O Meu Demónio
quarta-feira, novembro 09, 2005
Tempos houve em que o meu demónio ria,
E eu era uma luz em jardins soalheiros,
Tinha jogo e dança por companheiros
e o vinho do amor que me inebria.
Tempos houve em que o meu demónio chorava,
E eu era uma luz em jardins de crueldade,
Tinha por companheira a humildade
Que a casa da pobreza iluminava.
Hoje o meu demónio não ri nem chora,
Eu sou uma sombra num jardim perdido,
E o meu companheiro, pela morte enegrecido,
É o silêncio vazio de antes da aurora.
Georg Trakl (1887-1914)
(in "Outono Transfigurado";
Tradução: João Barrento)