Mãos dadas
terça-feira, maio 02, 2006
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus
[companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes
[esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos
[afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos
[dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma
[história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a
[paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas
[de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei
[raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo
[presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
In Reunião