Noite


.. Posted by Hello




Noites africanas langorosas,
esbatidas em luares...,
perdidas em mistérios...
Há cantos de tungurúluas pelos ares!...

Noites africanas endoidadas,
onde o barulhento frenesi das batucadas,
põe tremores nas folhas dos cajueiros...

Noites africanas tenebrosas...,
povoadas de fantasmas e de medos,
povoadas das histórias de feiticeiros
que as amas-secas pretas,
contavam aos meninos brancos...

E os meninos brancos cresceram,
e esqueceram
as histórias...

Por isso as noites são tristes...
Endoidadas, tenebrosas, langorosas,
mas tristes... como o rosto gretado,
e sulcado de rugas, das velhas pretas...
como o olhar cansado dos colonos,
como a solidão das terras enormes
mas desabitadas...

É que os meninos brancos...,
esqueceram as histórias,
com que as amas-secas pretas
os adormeciam,
nas longas noites africanas...

Os meninos-brancos... esqueceram!...


Alda Lara

São Salvador


Mbanza Congo Posted by Hello


I celebrate the glorious past of the kingdom of Kongo.
A paradise that thrived in the XV century in the heart of Africa....
I cry for my people who were taken across the big river on a journey of no return....
And I pay homage to the brave warriors who fought to liberate my homeland
São Salvador.


Eu vou celebrando
Através do meu canto
A história gloriosa
Do reino do Kongo

Eu vou celebrando
Através do meu canto
A história romantica
Do reino do Kongo

Era um paraíso
Que próspero no século quinze
Situado em uma região formoza
No coração da Africa

Oh Mbanza Kongo
São Salvador querido
Oh Mbanza Kongo
Es meu paraíso

São Salvador
Kongo dia Ntotila
Eh Mbanza Kongo
Mbanza velela

Hoje presto homenagem
Aos guerreiros valentes
Que lutaram para libertar
A minha terra São Salvador

Que lutaram para libertar
A nossa terra Mbanza Kongo

Pátria querida
Através dos anos
Você passou por tantas tragedias
Seus filhos foram capturados
E vendidos como escravos

Hoje choro
Choro por mi'a gentes
Que foi levada
Para o outro lado do grande río
Em uma viagem sem volta

Separada de sua familia e sua terra
Mas a pezar de tudo
Nosso espirito nunca morreu
Santa Beatriz Kimpa Vita
Escutamos sua voz


Ricardo Lemvo






Romance


.. Posted by Hello



Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Para colher o nascer do sol que tinha na boca
eu corria as barrocas e os areais vermelhos do meu bairro
e lutava assanhado com outros miúdos brancos e pretos.
De noite, quando havia muitas estrelas
e o céu era um buraco muito escuro
eu deitava-me na areia vermelha e quente do meu bairro
e no seu colo de menina
ficava calado a sentir o tempo passar.

O miúdo Artur cobiçava-ma
e que dor grande me doía cá dentro
se os via juntos a falar.
Uma vez, numa noite, de mãos dadas,
sentindo o vendo molhado do tempo das chuvas,
eu disse-lhe apontando para o alto:
aquela e a minha estrela, qual é a tua?
E todas as noites
ficávamos deitados naquela minha rua antiga do Musseque Braga
a espiar as estrelas que brincavam no céu.

Stela era a minha pequena namorada
nos tempos da minha infância descuidada!
Por ela eu lutava com sardões de todos os tamanhos,
subia cajueiros impossível de subir
e era sempre o primeiro nas corridas.
Ela dava-me os santos que escondia de todos
como se fora o tesouro da ilha dos piratas.
E eu ficava muito sério como quando me batiam.
Um dia a minha pequenina namorada deixou o meu bairro.
Nesse dia não corri, não lutei,
não subi aos cajueiros do Musseque Braga
e os outros miúdos mais novos disseram: está doente.
E à noite, sozinho, procurei as duas estrelas
e chorei como se tivesse apanhado
a maior tareia da minha vida!
Stela era a minha pequenina namorada
nos tempos da minha infância descuidada!


Antonio Cardoso

Lonely looking sky

Image Hosted by ImageShack.us


Lonely lookin sky
lonely sky, lonely looking sky
and bein' lonely
makes you wonder why
makes you wonder why
lonely looking sky
lonely looking sky
lonely looking sky

Lonely looking night
lonely night, lonely looking night
and bein' lonely
never made it right
never made it right
lonely looking night
lonely looking night
lonely looking night

Sleep we sleep
for we may dream
while we may
dream we dream
for we may wake
one more day
one more day

Glory looking day
glory day, glory looking day
and all it's glory
told a simple way
behold it if you may
glory looking day
glory looking day


Neil Diamond


Para os amigos.... contra o calor!!...

Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us

Quem é amigo???.... Quem é??.....

Poema Crioulo


Santo Antão - Foto de Tom Simpson Posted by Hello


Nha tera, nha sentimento
Nha papiamento, nha dóxi cau
Oh, nha bida, dj'u sabi, ma n'qrê torna flau
Ma n'ta amau, y nôs passado cata squecedo
Ai, sodade bô, ai, speransa
D'in torna odjau
La di riba na horizónti
Riba mónti
N'qrê canta na bo caminho
N'qrê badja, co tudo carinho
Di bo morabéza, ó, mai

-------------------------

Minha terra, meu sentimento
Minha fala, meu doce lugar
Oh, minha vida, já sabes, mas quero voltar a dizer-te
Que eu te amo, e o nosso passado não é esquecido
Ai, que saudades tuas, ai, esperança
De voltar a ver-te
Lá em cima no horizonte
Em cima do monte
Quero cantar no teu caminho
Quero dançar com todo o carinho
De teus braços abertos, ó mãe.


Autor desconhecido

Liberdade


Foto de Martin Elms Posted by Hello


Ir onde meu coração me mandar!...
Fazer o que eu quero,
Sonhar tudo o que devo sonhar...
Caminhar sem me cansar,
Viver todas as minhas histórias,
Amar e ser amada sem condições,
Sem grandes ou pequenas razões.

Ser tudo,
Ver o mundo,
Saber das coisas
E acreditar em milagres.
Liberdade...
Voar...
Alcançar todas as metas,
Seguir sempre em linha reta,
Nunca desistir
Nem olhar para trás.
Ir, sem medo,
Onde meu coração me levar!...


Letícia Thompson

Kyrie


.. Posted by Hello



Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e de paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!


José Carlos Ary dos Santos

Para hacer el amor


.. Posted by Hello



Para hacer el amor
debe evitarse un sol muy fuerte sobre los ojos de la muchacha
tampoco es buena la sombra si el lomo del amante se achicharra
para hacer el amor.
Los pastos húmedos son mejores que los pastos amarillos
pero la arena gruesa es mejor todavía.
Ni junto a las colinas porque el suelo es rocoso ni cerca
de las aguas.
Poco reino es la cama para este buen amor.
Limpios los cuerpos han de ser como una gran pradera:
que ningún valle o monte quede oculto y los amantes
podrán holgarse en todos sus caminos.
La oscuridad no guarda el buen amor.
El cielo debe ser azul y amable, limpio y redondo como un techo
y entonces
la muchacha no vera el Dedo de Dios.
Los cuerpos discretos pero nunca en reposo,
los pulmones abiertos,
las frases cortas.
Es difícil hacer el amor pero se aprende.


Antonio Cisneros

Earth Lessons


.. Posted by Hello


Earth teach me quiet,
as the grasses are still with new light.

Earth teach me suffering,
as old stones suffer with memory.

Earth teach me humility,
as blossoms are humble with beginning.

Earth teach me caring,
as mothers nurture their young.

Earth teach me courage,
as the tree that stands alone.

Earth teach me limitation,
as the ant that crawls on the ground.

Earth teach me freedom,
as the eagle that soars in the sky.

Earth teach me acceptance,
as the leaves that die each fall.

Earth teach me renewal,
as the seed that rises in the spring.

Earth teach me to forget myself,
as melted snow forgets its life.

Earth teach me to remember kindness,
as dry fields weep with rain.


Author Unknown

Insonia


Aldeamento 24 horas, Estrada de Catete, LuandaPosted by Hello


Nas noites de insónia
converso contigo.
Questionas a eito
com esse teu jeito.
e eu, como a um amigo,
confio-te ainda
os meus pensamentos,
partilho momentos.
Analisas meus medos,
escutas segredos,
mas não vês o rio
que corre pelas faces,
nem sentes o frio
da falta do abraço.
Este ténue laço
de que tenho uma ponta,
solitária e tonta,
flutua a outra no espaço
sem tua mão, sem teu calor.
Porque nos perdemos, amor?


Helena Guimarães

Naufrágio


.. Posted by Hello

Para João Lopes

Ai a tristeza do vento
chorando...
Ai as nuvens indo à solta
em louca corrida
medrosas, fugindo à mão estendida...
Ai a solidão dos montes
despidos, à nossa volta
onde a vida aos poucos se consome
- seios nus ensanguentados
onde as raízes
morrem de fome...

... E nos rostos ensombrados
rondam saudades: - países
navegam velas: - distâncias...
Gestos parados
caladas ânsias
gritos sem voz...

Dorme o Nosso Senhor Só
dentro de cada um de nós,
envolvido pelo pó
que o vento remexeu e levantou.

Ai este Atlântico triste
que nos deu a nostalgia
dum mundo que só existe
no sonho que ele povoou.


Manuel Lopes
in 50 Poetas Africanos

Arrastões e assobios para o alto


.. Posted by Hello


1 – 10Jun2005, 12:00 horas, a polícia tem conhecimento, por informações, que algo poderá
estar para suceder em Carcavelos.
É detectada a afluência cada vez em maior número de indivíduos que se concentram
invariavelmente no mesmo sector de praia…
Cerca das 14:00 horas, protegidos pela multidão concentrada, um grupo de 50 criminosos
«liberta-se» como uma mola por uma parte do areal levando consigo tudo quanto podem.

Preocupação legítima, histeria mediática… Apelos claros á «vingança» de fascistóides,
manifestações inacreditáveis ao «orgulho branco», «soluções» induzidas e
publicitadas a «noites de cristal» nazis no início do século XXI!!!


2 – 18Jun2005, convocada e autorizada para as 14:00 horas a manifestação mais reaccionária,
xenófoba e com os objectivos mais hediondos que vi desde o 25Abr1974!!!

Ou é impressão minha ou, á complacência da Polícia em 10Jun sucedeu a irresponsabilidade
do Governo Civil e dos serviços de informações no dia de hoje.
O formalismo legal da convocatória é pervalecente relativamente á leitura constitucional
quanto a organizações como a que convoca a manifestação?
Quem se responsabilizará perante os desacatos que poderão ocorrer entre as 14:00 horas de
hoje e a madrugada de amanhã???

Há polícia que chegue para fazer face a «arrastões» no Martim Moniz, nas discotecas
africanas, no Bairro Alto, na 24 de Julho ou nos bairros limítrofes de Lisboa???

Desejo, sinceramente, que o que escrevo não passe de lamúria, injustificada e não se prove
que a comunidade «skin head» e os saudosos do antigamente sejam tão
respeitadores da lei quanto os «pescadores» de Carcavelos.


3 – Uns e outros estão a precisar de tratamento legal e policial…. Mas para isso seria preciso que vivessemos num Estado de Direito Democrático, algo em que acredito, mas que ninguém vê.

Vivemos ainda com o fantasma das perseguições, sevícias e ilegalidades das forças policiais 31
anos após o 25 de Abril. É tempo de perceber que a polícia se não é,
deve ser controlada pela lei, mas tem que fazer o seu trabalho em prol da comunidade e não
estar sempre sujeita ás pressões mediáticas, a mudanças de leme ou de
timoneiro.

Acima de tudo, os decisores políticos têm que se deixar, de uma vez por todas, de ser
simpáticos e politicamente correctos e, perante as informações dos técnicos,
idóneas e experientes, tomar as decisões que se impõem sem receio de perder votos… De
que nos vale a democracia se os democratas não assumem as suas
responsabilidades e. por isso, não a sabem defender??


4 – A polícia já não ó o papão que as nossas avós ameaçavam chamar quando não nos apetecia
comer a sopa. Isso, hoje, já não me preocupa.
O que me preocupa não são os «skin heads» nem os gangs de africanos a fazer apologia de
uma cultura «afro-americana» completamente desenquadrada, uns e
outros adeptos da provocação, uns por umas razões, outros por outras…. ambos servindo por
vezes propósitos alheios.

Preocupa-me o persistente assobiar para o lado de todos nós perante a desorganização, o
corporativismo e o desmoronamento visível do edifício da justiça.
Esse edifício, mais que qualquer outro, deveria ser o garante de um Estado Livre, de Direito,
Democrático e, por isso, altamente responsável e responsabilizado – não o é.

Nestas condições não admira que as pessoas vivam com medo e não exerçam a cidadania,
defendendo dessa forma a democracia.

Quantos de nós hoje, por exemplo, é testemunha de algum facto??
Quem é que é capaz de apresentar uma queixa contra um criminoso???
Que protecção dá a justiça a quem, corajosamente, queira defender a verdade??

E pronto, aqui vamos assistindo, impávidos e serenos a todos os arrastões e tropelias,
assobiando para o alto, olhando para o lado contrário áquele onde sabemos
estarem os problemas, cantando e rindo, alegremente!!!

Bucca Rosa


Posted by Hello


A tua boca rosa
húmida e exótica
é um porto de sonho
onde meu corpo de navio
lança a âncora do desejo
A tua boca rosa
macia, quente, preciosa
carnuda de tanta loucura
solta no meu peito
um milhão de cavalos
em desenfreado galopar
A tua boca rosa
fofa, doce, langorosa
quando beija ou toca
dá-me calor
arrepios, frémitos
ânsias, tonturas
sentindo-me eu desfalecer
e sempre na tua boca rosa o
utras tantas vezes renascer

A tua boca rosa...!


Manuel Martins Gaspar Tomé

Até amanhã, camaradas!


Álvaro Cunhal (1913 - 2005) Posted by Hello

Estes momentos costumam ser de unanimidade, falsa piedade e de nacional-porreirismo, não gosto por motivos idênticos nem de uma, nem de outras.

Confesso que não nutro qualquer simpatia por quem, tendo o poder de influenciar ou de mudar, o usa para impôr, em exclusivo, os seus ideais.

Por isso não nutri nunca qualquer simpatia por Álvaro Cunhal, o que não significa que não se dê valor a um adversário.
Os adversários são necessários e a unanimidade não é necessária para nada… Cunhal fez disso a sua luta até 25 de Abril, cedeu á tentação de tentar implementar outra.

Sabia que não era possível, na estratégia da «Guerra Fria» a implantação , por estas bandas, dos seus ideais – Yalta, determinou-o - nem por isso deixou de lutar pelo seu ideal.

Está por fazer, de forma desapaixonada e isenta toda a história do «Verão Quente»…Felizmente, como diz a IO, perdeu para Mário Soares, ganhando a democracia, por imperfeita e inacabada que esteja.

Homenagem ao político tenaz, coerente e corajoso.

Corpo Habitado

Image Hosted by ImageShack.us

Eugénio Andrade (1923 - 2005)


Corpo num horizonte de água,
corpo aberto
à lenta embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor das maçãs,
rendido de colina em colina,
corpo amorosamente humedecido
pelo sol dócil da língua.

Corpo com gosto a erva rasa
de secreto jardim,
corpo onde entro em casa,
corpo onde me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumo das espigas,
respirar
a doçura escuríssima das silvas.

Corpo de mil bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.

Corpo para beber até ao fim –
meu oceano breve
e branco,
minha secreta embarcação
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação.

Eugénio Andrade

Mar


Imagem e poema, daqui Posted by Hello


Mar!
Ah, Mar! Amar!
Mar... Mar olhar...
Marulhar.
Mar...
Amar...
No mar.


Maricell

Menina dos Olhos de Água



























Menina em teu peito sinto o Tejo
e vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
de água doce que corre sem parar
Menina em teus olhos vejo espelhos
e em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
rijo e tenro que nem sei explicar
Se houver alguém que não goste
não gaste, deixe ficar
que eu só por mim quero te tanto
que não vai haver menina para sobrar
Aprendi nos 'esteiros' com Soeiro
e aprendi na 'fanga' com Redol
Tenho no rio grande o mundo inteiro
e sinto o mundo inteiro no teu colo
Aprendi a amar a madrugada
que desponta em mim quando sorris
És um rio cheio de água lavada
e dás rumo à fragata que escolhi
Se houver alguém que não goste
não gaste, deixe ficar
que eu só por mim quero te tanto
que não vai haver menina para sobrar


Pedro Barroso

Eis-me aqui


Foto de António Ferreira de Sousa, em Caminhadas e descobertas em STP Posted by Hello



Estou aqui
a contar-te dos caminhos que percorro
velhos estreitos esventrados
caminhos de sulcos e de cabras onde
nossos avós colheram pão de côdea dura
estou aquia contar-te dos cheiros doces e acres
dos frutos tropicais
cheiros que se foram confundindo no sangue
que se afundou em docas e mares mas que emergiu
mais vermelho que o chão da nossa terra
estou aqui inteira viva irrequieta como pássaro
que acasala no equilíbrio de um ramo
e como tu quero ferir meus pés
no lençol de pedras que atapeta o ôbô
inundar de algas azuis o corpo reflectido
no espelho das calemas
estou aqui para escutar o vento no zinco dos casebres
e exorcisar os medos que vagueiam na linguagem do povo

estou aqui como tu
borboleta tricolor que pousa no eco das muralhas
e morre a ouvir histórias de um país calcinado


Olinda Beja

Árvore de Frutos


Imagem daquiPosted by Hello


Cheiras ao caju da minha infância
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques à minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cérebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!


António Cardoso

Canção do Silêncio


.. Posted by Hello


Ouvindo o silêncio das coisas remotas,
Distingo legendas que os outros não
lêem...
Vislumbro paisagens confusas, remotas,
- Silhuetas de imagens que muitos não
vêem!...

Desvendo os mistérios da selva distante,
Aonde costuma rugir o leão...
- Arroios cantando, num som murmurante,
Anharas perdidas p'ra além do sertão...

Capim verdejante nas húmidas chanas,
Lençol de esmeralda que o sol vai
corando...
Matizes da selva, luar das savanas,
Mabecos fugindo, pacaças pastando...

Silêncio das noites sombrias, caladas,
Segredos da selva, murmúrios da aragem...
-Holongos ligeiros, fugindo, em manadas,
Regatos correndo por entre a folhagem...

Latidos de hienas em torno dos quimbos,
Já dentro da noite, se a fome as aperta;
Quimbundas alegres, sachando os arimbos
Depois que o som cavo do goma as desperta

Chingufos ao longe - rufar permanente -
Chamando ao batuque de intensa folgança...

E os pretos, gingando pra trás e pra
frente,
Agitam as ancas na febre da dança!...

E a lua, do alto - qual "hostia boiante" -

Envolve o cenário num manto sidério...
- Canção do silêncio da selva distante,
Bem poucos entendem teu som de mistério!


M. Correia da Silva
In Cantares de Angola