"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros"
terça-feira, janeiro 11, 2011
O artigo que publicarei em seguida, respigado de "O Jumento", obrigou-me a recuar largos anos até ao momento em que Francisco Louçã e seus "compagnons de route" chamavam a atenção dos media pela forma "subversiva" como efectuavam campanha eleitoral.
A provocação e algumas verdades incisivas tornaram-se populares porque os media disso fizeram eco considerando o cinzentismo de todos os outros intervenientes.
Era necessário dar um toque colorido á campanha e nada como o PSR para o fazer.
No entanto este toque colorido é válido apenas se o objectivo fôr coincidente.
Quando o alvo não é o mesmo ou é inconveniente... naturalmente, como todos os jornalistas bem sabem fazer, ridicularizam, mesmo que de forma subliminar.
Óbvio!
A liberdade de expressão, a igualdade de tratamento e, acima de tudo, a ausência de comentários "jornalisticos" antes, durante ou após os clips noticiosos devem constituir uma obrigação e um dever deontológico a seguir.
Marcelo Rebelo de Sousa é comentador, pode por isso dizer o que lhe aprouver.
José Alberto Carvalho, Clara de Sousa ou outros... devem abster-se de comentários.
Compete-lhes dar a notícia e esperar que o telespectador use a sua própria inteligência para formar uma opinião.
Honra a José Manuel Coelho, pela sua coragem e trajecto pessoal e político e a Catarina Carvalho que soube, exemplarmente, separar o trigo do joio.
«Venho falar-vos do candidato presidencial que devia estar a ser o centro das atenções: José Manuel Coelho. Por mais nenhuma razão - nem política, nem ideológica, nem pelas próprias regras da campanha - do que por critérios meramente jornalísticos, José Manuel Coelho é o candidato perfeito, pelo menos para jornalistas que ainda não se esqueceram que uma das sua principais funções é satisfazer a curiosidade do público. Um desconhecido, um homem do povo, estucador de profissão, ardina nas horas vagas, que se candidata a presidente, um deputado madeirense de um partido ultraperiférico que resolve saltar para o panorama nacional (coisa que o próprio Jardim nunca teve coragem de fazer), um ex-comunista que se 'aggiornou' e não tem medo de dizer que o regime que defendeu matou muitos milhões (coisa que o Partido Comunista Português nunca concedeu), um homem que fala sem as habituais papas que a concorrência coloca nas línguas dos candidatos que pretendem, ainda, fazer carreira na política nacional.
José Manuel Coelho seria sempre um candidato de estouro. Mas é-o ainda mais nestas eleições já decididas. Aposto que, desta vez, o povo português perdoaria aos meios de Comunicação Social alguns devaneios não enquadráveis nas regras de uma cobertura eleitoral equitativa, mas que lhes levaria ao conhecimento algo para pensar. E, até, sorrir. E estamos todos tão necessitados disso.
Papagueamos sobre a ausência de interesse da política e dos políticos, culpamo-nos pela falta de relação entre o povo e a classe dirigente, e quando irrompe um homem que não podia ser mais autêntico, até na sua honestidade de dizer que não está aqui para ganhar, o que lhe fazemos? Ignoramo-lo? Não. Pior que isso. Tratamo-lo como se fosse um candidato sério, igual aos outros.
Jornalistas com créditos firmados como entrevistadores, como Judite de Sousa ou Henrique Garcia, fazem-lhe perguntas tão sérias como as dos outros candidatos, como se José Manuel Coelho precisasse do escrutínio democrático de qualquer candidato que tenha possibilidades de chegar a presidente. Nas duas entrevistas que deu, à RTP e TVI, pretenderam fazê-lo cair em contradições ou em soudbytes políticos. Quem precisa de soudbytes quando tem aquele slogan de campanha? Reportagens sobre reportagens descrevem as suas acções de campanha sem a mínima ironia...
José Manuel Coelho é o único fenómeno interessante destas eleições e a mim, que conjugo a dupla condição de jornalista e público, o que me interessa é a sua história, a história de um homem do povo que foi do PCP numa pequena ilha (antes e depois do 25 de Abril), que era o maior vendedor do "Avante" em Portugal, foi à União Soviética em 1981 a convite do "Pravda" e não gostou do que viu, um estucador com consciência política, com espírito crítico suficiente para ser anti-Jardim na hegemónica ilha da Madeira, e que, sabendo que será sempre minoritário, opta pela loucura como forma de oposição, uma loucura tão grande que o leva até à candidatura nacional à Presidência da República. Deste homem, não quero mais opiniões. Os factos chegam-me. Ou terá o sistema político e o seu espelho, o jornalístico, já esquecido de que matéria é feita a vida real? »
Por Catarina Carvalho in [JN]
A provocação e algumas verdades incisivas tornaram-se populares porque os media disso fizeram eco considerando o cinzentismo de todos os outros intervenientes.
Era necessário dar um toque colorido á campanha e nada como o PSR para o fazer.
No entanto este toque colorido é válido apenas se o objectivo fôr coincidente.
Quando o alvo não é o mesmo ou é inconveniente... naturalmente, como todos os jornalistas bem sabem fazer, ridicularizam, mesmo que de forma subliminar.
Óbvio!
A liberdade de expressão, a igualdade de tratamento e, acima de tudo, a ausência de comentários "jornalisticos" antes, durante ou após os clips noticiosos devem constituir uma obrigação e um dever deontológico a seguir.
Marcelo Rebelo de Sousa é comentador, pode por isso dizer o que lhe aprouver.
José Alberto Carvalho, Clara de Sousa ou outros... devem abster-se de comentários.
Compete-lhes dar a notícia e esperar que o telespectador use a sua própria inteligência para formar uma opinião.
Honra a José Manuel Coelho, pela sua coragem e trajecto pessoal e político e a Catarina Carvalho que soube, exemplarmente, separar o trigo do joio.
«Venho falar-vos do candidato presidencial que devia estar a ser o centro das atenções: José Manuel Coelho. Por mais nenhuma razão - nem política, nem ideológica, nem pelas próprias regras da campanha - do que por critérios meramente jornalísticos, José Manuel Coelho é o candidato perfeito, pelo menos para jornalistas que ainda não se esqueceram que uma das sua principais funções é satisfazer a curiosidade do público. Um desconhecido, um homem do povo, estucador de profissão, ardina nas horas vagas, que se candidata a presidente, um deputado madeirense de um partido ultraperiférico que resolve saltar para o panorama nacional (coisa que o próprio Jardim nunca teve coragem de fazer), um ex-comunista que se 'aggiornou' e não tem medo de dizer que o regime que defendeu matou muitos milhões (coisa que o Partido Comunista Português nunca concedeu), um homem que fala sem as habituais papas que a concorrência coloca nas línguas dos candidatos que pretendem, ainda, fazer carreira na política nacional.
José Manuel Coelho seria sempre um candidato de estouro. Mas é-o ainda mais nestas eleições já decididas. Aposto que, desta vez, o povo português perdoaria aos meios de Comunicação Social alguns devaneios não enquadráveis nas regras de uma cobertura eleitoral equitativa, mas que lhes levaria ao conhecimento algo para pensar. E, até, sorrir. E estamos todos tão necessitados disso.
Papagueamos sobre a ausência de interesse da política e dos políticos, culpamo-nos pela falta de relação entre o povo e a classe dirigente, e quando irrompe um homem que não podia ser mais autêntico, até na sua honestidade de dizer que não está aqui para ganhar, o que lhe fazemos? Ignoramo-lo? Não. Pior que isso. Tratamo-lo como se fosse um candidato sério, igual aos outros.
Jornalistas com créditos firmados como entrevistadores, como Judite de Sousa ou Henrique Garcia, fazem-lhe perguntas tão sérias como as dos outros candidatos, como se José Manuel Coelho precisasse do escrutínio democrático de qualquer candidato que tenha possibilidades de chegar a presidente. Nas duas entrevistas que deu, à RTP e TVI, pretenderam fazê-lo cair em contradições ou em soudbytes políticos. Quem precisa de soudbytes quando tem aquele slogan de campanha? Reportagens sobre reportagens descrevem as suas acções de campanha sem a mínima ironia...
José Manuel Coelho é o único fenómeno interessante destas eleições e a mim, que conjugo a dupla condição de jornalista e público, o que me interessa é a sua história, a história de um homem do povo que foi do PCP numa pequena ilha (antes e depois do 25 de Abril), que era o maior vendedor do "Avante" em Portugal, foi à União Soviética em 1981 a convite do "Pravda" e não gostou do que viu, um estucador com consciência política, com espírito crítico suficiente para ser anti-Jardim na hegemónica ilha da Madeira, e que, sabendo que será sempre minoritário, opta pela loucura como forma de oposição, uma loucura tão grande que o leva até à candidatura nacional à Presidência da República. Deste homem, não quero mais opiniões. Os factos chegam-me. Ou terá o sistema político e o seu espelho, o jornalístico, já esquecido de que matéria é feita a vida real? »
Por Catarina Carvalho in [JN]