Sonho de Liberdade




de todas as pradarias
Senhor
dirigida a Vós,
uma súplica,
uma prece,
ecoará como um grito,
E o meu relincho
Relincharei.
erguendo as patas para o céu.
pararei à beira de abismos,
não cairei nas profundezas;
Por vossa providência
especialmente para mim.
sentir o Sol nascer,
cheirar os verdes, amarelos e vermelhos;
as brisas da Primavera!
aspirar pelas narinas frementes
aquecer-me com o frio,
por essa vasta imensidão;
Deixa o meu espírito partir de madrugada
salpicada de malmequeres e de papoilas também.
correndo à desfilada pela pradaria,
Oh, Senhor! Deixai-me ser como cavalo branco


Sonho de Liberdade (*)




Manuel Martins Gaspar Tomé



(*) Este poema lê-se quer de baixo para cima, onde se encontra o título,
quer de cima para baixo

Peço desculpa pela violência, a poesia segue dentro de momentos...


Que ninguém esqueça!





O rosto da mentira...


Diálogo á moda de Cavaco.

Faro - onde um porteiro foi despedido por ter cumprido as suas obrigações.


Protesto estudantil = Geração rasca!

Buzinão



Resultados práticos...




Canção de arroz





À música de Kitaro
“A Child Without a Father”


monumento de pranto
movimento lento

sonho que sinto
tanto espanto
à sombra deste canto
sem tempo

água é ungüento
enquanto um córrego
desce em labirintos
e cala o colo santo

o grito do arroz
novamente se iguala
ao sol nos altos montes
que se escondem
em sobressalto
para o parto
de um outro momento...

assim seja,
posto que a vida de Deus
é muito mais
que a ferida de uma bala!



João de Abreu Borges









Kitaro
A Child Without A Father

Ser Escravo





A África é o meu país
Nasci escravo
Meu lar foi um porão de um navio negreiro
Muito tarde conheci a luz do sol
Meu mundo foi a senzala
Meus dias foram tão negros
quanto a minha pele
De piche meu coração foi impregnado
Sempre vivi à sombra do meu senhor
Como escravo jamais pude sonhar
Dá vida só conheci um triste canto:
"Pau, pão e pano"
Do meu feitor perdi o medo
Porque a morte já não temia
Viver ou morrer tanto fazia
Da senzala corri e um quilombo abracei
Nos batuques dos tambores a felicidade
beijei
Nas rodas de capoeiras as dores da alma soltei
Zumbi eu procurei...procurei....procurei
Nas esquinas do tempo eu o encontrei
Aos seus pés me curvei e chorei
A minha Carta de Alforria eu lhe implorei
Mais como resposta eu escutei:
Escravo nasceste e escravo morrerás.


Zena Maciel
Sal da Vida

o mágico sopro das calemas





O movimento da luz aquece
as paredes de vidro do teu coração
deixa-me dizer-te outra vez
o mágico sopro das calemas
de oiro em brasa no ouvido
teia de sol batuque de saliva
de um deus perfeito que constrói
a sinopse de prata do teu útero
à sombra das folhas do tabaco
deixa-me escutar outra vez
de oiro em brasa no ouvido
o teu perfume de jibóia sobre a nuca.


José Luis Mendonça

Pensamento do dia

Palavras do exilado





as árvores já perderam a folhagem
as águas endureceram nos riachos
e pássaros pequenos de peito encarniçado
disputam vorazmente invisíveis migalhas
esta é a estação da máxima nudez
o clima em que se engendra o regressar
do solitário e do meticuloso
animais rapidíssimos de pelo pardacento
esgaravatam transidos soltando breves guinchos
de longe a longe venenosas bagas brilham
eu levanto-me cedo todas as manhãs
e vou fazendo registos destas coisas
enquanto aguardo notícias do meu sul



Luís Amorim de Sousa
Ultramarino

Ronda





Na dança dos dias
meus dedos bailaram...
Na dança dos dias
meus dedos contaram
contaram, bailando
cantigas sombrias...

Na dança dos dias
meus dedos cansaram...

Na dança dos meses
meus olhos choraram
Na dança dos meses
meus olhos secaram
secaram, chorando
por ti, quantas vezes!

Na dança dos meses
meus olhos cansaram...

Na dança do tempo,
quem não se cansou?!

Oh! dança dos dias
oh! dança dos meses
oh! dança do tempo
no tempo voando...

Dizei-me, dizei-me,
até quando? até quando?


Alda Lara

Purificação da ilha






Entrega-me o teu destino de fim de semana
Rasgado sobre os círculos do mungolongolo
Erguido sobre o fogo não extinto das masuíca
Sobre o quitelembe dos corpos saciados

Entrega-me o ventre branco das tuas praias
Onde a gestação dos passos se interrompe
E os rituais de iniciação apodrecem

Entrega-me o quissocossoco dos teus nascimentos
E o conteúdo das tuas mortes desfeito em terra

Vamos dar-te o fogo do sol antigo!
Libertar o teu nome de sal dos cristais desnaturados
O teu corpo violado no exotismo das palmeiras
Que abafam o lamento das sereias
Vamos cingir-te com panos de lemba
E expor os novos crâneos que renascem
Ao vento rijo das calemas

Vamos fazer das tuas mortes vida ausente
Vamos dar-te o fogo do sol antigo!



Arnaldo Santos

Mãos




Mãos que moldaram em terracota a beleza e a serenidade do Ifé.
Mãos que na cera polida encontram o orgulho perdido do Benin.
Mãos que do negro madeiro extraíram a chama das estatuetas olhos de vidro
e pintaram na porta das palhotas ritmos sinuosos de vida plena:
plena de sol incendiando em espasmos as estepes do sem-fim
e nas savanas acaricia e dá flores às gramíneas da fome.
Mãos cheias e dadas às labaredas da posse total da Terra,
mãos que a queimam e a rasgam na sede de chuva
para que dela nasça o inhame alargando os quadris das mulheres
adoçando os queixumes dos ventres dilatados das crianças
o inhame e a matabala, a matabala e o inhame.


Mãos negras e musicais (carinhos de mulher parida) tirando da pauta da Terra
o oiro da bananeira e o vermelho sensual do andim.
Mãos estrelas olhos nocturnos e caminhantes no quente deserto.
Mãos correndo com o harmatan nuvens de gafanhotos livres
criando nos rios da Guiné veredas verdes de ansiedades.
Mãos que à beira-do-mar-deserto abriram Kano à atracção dos camelos da aventura
e também Tombuctu e Sokoto, Sokoto e Zária
e outras cidades ainda pasmadas de solenes emires de mil e mais noites!


Mãos, mãos negras que em vós estou pensando.


Mãos Zimbabwe ao largo do Indico das pandas velas
Mãos Mali do sono dos historiadores da civilização
Mãos Songhai episódio bolorento dos Tombos
Mãos Ghana de escravos e oiro só agora falados
Mãos Congo tingindo de sangue as mãos limpas das virgens
Mãos Abissínias levantadas a Deus nos altos planaltos:
Mãos de África, minha bela adormecida, agora acordada pelo relógio das balas!


Mãos, mãos negras que em vós estou sentindo!


Mãos pretas e sábias que nem inventaram a escrita nem a rosa-dos-ventos
mas que da terra, da árvore, da água e da música das nuvens
beberam as palavras dos corás, dos quissanges e das timbilas que o mesmo é
dizer palavras telegrafadas e recebidas de coração em coração.
Mãos que da terra, da árvore, da água e do coração tantã
criastes religião e arte, religião e amor.


Mãos, mãos pretas que em vós estou chorando!



Francisco José Tenreiro

Batata africana





Sinto a garganta
muito quente
não consigo
engolir
esse produto
disseram-me
que tenho
doença da lua
e o médico
de família
diz que
consegue
tratar tudo
mas os outros
que lá foram
não voltaram
e o curandeiro
disse que melhoraram
mas ninguém sabe
se morreram ou não
no entanto o ocidente
aplaude
diz que há melhorias
na verdade
diminui-se
a pobreza
quando morrem
os pobres
essa é a nossa lógica
infelizmente
assim acontece!


Domingos Pedro

Viage

Foto de Mike Danzenbaker



Para habitar as planícies da ausência
e escalar os montes de tempo
que não vives

eis a secreta viagem
duma ave imaginária
em busca do instante
onde tudo recomeça


Armando Artur

Haidi nós!!



aqui para todos os gostos... mas este está espantoso!!
Vale bem a visita.

Feliz Ano Novo




"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante, vai ser diferente."


Carlos Drummond de Andrade


Feliz Ano Novo!