Férias... há 40 e tantos anos
quarta-feira, maio 11, 2005
Chega a altura de férias…
Sinto, muitos dias antes da partida, a agitação da minha mãe na preparação de tudo quanto era necessário durante o mês que iríamos estar longe…
Vejo nitidamente a agitação e sinto a saudade no seu olhar.
Relembro a exagerada quantidade de coisas que preparava e os risos que isso provocava.
O dia da partida!
O primo Querubim chegou, vagarosamente, pelas ruas térreas e escavacadas da Brandoa, no seu sumptuoso DKW.
Viagem inicial apenas com as luzes do automóvel e a entrada na cidade…
Depois a passagem na Praça de Espanha com todas aquelas luzes, a entrada num mundo diferente…
Recordo, extasiado, as luzes de Lisboa como se tivesse sido transportado para um outro mundo.
Chegada a Santa Apolónia agitada e fervilhante de actividade…
A entrada no comboio-correio, á meia-noite, completamente apinhado de gente…
A viagem a pé, quase sempre, sentando-me sobre as malas, episodicamente, por troca com a minha irmã.
A paragem em todas as estações e apeadeiros…
Anos depois, pelas várias experiências pessoais e pelo «ensino», saberia sem dificuldade o nome de todas as estações…
Chegada de manhã a Coimbra e a mudança de comboio…na altura em que o comboio para a Lousã passava pelo meio da cidade…
Manhã alta… cada vez mais perto.
Sabia estar cada vez mais perto… O lento andamento do comboio permitia-me ver que boa parte das pedras entre os carris eram lisas como as que cobriam os caminhos das serranias para onde ia.
Lousã…e nova mudança de transporte.
Desta vez para um autocarro antiquíssimo…
Bagagens sobre o tejadilho e aí vamos nós curva após curva em direcção a Arganil.
Pelo caminho ficara já parte do farnel que a minha mãe tinha religiosamente preparado e viajava num cesto de vime.
Góis… a ponte romana sobre o Rio Ceira.
A emoção cresce.
Uns quilómetros á frente sabemos estar quase a família toda á espera…
O autocarro gingão bamboleia-se numa curva, á direita vê-se a povoação de Sequeiros… é a seguir.
O meu pai chama a atenção do cobrador que sairemos na paragem seguinte – Sarnôa, junto á Capela da Senhora da Boa Viagem.
Á saída de nova curva….uma pequena recta, dentro do autocarro os sorrisos rasgam-se…lá fora ao longe, entre as mimosas e os pinheiros, vêm-se braços no ar de alegria.
Cumprimentos, abraços, beijos, risos e lágrimas de felicidade pelo reencontro enquanto a bagagem escorrega por uma corda junto ás janelas do autocarro.
Arrumar a bagagem na mula que o meu avô traz.
Foto de recordação e início da última parte da viagem, já a meio da tarde, que nos levará dali até á aldeia de Vale de Asna.
Por cada aldeia que se passa o mesmo ritual… os abraços, os beijos, a alegria…e os sucessivos e irrecusáveis convites para petiscar qualquer coisa e molhar a garganta.
O alcatrão ficou para trás… terra batida agora até ao fim, sempre a subir.
Estrada só até Linhares, daí por diante será a subida de Martim Pires que nos deixará na fronteira entre Góis e Arganil.
Volta-se a encontrar estrada florestal na Celada das Eiras onde se disfruta de uma paisagem deslumbrante… e onde é obrigatório parar, para petiscarmos todos e recuperar do esforço dispendido na íngreme subida e para, depois do repasto e de mais dois dedos de conversa, começarmos a separação para as várias aldeias… até aos dias seguintes, nos trabalhos do campo, nas convívios familiares ou nas Festas de Santa Catarina ou do Senhor da Amargura.
Finalmente a chegada!
Retrato de vinte e quatro horas de viagem num país cinzento e tristonho, a meio do ultimo quartel do século vinte, onde se passava de um bairro clandestino para a civilização e daí para um isolamento quase absoluto e um modo de vida quase feudal.
Mas, mesmo assim, com que emoção recordo estes passos…
Que saudade!!
Sinto, muitos dias antes da partida, a agitação da minha mãe na preparação de tudo quanto era necessário durante o mês que iríamos estar longe…
Vejo nitidamente a agitação e sinto a saudade no seu olhar.
Relembro a exagerada quantidade de coisas que preparava e os risos que isso provocava.
O dia da partida!
O primo Querubim chegou, vagarosamente, pelas ruas térreas e escavacadas da Brandoa, no seu sumptuoso DKW.
Viagem inicial apenas com as luzes do automóvel e a entrada na cidade…
Depois a passagem na Praça de Espanha com todas aquelas luzes, a entrada num mundo diferente…
Recordo, extasiado, as luzes de Lisboa como se tivesse sido transportado para um outro mundo.
Chegada a Santa Apolónia agitada e fervilhante de actividade…
A entrada no comboio-correio, á meia-noite, completamente apinhado de gente…
A viagem a pé, quase sempre, sentando-me sobre as malas, episodicamente, por troca com a minha irmã.
A paragem em todas as estações e apeadeiros…
Anos depois, pelas várias experiências pessoais e pelo «ensino», saberia sem dificuldade o nome de todas as estações…
Chegada de manhã a Coimbra e a mudança de comboio…na altura em que o comboio para a Lousã passava pelo meio da cidade…
Manhã alta… cada vez mais perto.
Sabia estar cada vez mais perto… O lento andamento do comboio permitia-me ver que boa parte das pedras entre os carris eram lisas como as que cobriam os caminhos das serranias para onde ia.
Lousã…e nova mudança de transporte.
Desta vez para um autocarro antiquíssimo…
Bagagens sobre o tejadilho e aí vamos nós curva após curva em direcção a Arganil.
Pelo caminho ficara já parte do farnel que a minha mãe tinha religiosamente preparado e viajava num cesto de vime.
Góis… a ponte romana sobre o Rio Ceira.
A emoção cresce.
Uns quilómetros á frente sabemos estar quase a família toda á espera…
O autocarro gingão bamboleia-se numa curva, á direita vê-se a povoação de Sequeiros… é a seguir.
O meu pai chama a atenção do cobrador que sairemos na paragem seguinte – Sarnôa, junto á Capela da Senhora da Boa Viagem.
Á saída de nova curva….uma pequena recta, dentro do autocarro os sorrisos rasgam-se…lá fora ao longe, entre as mimosas e os pinheiros, vêm-se braços no ar de alegria.
Cumprimentos, abraços, beijos, risos e lágrimas de felicidade pelo reencontro enquanto a bagagem escorrega por uma corda junto ás janelas do autocarro.
Arrumar a bagagem na mula que o meu avô traz.
Foto de recordação e início da última parte da viagem, já a meio da tarde, que nos levará dali até á aldeia de Vale de Asna.
Por cada aldeia que se passa o mesmo ritual… os abraços, os beijos, a alegria…e os sucessivos e irrecusáveis convites para petiscar qualquer coisa e molhar a garganta.
O alcatrão ficou para trás… terra batida agora até ao fim, sempre a subir.
Estrada só até Linhares, daí por diante será a subida de Martim Pires que nos deixará na fronteira entre Góis e Arganil.
Volta-se a encontrar estrada florestal na Celada das Eiras onde se disfruta de uma paisagem deslumbrante… e onde é obrigatório parar, para petiscarmos todos e recuperar do esforço dispendido na íngreme subida e para, depois do repasto e de mais dois dedos de conversa, começarmos a separação para as várias aldeias… até aos dias seguintes, nos trabalhos do campo, nas convívios familiares ou nas Festas de Santa Catarina ou do Senhor da Amargura.
Finalmente a chegada!
Retrato de vinte e quatro horas de viagem num país cinzento e tristonho, a meio do ultimo quartel do século vinte, onde se passava de um bairro clandestino para a civilização e daí para um isolamento quase absoluto e um modo de vida quase feudal.
Mas, mesmo assim, com que emoção recordo estes passos…
Que saudade!!