Arrastões e assobios para o alto
sábado, junho 18, 2005
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1 – 10Jun2005, 12:00 horas, a polícia tem conhecimento, por informações, que algo poderá
estar para suceder em Carcavelos.
É detectada a afluência cada vez em maior número de indivíduos que se concentram
invariavelmente no mesmo sector de praia…
Cerca das 14:00 horas, protegidos pela multidão concentrada, um grupo de 50 criminosos
«liberta-se» como uma mola por uma parte do areal levando consigo tudo quanto podem.
Preocupação legítima, histeria mediática… Apelos claros á «vingança» de fascistóides,
manifestações inacreditáveis ao «orgulho branco», «soluções» induzidas e
publicitadas a «noites de cristal» nazis no início do século XXI!!!
2 – 18Jun2005, convocada e autorizada para as 14:00 horas a manifestação mais reaccionária,
xenófoba e com os objectivos mais hediondos que vi desde o 25Abr1974!!!
Ou é impressão minha ou, á complacência da Polícia em 10Jun sucedeu a irresponsabilidade
do Governo Civil e dos serviços de informações no dia de hoje.
O formalismo legal da convocatória é pervalecente relativamente á leitura constitucional
quanto a organizações como a que convoca a manifestação?
Quem se responsabilizará perante os desacatos que poderão ocorrer entre as 14:00 horas de
hoje e a madrugada de amanhã???
Há polícia que chegue para fazer face a «arrastões» no Martim Moniz, nas discotecas
africanas, no Bairro Alto, na 24 de Julho ou nos bairros limítrofes de Lisboa???
Desejo, sinceramente, que o que escrevo não passe de lamúria, injustificada e não se prove
que a comunidade «skin head» e os saudosos do antigamente sejam tão
respeitadores da lei quanto os «pescadores» de Carcavelos.
3 – Uns e outros estão a precisar de tratamento legal e policial…. Mas para isso seria preciso que vivessemos num Estado de Direito Democrático, algo em que acredito, mas que ninguém vê.
Vivemos ainda com o fantasma das perseguições, sevícias e ilegalidades das forças policiais 31
anos após o 25 de Abril. É tempo de perceber que a polícia se não é,
deve ser controlada pela lei, mas tem que fazer o seu trabalho em prol da comunidade e não
estar sempre sujeita ás pressões mediáticas, a mudanças de leme ou de
timoneiro.
Acima de tudo, os decisores políticos têm que se deixar, de uma vez por todas, de ser
simpáticos e politicamente correctos e, perante as informações dos técnicos,
idóneas e experientes, tomar as decisões que se impõem sem receio de perder votos… De
que nos vale a democracia se os democratas não assumem as suas
responsabilidades e. por isso, não a sabem defender??
4 – A polícia já não ó o papão que as nossas avós ameaçavam chamar quando não nos apetecia
comer a sopa. Isso, hoje, já não me preocupa.
O que me preocupa não são os «skin heads» nem os gangs de africanos a fazer apologia de
uma cultura «afro-americana» completamente desenquadrada, uns e
outros adeptos da provocação, uns por umas razões, outros por outras…. ambos servindo por
vezes propósitos alheios.
Preocupa-me o persistente assobiar para o lado de todos nós perante a desorganização, o
corporativismo e o desmoronamento visível do edifício da justiça.
Esse edifício, mais que qualquer outro, deveria ser o garante de um Estado Livre, de Direito,
Democrático e, por isso, altamente responsável e responsabilizado – não o é.
Nestas condições não admira que as pessoas vivam com medo e não exerçam a cidadania,
defendendo dessa forma a democracia.
Quantos de nós hoje, por exemplo, é testemunha de algum facto??
Quem é que é capaz de apresentar uma queixa contra um criminoso???
Que protecção dá a justiça a quem, corajosamente, queira defender a verdade??
E pronto, aqui vamos assistindo, impávidos e serenos a todos os arrastões e tropelias,
assobiando para o alto, olhando para o lado contrário áquele onde sabemos
estarem os problemas, cantando e rindo, alegremente!!!