Amigo
segunda-feira, janeiro 31, 2011
A vida tem destas coisas!!
Surpreendente.
Vale a pena, nas palavras mais simples contar esta pequena história.
1972, M'banza Congo, na altura São Salvador do Congo.
Frequento o 3º. ano dos Liceus no Liceu Salvador Correia de Sá.
Somos 13.
Eu, o Afonso Belarmino, o Quim, o Quim', a Francisca, a Ilda, a Bertina, o Jinho, a Catarina... e mais 4 colegas que não esqueci mas que o tempo apagou os seus nomes da minha memória.
No 4º. ano éramos apenas 9.
Bons colegas, bons amigos, bons alunos.
Estudei com muitos deles, jogámos, entreajudámo-nos... vivemos aventuras.
Entre todos, tornámo-nos grandes amigos eu e o Afonso!
1974, o 25 de Abril.
A debandada, a separação, a amargura de amigos perdidos e a dúvida permanente se terão ou não sido bafejados pela sorte no turbilhão de acontecimentos que se seguiram...
O receio pela eventual interrupção de vidas de amigos com grande valor, que seriam, não fosse a guerra, importantes para o seu país.
Tempo passa inexoravelmente, anos sobre anos...
Nunca perdi a esperança de saber por onde andava, o que tinha acontecido ao Afonso.
As guerras sucederam-se.
1996, voltei a Angola... e voltei a procurar pelo Afonso.
Nada!
Parecia ter sido engolido pelo tempo!
1997, tenho o meu primeiro computador... e, de tempos a tempos faço buscas.
Nada. Do Afonso, nem o rasto parece ter ficado!
Mas não desisto.
2009, o Quim'... por artes de magia encontra-me!
2010, uma busca no Facebook, pela enésima vez...
Aparece-me um Afonso Belarmino, não alimento muita esperança... nem fotografia tem.
Pode ser um qualquer.
Mas reparo numa outra pessoa com o mesmo apelido...e investigo.
Era filha de Afonso Bernardino...e a mãe dela tinha também facebook...
Por um "milagre" (podia estar bloqueado o acesso ás fotos) a ilustre senhora apresenta uma fotografia do seu jeitoso, como lhe chama...
Olho a foto... e dou um salto!
O jeitoso é, nada mais, nada menos que o Afonso Belarmino.
A foto "diz-me" ter sido tirada no metro de Lisboa (!!???) á aproximação da estação de Alameda!
Surpreendente!
Consigo com alguma rapidez estabelecer os contactos necessários para poder, finalmente, saber algo do meu amigo!
E consigo.
Está em Luanda, nesta altura... mas viveu quase três décadas em Lisboa!!
Já falámos, recordámos velhos tempos, grandes amigos... e aguardamos o momento do abraço!
Kandandu, amigo!
Celebremos a amizade, neste poema de O'Neill.
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill