Sobressalto

























Amor,
as luas mortas
caíram no segredo deste amor;
fujamos pela praia
embarquemos no vento!

As luas mortas
são mundos apodrecidos ...

O nosso amor balbucia
cantigas da era nova
e nas mãos
temos o húmus adubado e quente
para o jardim redolente
para a seara de pão
para a seara de amor...

Nada nos serve fugir
pior que fantasmas
são os miasmas
dos mundos apodrecidos...

Amor,
nos vales ermos, esquecidos
de toda a flor,
de todo o riso,
do amor ao amor,
das madrugadas e dos pássaros,
(fechadas todas as portas
ao susto e à escuridão,
com um beijo verde de esperança
cantando no coração)

Amor,
enterremos as luas mortas...



Lília da Fonseca

Tema de Natal





Salvem os Ricos




Olavo Bilac
Chegou a crise, não há razão para temer.

David Fonseca
É que nesta crise, o Teixeira dos Santos vai-nos proteger.

Ana Bacalhau
Mas neste mundo injusto, o dinheiro está garantido.

Angélico
Como o bodo para o pobre, o remediado, e o sem abrigo.

Bob Dylan
Mas pensa naqueles, os multimilionários.

George Michael
Baby. Ficaram sem Bancos, e sem juro dos salários.

Sérgio Godinho
E sem direito a indemnizações, tem que pedir o aval,
à sopa dos pobres dos ricos: o Banco de Portugal.

Rui Reininho/Ana Bacalhau
O desespero tomou conta de toda a Quinta da Marinha.

Rui Reininho
Em vez de lavagante, comem lambuginha.

Bill Kaulitz
E vão ter de abandonar o Conselho de Estado.
O quadro do Miró foi penhorado.

Adriana Calcanhoto
Porque esse Portugal já não é neoliberal.

Zé Pedro/Bill Kaulitz/George Michael
Saberão que estamos no Natal.

Axl Rose
Oiçam bem.

António Calvário
Eufemismo dos milhões.

Axl Rose
Opulência.

António Calvário
Tratou-os como aldrabões.

Axl Rose/António Calvário
Saberão que estamos no Natal.


Refrão

Salvem os ricos.Salvem os ricos.
Salvem os ricos, ajudem os milionários.
[repete]



Contemporâneos

A fome que te tenho

























Foto de Tuta, aqui




A fome que te tenho, descontrolada,
de te ter, o de te possuir,
o meu corpo, fogo... ardendo, queimando,
torna-se num imenso doloroso, num profundo,
os meus olhos vagueiam, olho-te,
o meu pensamento voa,
os lábios incham, a face dói,
a língua esculpida na tua, toca-te, engole-te,
o meu corpo procura-te para o arrepiar,
do sangue fervendo,
esta fome insaciável,
o leve,
o leve deste papel onde agora te sinto
sem o peso que é isso.

Sangue meu, meu sangue, ferve, ebule,
o meu corpo arrepiado, o meu ventre contorna-se,
o suor corre suavemente,
a minha boca seca,
as palavras, essas, perdem-se pelo espaço,
esse torna-se tão pequeno,
não consigo respirar,
o corpo esta pregado,
não sei saber qual o passo a seguir,
não posso mais,
o pensamento pasmo e susto,
o desejo grande, profundo,
a vontade de chorar, a vontade de fugir,
de não repartir o mesmo espaço,
essa química de todos os sentidos,
fundidas em desespero completo,
perdi-me...




Sónia Sultuane

O pássaro



















Quando ele apanhou o pássaro
cortou-lhe as asas.
O pássaro voou mais alto.

Quando voltou a apanhar o pássaro
cortou-lhe as patas.
O pássaro deslizou como uma barca.

Furioso, cortou-lhe o bico.
O pássaro cantou com o seu coração,
como canta uma harpa.

Então cortou-lhe o pescoço.
E de cada gota de sangue
Saiu um pássaro mais brilhante.

Nada continua a ser mais caro,
ao Poeta, que a liberdade.




Maurice Carême
Tradução de António Ramos Rosa

Alma negra




















Diz-se que o homem negro não tem alma,
ou antes que tem alma tão bisonha,
tão grosseira, tão vil... – Há quem suponha
que o negro só se exalta, e não se acalma:

que só conhece o vício, e não a palma,
a crença bruta, e não a fé risonha;
em suma, que não ama, que não sonha,
com paz divina, com divina calma.

Há quem apenas veja, meramente,
que a África é o sol do meio-dia,
– terra queimada pelo sol ardente.

Há quem não saiba ver ou avaliar
toda a celeste e lírica poesia
duma noite africana de luar...




Geraldo Bessa Victor

Beijo sem Nome






















Quando te disse que era da terra selvagem do vento azul e das praias morenas...
Do arco-íris das mil cores, do sol com fruta madura e das madrugadas serenas...
Das cubatas e musseques, das palmeiras com dendém,
das picadas com poeira, da mandioca e fuba também...
Das mangas e fruta pinha, do vermelho do café,
dos maboques e tamarindos, dos cocos, do ai u'é...
Das praças no chão estendidas com missangas de mil cores,
os panos do Congo e os kimonos, os aromas, os odores...
Dos chinelos no chão quente, do andar descontraído,
da cerveja ao fim da tarde, com o sol adormecido...
Dos merengues e do batuque, dos muxiques e dos mupungos,
dos embondeiros e das gajajas, da macanha e dos maiungos...
Da cana doce e do mamão, da papaia e do cajú...

Tu sorriste e sussurraste...
- Sou da mesma terra que tu!




Ana Paula Lavado


Trancrito, com a devida vénia, do magnífico "Shelling Memories"

O Amor e o Futuro

























Foto de "Angola em fotos"





Calar
esta linguagem velha que não entendes
(Tu és naturalmente de amanhã
como a árvore florida)
e falar-te na linguagem nova do futuro
engrinaldada de flores.

Calar
esta saudade velha
e a nostalgia herdada de brancos marinheiros
e de escravos negros
de noite sonhando lua
nos porões dos negreiros.

Calar
todo este choro antigo
hoje disfarçado em slow, bolero e blue
(Teu sentimento
e esta pressão dorida que não mente:
teus seios contra o meu peito
a tua mão na minha
o calor das tuas coxas
e os teus olhos ardentes...)

Calar tudo isso
(Tu és naturalmente do futuro
como a árvore florida)
e ensaiar o canto novo
da esperança a realizar.
Cantar-te
árvore florida
espera de fruto
antemanhã

Nascer do Sol em minha vida.



Mário António

Decálogo de Lenine























1 - Corrompa a juventude e dê-lhe liberdade sexual;
2 - Infiltre e depois controle todos os veículos de comunicação de massa;
3 - Divida a população em grupos antagônicos, incitando-os a discussões sobre assuntos sociais;
4 - Destrua a confiança do povo em seus líderes;
5 - Fale sempre sobre Democracia e em Estado de Direito, mas, tão logo haja oportunidade, assuma o Poder sem nenhum escrúpulo;
6 - Colabore para o esbanjamento do dinheiro público; coloque em descrédito a imagem do País, especialmente no exterior e provoque o pânico e o desassossego na população por meio da inflação;
7 - Promova greves, mesmo ilegais, nas indústrias vitais do País;
8 - Promova distúrbios e contribua para que as autoridades constituídas não as coíbam;
9 - Contribua para a derrocada dos valores morais, da honestidade e da crença nas promessas dos governantes. Nossos parlamentares infiltrados nos partidos democráticos devem acusar os não-comunistas, obrigando-os, sem pena de expô-los ao ridículo, a votar somente no que for de interesse da causa socialista;
10 - Procure catalogar todos aqueles que possuam armas de fogo, para que elas sejam confiscadas no momento oportuno, tornando impossível qualquer resistência à causa...



Vladímir Ilich Uliánov (1913)



Apliquem-se estes princípios a qualquer sector em particular (ao da limpeza em Lisboa, p.e.).
Recue-se uns anos ao consulado de Rui Godinho.
Pense-se no que então não foi feito (e podia ter sido)... no que desde então não pôde ser feito (porque não interessava fazer).. e no que não devia ter sido feito (e foi...)
Pense-se no desinvestimento e na penúria por que o sector passou desde então...
Pense-se que a "invenção" da ABC (Associação Baixa Chiado) é do tempo do edil do PCP á frente da limpeza.
Calcule-se que já datam dessa altura os primeiros passos no sentido de privatização.
Some-se a isto a luta desigual (e desleal) que os muitos e bons funcionários que a CML possui travam contra o labéu de que tudo o que é privado é melhor (não sendo esclarecido se é mais barato ou não, se os serviços apresentam melhor prontidão ou qual o grau de eficiência).
Acrescente-se ser este um trabalho duro e mal pago.
Tome-se em conta que as reformas antecipadas e a melhor remuneração no sector privado tem vindo a esvaziar o sector de profissionais.
Sabendo-se que a sua não substituição, além de imperativo legal, serve os propósitos de todos quantos pretendem entregar de bandeja o sector a privados... E quanto pior estiver mais fácil e mais barato (politicamente) se torna.

Julgo ser compreensível o descontentamento do pessoal de limpeza da capital pelo abandono de que tem sido vítimas. Muito, mas muito pior, que o simples facto de ganharem mal...

É óbvio para todos que o processo que está em marcha não terá retrocesso e que dentro de muito poucos anos serviços básicos de uma cidade serão entregues á gula de quem tem como único objectivo o lucro.. e não o serviço público.

Por muito menos que um pataco ver-se-ão, como MF Leite diz com alguma dose de xenofobia, grandes contributos para o combate ao desemprego nalguns países, "toneladas" de trabalhadores mais mal pagos que os actuais mas que darão uma ideia de eficácia e omnipresença que serão sempre fantasiosos... para quem sabe e tranquilizadores para... quem não conhece.

A decisão é legítima por parte da CML mas não há qualquer necessidade de se escudar em pretensas experiências... Não é isso que pretendem, não é isso que vai acontecer... e todos o sabem!

Fica apenas como lição o aproveitamento deste "Decálogo de Lenine" para todos os fins, por todos os quadrantes...
Há muito que o pragmatismo (eufemismo de muita coisa...) tomou conta do espectro político-partidário. Não interessa muito o que possa acontecer desde que todos tenham o seu proveito.

O PS conseguirá libertar-se de um sector muito visto e presente junto da população e que foi propositadamente ao longo dos anos desprotegido e coberto de dificuldades e calúnias.
O PCP - que nada fez antes a não ser ajudar o processo! - conseguirá, por muito tempo (mas sobretudo agora...) capitalizar o descontentamento de um sector infiltrado por si e votado ao abandono.
Dos outros não reza a história... Cavalgarão a onda sempre que lhes aprouver, sempre que o benefício seja maior que o custo.

Nuno Krus Abecasis, que fez deste sector um dos mais dinâmicos e organizados da CML e por quem mais carinho tinha, diga-se também, deverá ter dado já muitas cambalhotas no seu túmulo.

Para se perceber a hipocrisia reinante deixo aqui alguns tópicos respigados em alguns sítios que falam do assunto:

Em O Jumento


Caro Jumento

eu concordo f àcilmente, que uma greve convocada sem objectivos claros de reivindacão laboral é uma vergonha.E tamb ém concordo que o PCP anda deslumbrado com o apoio que as últimas greves têm tido por parte das respectivas classes.Mas isso é uma coisa( que se deve denunciar), outra coisa é tentar saber o que se passa realmente. Além disso, eu que comecei a visitar este blog há relativamente pouco tempo, noto uma certa agressividade e também leviandade nos seus comentários ao PCP.
José Leitão 12.10.08 - 6:18 pm


Caro Jumento

Isto como em tudo na vida o PCP/STAL tem dois pesos e duas medidas san ão vejamos há diferenças onde o PCP é poder e onde o PCP é oposição , onde o PCP está no poder o STAL dá cobertura como na C.M.PALMELA em que esta já privatizou alguns circuitos e não vimos o STAL fazer nada em prol dos trabalhdores e quando confrontado com esta situação os dirigentes do STAL refugiam-se de que esta é uma situação pontual mas já lá vão 3 anos o mesmo acontece com a manutenção dos jardins que já estão privatizados em cerca de 90% assim como outros serviços´, aqui em PALMELA funciona a logica partidaria é a vida dois pesos e duas medidas
foliveiracontente 12.09.08 - 11:44 pm


Em Der Terrorist



Em resumo... por ser necessário aos propósitos a atingir... A luta continua!


Por ser representativo da forma de actuação... deixo-vos com uma foto de alguns "monges budistas" no Tibete após retomarem o seu "hábito" normal de soldados.


Como se não o soubessemos!







O que importa se te vais



















O que importa se te vais,
se ficaras sempre dentro de mim,
o que importa se este oceano que é a vida seja longo,
se mais longo consegue ser o meu amor por ti,
o que importa se esse oceano um dia te tenha roubado,
se um dia uma gota em mim tenha deixado,
a minha sede tenha matado,
bebi algo puro e belo,
que importa se esse oceano me haja abandonado,
e a minha gota houvesse levado,
mas se esse gosto em mim tenha ficado cravado.




Sónia Sultuane

Posse




















Foto de aoluar, aqui




Deitei-me sobre o teu cansaço,
na esperança de trazer-te o descanso
que há tanto tempo em vão procuras.

Cobri teu corpo
e tive-te, e perdi-te ao alvorecer,
quando tudo se confunde
e a noite é dia, e o dia é noite,
e as estrelas são o instrumento
dos nossos sonhos e dos nossos êxtases.

Encontrei-te depois,
quando te perdeste e me encontraste também,
e já o dia amanhecia outra vez…



Anny Pereira

Minha Angola




Sam Mangwana