O Sapo e o Poeta
quarta-feira, maio 31, 2006
Alguns gordos e felizes sapos
Ainda batem longos, longos papos
Nos seus lodosos e felizes charcos
Marcos dessa civilização
Que imuna a emoção,
Que desumana o convívio.
Tanto canto de sereia,
Uma filáucia que se ateia
Nas tribos, nos saraus, à mesa,
Uma bazófia burguesa,
Burgomestres emproados,
Sabujos entronisados.
Estamos ficando enfermos
Qual um roseiral apétalo,
Qual noite que esqueceu o orvalho,
Órfãos pensamentos, acéfalos,
Na ventura de virtual sermos
Se virosos não tombarmos falhos.
Estamos deixando poluir-se o amor,
Esvaziar-se a ânsia do sonho impossível,
Grassar a epidemia do torpor,
Arder a brenha, esfumar as estrelas,
Sobejar o medo, desalentar a paz,
Fugir a vida ao escondê-la.
Enquanto isso ainda há gordos sapos
Que batem longos, longos papos,
Que têm a noite, as estrelas, o tempo de amar
Na cumplicidade do silêncio e do luar.
Oh! Trevas, Oh! Bruxas, alerta:
Transformem em sapo este poeta.
Francisco Simões