís Romano
(Clima, 1963)

O peso da vida

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O peso da vida!
Gostava de senti-lo à tua maneira
e ouvi-la crescer dentro de mim,
em carne viva,

não queria somente
rasgar-te a ferida,
não queria apenas esta vocação paciente
do lavrador,
mas, também, a da terra
e que é a tua

Assume o amor como um ofício
onde tens que te esmerar,

repete-o até à perfeição,
repete-o quantas vezes for preciso
até dentro dele tudo durar
e ter sentido

Deixa nele crescer o sol
até tarde,
deixa-o ser a asa da imaginação,
a casa da concórdia,

só nunca deixes que sobre
para não ser memória.


Eduardo White

Para lá da praia

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Á chegada a Praia Gamboa, foto de Carlos Diogo Rosa, em Caminhadas e Descoberta em STP


Baía morena da nossa terra
vem beijar os pezinhos agrestes
das nossas praias sedentas,
e canta, baía minha
os ventres inchados
da minha infância,
sonhos meus, ardentes
da minha gente pequena
lançada na areia
da praia morena
gemendo na areia
da Praia Gamboa.


Canta, criança minha
teu sonho gritante
na areia distante
da praia morena.

Teu tecto de andala
à berma da praia
teu ninho deserto
em dias de feira,
mamã tua, menino
na luta da vida.

Gamã pixi à cabeça
na faina do dia
maninho pequeno, no dorso ambulante
e tu, sonho meu, na areia morena
camisa rasgada,
no lote da vida,
na longa espera, duma perna inchada

Mamã caminhando p'ra venda do peixe
e tu, na canoa das águas marinhas
- Ai peixe à tardinha
na minha baía
mamã minha serena
na venda do peixe
pela luta da fome
da gente pequena.


Alda Espírito Santo


Pátria

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Pátria é, pois, o sol que deu o ser
Drama, poema, tempo e o espaço,
Das gerações, que passam, forte laço
E as verdades que estamos a viver.
Pátria... é sepultura... é sofrer
De quem marca, co’a vida, um novo passo.
Ao povo - uma Pátria - é, num traço
simples... Independência até morrer !
Do trabalho o berço, paz, tormento,
Pátria é a vida, orgulho, a aliança
Da alegria, do amor, do sentimento.
Pátria... é tradições, passado e herança !
O som da bala é ... Pátria, de momento !
Pátria ... é do futuro a esperança !


Xanana Gusmão

Bailarina negra

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Imagem daqui


A noite
(Uma trompete, uma trompete)
fica no jazz

A noite
Sempre a noite
Sempre a indissolúvel noite
Sempre a trompete
Sempre a trépida trompete
Sempre o jazz
Sempre o xinguilante jazz

Um perfume de vida
esvoaça
adjaz
Serpente cabriolante
na ave-gesto da tua negra mão

Amor,
Vênus de quantas áfricas há,
vibrante e tonto, o ritmo no longe
preênsil endoudece

Amor
ritmo negro
no teu corpo negro
e os teus olhos
negros também
nos meus
são tantãs de fogo
amor.


António Jacinto
(Sobreviver em Tarrafal de Santiago)

O insecto


Mujer desnuda, Eduardo Naranjo Posted by Hello


Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.

Sou mais pequeno que um insecto.

Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centimetros queimados,
pálidas perspectivas.

Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!

Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.

Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco
caio, procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!


Pablo Neruda

Testamento


Imagem daqui Posted by Hello



À prostituta mais nova
Do bairro mais velho e escuro,
Deixo os meus brincos, lavrados
Em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida
Rapariga sem ternura,
Sonhando algures uma lenda,
Deixo o meu vestido branco,
O meu vestido de noiva,
Todo tecido de renda...

Este meu rosário antigo
Ofereço-o àquele amigo
Que não acredita em Deus...

E os livros, rosários meus
Das contas de outro sofrer,
São para os homens humildes,
Que nunca souberam ler.

Quanto aos meus poemas loucos,
Esses, que são de dor
Sincera e desordenada...
Esses, que são de esperança,
Desesperada mas firme,
Deixo-os a ti, meu amor...

Para que, na paz da hora,
Em que a minha alma venha
Beijar de longe os teus olhos,

Vás por essa noite fora...
Com passos feitos de lua,
Oferecê-los às crianças
Que encontrares em cada rua...


Alda Lara

As Mãos


.. Posted by Hello

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre


Atlantis




The continent of Atlantis was an island
Which lay before the great flood
In the area we now call the Atlantic Ocean.
So great an area of land,
That from her western shores
Those beautiful sailors journeyed
To the South and the North Americas with ease,
In their ships with painted sails.
To them East Africa was a neighbour,
Across a short strait of sea miles.
The great Egyptian age is

But a remnant of The Atlantian culture.
The antediluvian kings colonised the world
All the Gods who play in the mythological dramas
In all legends from all lands were from far Atlantis.

Knowing her fate,
Atlantis sent out ships to all corners of the Earth.
On board were the Twelve:

The poet, the physician, The farmer, the scientist,
The magician and the other so-called Gods of our legends.
Though Gods they were -
And as the elders of our time choose to remain blind
Let us rejoice
And let us sing
And dance and ring in the new Hail Atlantis!

Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be.
Way down below the ocean where I wanna be she may be,
Way down below the ocean where I wanna be she may be.
My antediluvian baby, oh yeah yeah, yeah yeah yeah,
I wanna see you some day
My antediluvian baby, oh yeah yeah, yeah yeah yeah,
My antediluvian baby,
My antediluvian baby, I love you, girl,
Girl, I wanna see you some day.
My antediluvian baby, oh yeah
I wanna see you some day, oh My antediluvian baby.
My antediluvian baby, I wanna see you
My antediluvian baby, gotta tell me where she gone
I wanna see you some day Wake up, wake up, wake up, wake up,
oh yeah Oh club club, down down, yeah
My antediluvian baby, oh yeah yeah yeah yeah


Donovan

Poetas andaluces


Giralda, Sevilha Posted by Hello



¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿qué sienten los poetas andaluces de ahora?

Cantan con voz de hombre
pero, ¿dónde los hombres?
Con ojos de hombre miran
pero, ¿dónde los hombres?
Con pecho de hombre sienten
pero, ¿dónde los hombres?

Cantan, y cuando cantan parece que están solos
Miran, y cuando miran parece que están solos
Sienten, y cuando sienten parece que están solos

¿Qué cantan los poetas, poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas, poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas, poetas andaluces de ahora?

Y cuando cantan, parece que están solos
Y cuando miran , parece que están solos
Y cuando sienten, parece que están solos

Y cuando cantan, parece que están solos
Y cuando miran , parece que están solos
Y cuando sienten, parece que están solos

Pero, ¿dónde los hombres?

¿Es que ya Andalucía se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿que en los campos y mares andaluces no hay nadie?

¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta,
quien mire al corazón sin muro del poeta?
Tantas cosas han muerto, que no hay más que el poeta

Cantad alto , oireis que oyen otros oidos
Mirad alto, vereis que miran otros ojos
Latid alto, sabreis que palpita otra sangre

No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo encerrado
Su canto asciende a más profundo, cuando abierto en el aire
ya es de todos los hombres

Y ya tu canto es de todos los hombres
Y ya tu canto es de todos los hombres

Y ya tu canto es de todos los hombres
Y ya tu canto es de todos los hombres (bis)


Aguaviva


Se a minha terra é de côr


Imagem daqui Posted by Hello


A minha terra tem cor...

Eu não o conheço outra terra
onde haja tanta beleza
nas síncopes coloridas
dum fim de tarde...

Inda está p´ra ser fadado
um tão nevado luar
que derrame tanto leite
em noites de Lua cheia...

No meu corpo bronzeado,
na minha terra tão linda,
há orgias embriagantes
de cor.

— Se a minha terra é de cor!...

Na chagar sangrenta
da rubra queimada
sem fim
queimando dentro de mim,
e no pesado negrume
de certas noites sem lua.
e com a lume apagado
no rutilante luzeiro
onde foi crucificada a minha Raça.

— A minha terra tem cor!...

Nos frutos tão bons,
nas águas imensas,
nos campos lavrados,
nos céus anilados,
nos corpos tão negros
dos pretos,
das pretas,
nas estrelinhas trementes,
— lágrimas de Deus
derramadas
pelos negros inocentes —
já doces tonalidades
mistérios,
suavidades,
cambiantes
fascinantes
de cor.

— Se a minha terra é de cor!...


Mauricio Almeida Gomes

Romance


Namoro, Almada Negreiros Posted by Hello


Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Para colher o nascer do sol que tinha na boca
eu corria as barrocas e os areais vermelhos do meu bairro
e lutava assanhado com outros miúdos brancos e pretos.
De noite, quando havia muitas estrelas
e o céu era um buraco muito escuro
eu deitava-me na areia vermelha e quente do meu bairro
e no seu colo de menina.
ficava calado a sentir o tempo passar.

O miúdo Artur cobiçava-ma
e que dor grande me doía cá dentro
se os via juntos a falar.
Uma vez, numa noite, de mãos dadas,
sentindo o vendo molhado do tempo das chuvas,
eu disse-lhe apontando para o alto:
aquela e a minha estrela, qual é a tua?
E todas as noites ficávamos deitados naquela minha rua antiga do Musseque Braga
a espiar as estrelas que brincavam no céu.

Stela era a minha pequena namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Por ela eu lutava com sardões de todos os tamanhos,
subia cajueiros impossível de subir
e era sempre o primeiro nas corridas.
Ela dava-me os santos que escondia de todos
como se fora o tesouro da ilha dos piratas.
E eu ficava muito sério como quando me batiam.
Um dia a minha pequenina namorada deixou o meu bairro.
Nesse dia não corri, não lutei,
não subi aos cajueiros do Musseque Braga
e os outros miúdos mais novos disseram: está doente.
E à noite, sozinho, procurei as duas estrelas
e chorei como se tivesse apanhado
a maior tareia da minha vida!
Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!

Antonio Cardoso

Lista

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Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais.

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados prá sempre
Quantos você conseguiu preservar.

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora.

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber.

Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos, sanados com o tempo
Era o melhor que havia em você.

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia prá sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acreditam que amam você.

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais.

Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acreditam que amam você.


Oswaldo Montenegro

África


.. Posted by Hello


No início era escuridão
Em meio a solidão, Deus se fez presente.
Clemente, criou, estrelas, planetas e a Terra.
Na Terra, um centro,
E dentro dele, a África.

África que hoje soluça
Acusa e pede ajuda para refazer,
crescer, e continuar a merecer
Ser o centro da terra
Sem guerras internas, em paz.

Capaz de ser no mundo
Um profundo, fértil coração.
Pois solidão foi só no início
E o início era escuridão.


Maria Isabel

Canto de Esperança


.. Posted by Hello


África
(Canto de Esperança)

raiz fecunda
na terra negra,
Mãe e herança
cuja lembrança
chora tristeza

Irmã esquecida
pela
lusitana cegueira,

Chegou Abril!

Quem dera fora
este meu canto
tão só vitória
p'lo fim da guerra!

o Abril chega,
Abril ainda...

Mas tanta sede de primavera!

É necessária
tanta conquista
além da História!

Construa pontes sobre a memória,

África agora
Prenhe de Esperança.



Maria Petronilho

Meditação

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Potala

"Nada te pode impedir de ser feliz. Ninguém te pode afastar da felicidade a não ser tu mesmo".

Dalai Lama
(Tenzin Gyatno)

Caminhada

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Caminhada


Irmãos!
Não estive nas câmaras de gás,
Nem vi o arame dos campos de concentração.
Fui talvez o último que cheguei,
Mas cheguei

Não vim para banquetes,
Pois nesta hora desfraldada
Só há choros e lutos,
E esperanças, ainda esperanças,
Numa futura caminhada.

Irmãos!
Nós somos talvez dum mundo novo
E teremos de construir o mundo novo.
Eu sou talvez o último que cheguei
Para os dias do futuro.


Amândio Cesar

A Máscara

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Mascara Chokwe



Cada vez que ponho
uma máscara
para esconder
minha realidade
fingindo ser
o que não sou
Faço-o para atrair o outro
e logo descubro
que só atraio
a outros mascarados
distanciando-me dos outros
devido a um estorvo

A Máscara

Faço-o para evitar
que os outros vejam
minhas debilidades
e logo descubro que
ao não verem
minha humanidade
os outros não podem
me querer pelo que sou

Senão pela máscara

Faço-o para preservar
minhas amizades
e logo descubro que
quando perco um amigo
por ter sido autêntico
realmente não era
meu amigo

E, sim... da máscara

Faço-o para evitar
ofender alguém
e ser diplomático
e logo descubro que
aquilo que mais ofende
as pessoas das quais
quero ser mais íntimo

É a Máscara

Faço-o convencido
de que é melhor
que posso fazer
para ser amado
e logo descubro
o triste paradoxo
o que mais desejo obter
com minhas máscaras
é, precisamente

O que não consigo com elas


Gilberto Lazan

Races


Imagem daqui Posted by Hello


You are a Brother
And a Sister
In the colors of Life

Some people believe
They are races
Human races
Whatever that may be

Races are for running
The competitive edge
Distrust and confusion
Leaving alterations
In innocent faces

We are natural Life
A part of Mother Earth's design
A blending of colors
To make the difference
In the teaching
of meanings

We are colors
in the family
of Life.

John Trudell

Paix sur la terre


Imagem daqui Posted by Hello

Paix aux hommes de bonne volonté
Pour faire cette paix, inutile de
Prendre les armes.
Apprenons à aimer autrui,
De tout notre coeur.
Pour aimer autrui,
Apprenons à le comprendre.
Pour comprendre autrui,
Apprenons à le connaître.
Connaître, comprendre et aimer autrui
Sont les seules armes à utiliser
Pour conduire à la paix.
Une paix comme celle-là
N'a qu'un seul prix :
6L'équilibre du monde.


Ghislaine Sathoud
(L'ombre de Banda)

Agradecimento

Ao JG e ao Blog da Sabedoria pela simpática referência a esta humilde Kitanda.

Poema de amor


Imagem daqui Posted by Hello



Adoro-te, África semente,
amor profundo,
nobre fruto do meu eu vivente.

Adoro a calidez das tuas tranças,
manta preta do meu primeiro calafrio.

E o dorso largo em que dormi o sono infantil
e acordei já homem feito.


Jorge Macedo

Poema dum funcionário cansado


.. Posted by Hello



À noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.


António Ramos Rosa

Girassol

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Girassol
Rasga a tua indecisão
E liberta-te.

Vem colar
O teu destino
Ao suspiro
Deste hirto jasmim
Que foge ao vento
Como
Pensamento perdido.

Aderido
Aos teus flancos
Singram navios.

Navios sem mares
Sem rumos
De velas rotas.

Amanheceu!

Orça o teu leme
E entra em mim
Antes que o Sol
Te desoriente
Girassol!


Corsino Fortes
in "Claridade", n°9, 1960

Vadiagem


Noite africana, daqui Posted by Hello


Naquela hora já noite
quando o vento nos traz mistérios a desvendar
musseque em fora fui passear as loucuras
com os rapazes das ilhas:
Uma viola a tocar
o Chico a cantar
(que bem que canta o Chico!)
e a noite quebrada na luz das nossas vozes
Vieram também, vieram também
cheirando a flor de mato
- cheiro gravido de terra fértil -
as moças das ilhas
sangue moço aquecendo
a Bebiana, a Teresa, a Carminda, a Maria.
Uma viola a tocar
o Chico a cantar
a vida aquecida com o sol esquecido
a noite é caminho
caminho, caminho, tudo caminho serenamente negro
sangue fervendo
cheiro bom a flor de mato
a Maria a dançar
(que bem que dança remexendo as ancas!)
E eu a querer, a querer a Maria
e ela sem se dar
Vozes dolentes no ar
a esconder os punhos cerrados
alegria nas cordas da viola
alegria nas cordas da garganta
e os anseios libertados
das cordas de nos amordaçar
Lua morna a cantar com a gente
as estrelas se namorando sem romantismo
na praia da Boavista
o mar ronronante a nos incitar
Todos cantando certezas
a Maria a bailar se aproximando
sangue a pulsar
sangue a pulsar
mocidade correndo
a vida
peito com peito
beijos e beijos
as vozes cada vez mais bebadas de liberdade
a Maria se chegando
a Maria se entregando
Uma viola a tocar
e a noite quebrada na luz do nosso amor...


António Jacinto
(Poemas, 1961)

O minuto que vem


.. Posted by Hello

Há medo
leio-o
nos rostos dos homens
medo do minuto que vem (?)
Que grande desgraça traz
o minuto que vem?

Leio medo
nos rostos dos homens,
rostos que não falam,
mas têm nessa voz muda
o latejar do enigma que emprenha o minuto que vem!

Criemos uma canção, homens,
criemos uma canção de luta e de amor
que será de triunfo
no minuto que vem,
sobre o medo e a resignação!

Cantemos sobre o medo
do minuto que vem!


Juvenal Bucuane