Postulados
1 – O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente (Lord Acton);
2 – Quem parte e reparte e fica com a pior parte, ou é tolo ou não tem arte (provérbio popular);
3 – Quem domina o passado domina o futuro; quem domina o presente domina o passado (George Orwell, 1984);
4 – É tarde para a economia, quando a bolsa está vazia (provérbio popular);
5 – Não há guerra de mais aparato do que muitas mãos no mesmo prato (provérbio popular);
Ingenuidades
1 – A imprensa, em democracia, é completamente livre;
2 – Em democracia, todas as teorias conspirativas não são outra coisa que imaginação e delírio;
3 – Não há qualquer influência de organizações secretas no exercício do poder;
4 – O poder político determina o poder económico;
5 - Todos os agentes políticos, sem excepção, actuam sempre como parte da solução e não do problema e promovem, sem margem para dúvida, o interesse nacional;
Promessas nunca cumpridas
1 – O rico ceder voluntariamente parte do seu pecúlio ao pobre;
2 – O Estado ser o regulador e o garante eficaz do bem-estar dos seus cidadãos;
3 – O poder ser cedido sem recurso á lei;
4 – Não haver qualquer controlo, económico ou político, sobre a informação;
5 – Os agentes políticos serem apenas planeadores, executores e fiscalizadores do poder cedido pelo povo em acto eleitoral;
Arautos
1 – “Conspiração ataca presidente” (Correio da Manhã)
2 – “PGR recusa abrir escutas de Sócrates apesar de especialistas admitirem essa possibilidade” (Publico)
3 – “Parlamento vai investigar controlo de grupos de media” (Diário de Noticias)
4 – “Alerta em Belém: Cavaco quer saber mais sobre o caso TVI”(Jornal i)
5 – “Moniz e Manuela exigem demissão imediata de Sócrates” (24 horas)
A verdade
1 – Sócrates terá dito, enquanto era escutado, alguns mimos se comparado com o que Cavaco pode ter dito em privado sobre Soares (e outras forças de bloqueio). Todos metem o nariz no buraco da fechadura mas ninguém fala, em estado de direito, do primado da lei. De factos tão simples como o conhecimento real que actores, fora do sistema judicial, têm de pormenores processuais que, ou lhes são levados em bandeja… ou ávida e sofregamente procurados. Todos parecem olvidar (ou não olvidam porque definitivamente terão o tão almejado controlo) que os ventos que semeiam poderão redundar em enormes tempestades;
2 – Sócrates, que foi criado pelos media e levado ao colo por estes em face da alternativa Santana Lopes, será por eles destruído. Aconteceu antes e voltará a suceder. Os media apenas admitem o sistema de tráfico – tu dizes e eu transmito e em troca quero isto ou aquilo. Não há, não houve nunca, almoços á borla. A relação é biunívoca mas quando alimentar permanentemente o monstro se torna impossível, aquele torna-se repasto deste. Apenas Pinto da Costa, ao que se sabe, domina o monstro…porque lhe conhece os vícios e podres. Será??;
3 – Portugal não reformou o corporativismo, possui um sistema partidário com unidades que apenas pretendem assegurar os benefícios das respectivas unidades orgânicas e legalizou, há tempos atrás, os lobbies. Mais, de acordo com notícias recentes, qualquer conversa privada tida em público é susceptível de ser utilizada, quem sabe se judicialmente contra o seu autor. Trata-se aqui da ressurreição e potencial institucionalização da Legião Portuguesa, os famosos bufos;
4 – Qualquer (em absoluto) governo português ver-se-á sempre confrontado não apenas por todas as campanhas sujas mas pelas dificuldades (não estou a iludir… são mesmo dificuldades), populismo, irresponsabilidade, irracionalidade, falta de sentido de estado e desinteresse pelos superiores valores do país que a(s) oposição(ões) assumem com o maior descaramento e que são encaradas pelo povo com a bonomia, o marialvismo e a superficialidade que nos caracteriza;
5 - Nunca votamos de forma consciente e assertiva porque o nosso voto é dado apenas em função de impedir que este ou aquele ocupem o poder. Ninguém vota de forma positiva porque somos manipulados de forma bovina, é a inveja que é o motor de desenvolvimento nacional e somos permanentemente aldrabados de forma soez. Mas, verdade seja dita, ás 20:00 horas, conhecido o vencedor, já ninguém votou nele. “Estranho povo este, que não se governa, nem se deixa governar…” (Gaius Julius Caesar);
O que está a acontecer
1 – Muito mais que um ajuste de contas e vingança de estórias como as escutas a Belém ou o Estatuto dos Açores. Sendo a vingança um prato que se serve frio é dada pública evidência do facto e da conhecida falta de ética na política, mas demonstra, acima de tudo, o cinismo da bem-aventurada solidariedade institucional. Vai ser dado o passo mais ousado no controlo da situação – transformação do semi-presidencialismo em presidencialismo, puro e duro;
2 – Preparação de clima e de “factos” que criem na opinião pública a necessidade urgente de demitir Sócrates. Ficará, deste modo, também vingada a afronta feita á “má moeda” por Jorge Sampaio e que foi recentemente medalhado pelo ditador (palavras de Belmiro de Azevedo);
3 – “Golpe de estado” dentro do PSD dado que se a demissão ocorrer antes das directas, Ferreira Leite (com muita probabilidade) ou, seguramente, a facção cavaquista poderá ser reeleita com facilidade, na crença (que será veiculada como emergência, sendo absolutamente imprescindível para o futuro da Nação) que apenas ela (ou Marcelo Rebelo de Sousa, p.e.) podem salvar o país;
4 – Em nome dos “superiores interesses do país”, de repente ocorreu um blackout colectivo nos media que obrigou a que se suavizasse ou quase omitisse estes sórdido assunto das escutas de Sócrates… Quem atentou contra a liberdade de imprensa?? Utilize-se os princípios do jornalismo e responda-se sinteticamente ás perguntas sacramentais – quando, onde, como, por quem e porquê.
O OGE não pode ser o responsável único pelo assumir desse repentino eufemismo que dá pelo nome de… responsabilidade! Não pode! “Este não é o momento adequado para a estocada final, mas o cadáver está pronto a ser encomendado. Aguardem o meu sinal”. Ficam as mesmas perguntas a que nenhum jornalista ousará responder. Claro!;
5 – A direita mais retrógrada nunca perdoou a si própria a falta de controlo da situação que permitiu o 25 de Abril e muito menos a perda do poder, embora o sistema que sucedeu ao 24 de Abril tenha sido, na verdade, muito mais benevolente e economicamente rentável que o Estado Novo. Há anos que estão em curso manobras revanchistas que permitam retroceder no tempo de modo a que seja uma… inevitabilidade nacional. Entretanto, procedeu-se ao arranque da campanha eleitoral para as presidenciais, de modo implacável e de forma que a derrota do candidato que Sócrates apoiar seja tão grande, tão unânime, que a demissão seja um caso de misericórdia. Sócrates será, então, imunizado, alvo de condecoração, elogiado nos seus deveres para com o estado português… e jogado no contentor do lixo mais próximo. Há outros desígnios que realmente contam, muito mais importante que o PSD ou o país.