Portugal em Paris





















Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.


Vi minha pátria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
despejada nas ruas de Paris.


E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quiz
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.



Manuel Alegre

Livre Livre Livre





















É possível falar sem um nó na garganta

é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.



Manuel Alegre

O 24 de Abril por Jorge de Sena




















A Canalha




Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo sem sequer prazer !
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta !
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas !
Há que esmagar a DDT, penicilina
e paus pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrém.




Jorge de Sena
7 de Dezembro de 1971

No me llames estranjero

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No me llames extranjero,
porque haya nacido lejos,
o porque tenga otro nombre
la tierra de donde vengo.

No me llames extranjero,
porque fue distinto el seno,
o porque acunó mi infancia
otro idioma de los cuentos.

No me llames extranjero
si en el amor de una madre,
tuvimos la misma luz, en el canto y en el beso,
con que nos sueñan iguales las madres contra su pecho.

No me llames extranjero,
ni pienses de dónde vengo,
mejor saber dónde vamos,
adónde nos lleva el tiempo.

No me llames extranjero,
porque tu pan y tu fuego,
calman mi hambre y mi frío,
y me cobija tu techo.

No me llames extranjero,
tu trigo es como mi trigo,
tu mano como la mía,
tu fuego como mi fuego
y el hambre no avisa nunca,
vive cambiando de dueño.

Y me llamas extranjero …
porque me trajo un camino,
porque nací en otro pueblo,
porque conozco otros mares
zarpé un díade otro puerto,
si siempre quedan iguales
en el adiós los pañuelos
y las pupilas borrosas
de los que dejamos lejos.
Los amigos que nos nombran
y son iguales los rezos
y el amor de la que sueña
con el día del regreso.

¡¡¡ NO ME LLAMES EXTRANJERO !!!
Traemos el mismo grito, el mismo cansancio viejo
que viene arrastrando el hombre desde el fondo de los tiempos,
cuando no existían fronteras, antes que vinieran ellos …
Los que dividen y matan, los que roban, los que mienten,
los que venden nuestros sueños,
los que inventaron un día esta palabra … estranjero.

No me llames extranjero
que es una palabra triste,
que es una palabra helada
huele a olvido y a destierro.

No me llames extranjero
mira tu niño y el mío
cómo corren de la mano
hasta el final del sendero

No los llames extranjeros, ellos no saben de idiomas,
de límites ni banderas, míralos se van al cielo
con una risa paloma, que los reúne en el vuelo.

No me llames extranjero piensa en tu hermano y el mío,
el cuerpo lleno de balas besando de muerte el suelo.

Ellos no eran extranjeros, se conocían de siempre;
por la libertad eterna, igual de libres murieron.

¡¡¡ No me llames extranjero !!!

Mírame bien a los ojos,
mucho más allá del odio,
del egoísmo y el miedo

¡Y verás que soy un hombre!

¡¡¡ NO PUEDO SER EXTRANJERO !!!



Rafael Amor
de uma apresentação gentilmente enviada por Aires Bustorff


A rentabilidade do inferno em... discurso directo!


























Imagem daqui





Este testemunho, só assim o posso classificar, anónimo, foi publicado em 07Fev2003, cerca de um mês antes da intervenção anglo-americana no Iraque no site da TSF, quando esta emissora permitia os comentários.

Estava inserido numa notícia em que o ministro Nuno Morais Sarmento, com visível enfado, anunciava, enquanto porta-voz do governo de Durão Barroso a "notável" (como se recordam) medida de Paulo Portas que consistiu na criação do "Dia das Forças Armadas" que passar-se-ia a comemorar a cada dia 24 de Junho.
Penso que o autor deste escrito teve já tempo de se arrepender, pelo menos no que diz respeito ao Iraque, ele e muitos, muitos outros...
Todos quantos foram obrigados a pegar em armas e efectivamente lutar, correr risco de vida, ver matar e morrer, lutar, apesar disso, com honra, de ambos os lados da guerra qualquer que tenha sido a motivação, em todos os teatros de operações sentir-se-ão ultrajados, legitimamente ultrajados...
O depoimento deste comentador anónimo é tristemente relevante... por pôr a nú uma certa maneira muito sui generis como uma parcela significativa da população portuguesa encara (e encarou) a guerra e que, infelizmente, por ter tido eco... fez escola.
O recente encerramento da embaixada portuguesa em Bagdade e o «convulsivo choro» de Marques Mendes a esse respeito, fez-me lembrar, também, este comentário pejado de oportunismo, o mesmo que nos fez embarcar na «cházada» da Lajes e que pretendia garantir para as empresas de construção civil uma fatia da reconstrução do infeliz e devastado Iraque.

Deixo-vos com o depoimento:




"Sou militar reformado em marinheiro da Marinha.
A minha safa foi a Guerra Colonial, e depois o 25 de Abril. Parece contraditório, mas não é.
Até chamarem-me para a guerra, não ganhava muito, as dificuldades eram muitas.
Em bom rigor não houve um chamamento, pois a malta até se matava para ir para lá. Ir para Angola para mim significou (por isso é que nos atropelávamos) receber 10 vezes o que cá recebia. Ou seja, ganhava cá 1700 escudos, e fui lá ganhar durante 6 anos cerca de 17.000 escudos. Era um simples marinheiro, mas ganhava lá mais que cá o ministro da marinha, tudo legal, constava do boletim de vencimento.
Eu e a minha mulher, tinhamos uma bela casa lá posta à disposição pelo Serviço, podia ir a toda a hora à cantina. Foram 6 anos de poupança total.
Guerra, nem vê-la. A única que em que combati foi para poder ser chamado para Angola, mudar a minha vida. E como eu, muitos outros. Podem crer que nos matávamos todos para pôr lá os pés ! Todos queríamos o mesmo !
E hoje é a mesma coisa quando há lugares para a Bósnia, Timor, ou outro lado qualquer. Até chovem cunhas !
Combati e vi combater numa terrível guerra: a guerra das cervejas (as cucas), envolvendo brancos, pretos e mestiços lá na cantina do serviço. Boas amizades então se faziam…
Entretanto, deu-se o 25 de Abril. Eu pensava que a mama acabou.
Mas veio o Vasco Gonçalves e aumentou a malta para o dobro, porque não faltou gente a chorar que a guerra era um inferno ( « nem mais um soldado para as colónias » ).
E ainda, como vi tantos colegas a choramingar e a fazer o mesmo, falei com um médico que me arranjou os papéis, e estou desde então dado como deficiente. Até vale bem a pena porque pago muito menos de IRS, e o carro que comprei no ano passado ficou-me muito barato, já que a minha deficiência justificou a isenção de imposto automóvel. Razão tinha esse médico, em dizer-me que só se eu fosse parvo é que não me dava como deficiente das forças armadas.
Lembro-me da frase do Doutor : « não sejas parvo, o Estado logo te agradece ! ». E ao que oiço, existem 400.000 ex-combatentes como eu que fizeram o mesmo. E agora o Paulo Portas ainda quer aumentar os Ex-combatentes, eu pelo sim pelo não já meti os papéis !Com o dinheiro que trouxe de Angola (para lá não levei nenhum) comprei 2 andares a pronto pagamento, e um automóvel novinho em folha, tudo dinheiro na mão. Nunca fiquei a dever nada a ninguém. E por isso nunca fui a um Banco pedir um tostão que fosse. Sempre detestei fazer figuras tristes. Reformei-me com 39 anos de idade, no auge da minha saúde. Os anos de Angola contaram a dobrar para a reforma. Fiquei logo com a reforma, e assistência médica e medicamentos á borla. Tretas ? Nem pensar !
Fui e sou um homem honesto, não devo nada a ninguém. Fiz o que fizeram muitos e muitos colegas do quadro, só que assumo ! Nunca pedi nada a ninguém, limitei-me a cumprir ordens dos meus superiores hierárquicos, como bom militar que sempre fui. Até a história dos papéis da deficiência, foi uma imposição de um médico capitão de fragata. Toda a unidade já tinha o papel, menos eu, não podia ser… Passo hoje o meu tempo numa pequena quinta que tenho perto do Azeitão, entretido na horta e nos jardins.
Mas o melhor tempo que passei foi em Angola. Nunca fui um retornado, porque fui lá destacado para ir ganhar o meu ! E como eu tantos e tantos outros colegas.
Apesar de mais velho, ainda estava capaz, eu e a minha mulher, de ir para o Iraque !"

Três visões do inferno























NOITE INFERNAL



Esta mágoa em noite de cacimbo
martela lentamente o pensamento
no instante em que ruge o avião
partindo o silêncio com estrondo...
as bombas vomitando o fogo
que a combustão do napalm espalha
nas aldeias de fantasmas famintos
que matam todas as esperanças
da gente pobre e franzinas crianças
que tentam fugir de qualquer jeito
- vergonha da pátria sem o proveito!


Meus olhos brilharam de espanto
ao verem a sanzala em chamas...
ali sufocadas no calor das labaredas
ficaram as crianças de choro abafado,
bombas a rasgar sulcos nas veredas
por onde se arrastavam os corpos
queimados num sofrimento danado.


Quando a consciência salta o orvalho
por um lapso de tempo vi o inferno
com as bombas riscando os céus...
o rebentamento de efeito medonho
rasgou as palhotas com gente dentro
e o aniquilamento daquela sanzala
deixou-me preso à sequência da morte
com a garganta presa e sem fala.


Um cheiro intenso ataca as narinas
perde-se a seiva nas balas de fogo
e dilui-se o medo do alastramento
de tantas queimadas feitas à toa...
o absurdo de quem manda no jogo
está muito longe, talvez em Lisboa!



Joaquim Coelho
Onzo, 1962
in "Espaço Etéreo"




ALDEIA QUEIMADA




Mas
nas noites
desparasitadas de estrelas
é que as hienas
actuam.

É
de cinzas
o vestígio das palhotas.



José Craveirinha
in "Babalaze das Hienas"





AUTOBIOGRAFIA



Não existe mais
a casa onde nasci
nem meu Pai
nem a mulembeira
da primeira sombra.

Não existe o pátio
o forno a lenha
nem os vasos e a casota do leão.

Nada existe
nem sequer ruínas
entulho de adobes e telhas
calcinadas.

Alguém varreu o fogo
a minha infância
e na fogueira arderam todos os ancestres.



Costa Andrade
In “Palavra de Poeta”

Benguela











Foto de Frederico Sá Pinto, aqui





"obrigado por me teres dado a "Mena", a Irmã que
nunca tive"



Numa das longas conversas,
Que tive com minha Avó
Perguntei-lhe se conhecia Benguela.
A minha Avó respondeu-me:
Conhecer eu não conheço,
Mas já ouvi falar dela.
Perguntei-lhe, se conseguia,
Num mapa localizar.
Ou por seus olhos cansados
Ou porque o mapa era velho.
Precorreu-o de alto a baixo
Não conseguiu encontrar.
Para eu não ficar triste,
Pediu-me lápis de cor,
E em seu estilo Naiff,
Sobre uma folha branca,
Com o castanho fez vários riscos,
Com o vemelho fez bolinhas
Chamou-lhe Acácias em flor.
Dum lado e de outro de um morro,
Desenhou duas baías.
Que mais pareciam contorno,
De dois seios de mulata.
Com o azul pintou o mar,
Com o amarelo fez um sol,
A uma chamou-lhe Azul.
A outra chamou-lhe Farta.
Três praias mais desenhou,
A uma chamou Caota...
E Caotinha à mais pequena.
Mais ao lado, para mim,
A mais bonita...
Chamou-lhe praia Morena
Com o mesmo azul da praia,
Fez um rio.
A preto pintou um barco...
Com o amarelo bananas,
De resto tudo era verde...
Chamou-lhe rio Cavaco.


Segurou naquele desenho,
Como não sabia ao certo,
Em que lugar no mapa,
Deveria colocar!
Disse-me escuta meu neto.
Quando para o sul viajares
E chegares a uma cidade
Com praias maravilhosas,
Com acácias floridas,
E muitas mulheres bonitas,
Nas ruas ou à janela.
Pára...
Porque ou já é, ou estás perto
Dessa Cidade tão linda,
A que chamam de Benguela.




Olimpio C. Neves

(Gentilmente enviado pelo amigo Aires Bustorff)

Soneto





















Maputo, foto daqui




Eu tenho a pagar 10 e na carteira
Apenas tenho 8. Eis a arrelia.

Eis-me buscando em mente uma maneira
De pagar o que devo em demasia.

E fico às vezes nisto todo o dia,
Um dia inteirinho em estúpida canseira.
Se busco distrair-me, de vigia,
Olha-me a rir a dívida grosseira.

E entretanto na rua vão passando
Carros de luxo, altivos salpicando
O lodaçal dos trilhos sobre mim...

E sinto, na revolta, o algarismo,
Do trono do brutal capitalismo,
A rir de nós, os bobos do festim!



Rui de Noronha

Timor-Leste: paixão do poeta



























(...)
«I weep for Adonais
because he is dead».

Eu choro por Adonais
porque morreu.

Não está mal... a tradução,
mas tens razão!
Eu sou português e não
falo com a boca cheia.
Esta mania lusíada
de cuspir no chão é feia.
Nós não vivemos na selva.

E ela, tola-lograda:
- Don't be silly. Há o fado!
I like Fado. Não gostas!
Tu tens a melena cheia
de brilhantina. You look
almost like a fadista!

Passei a mão pela testa
e desgrenhei a madeixa,
dizendo: - Queres morangos,
figos amoras ou beijos...
(...)



Ruy Cinatti
in “Manhã Imensa”

Contrastes



















Na dor contida
as mãos atadas
Na vida ferida
a fé abalada
Na corda bamba
o medo presente
Na cor da esperança
a fuga latente
No sorriso do rosto
discreto desgosto
Na tristeza da face
eternos contrastes



Zena Maciel

What a wonderful world



















Em manobra para aterragem em Mbanza Congo





I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself, what a wonderful world

I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself, what a wonderful world

The colours of the rainbow, so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shakin' hands, sayin' "How do you do?"
They're really saying "I love you"

I hear babies cryin', I watch them grow
They'll learn much more than I'll ever know
And I think to myself, what a wonderful world
Yes, I think to myself, what a wonderful world

Oh yeah



Louis Armstrong

Ode solitária





















Misturam-se as ideias num concerto atonal,
esvoaçam palavras com a brisa que vem da chana.
Palavras de mensagem que perderam o Norte
como grãos de uma areia leviana
varrendo a paisagem matinal
dum Namibe que cheira ainda a morte.

A solidão do poeta
na sua casa assombrada,
tem a dimensão abissal
dum Kombaditókua no deserto.
Murmúrio de uma vida asceta
com factos cheios de nada,
regressos e batalhas adiadas,
vitórias apenas vislumbradas,
ladainhas de aprendiz de profeta
com uma voz de modelar incerto!
Na casa assombrada do poeta
a maravilhosa criança morreu no feto.

Lá fora ribomba o temporal.
Trovões, aguaceiros, vento em rabanadas
que ameaçam cada vez mais perto
empapando os caminhos da História!
Tempo imoral de fantasmas de gesta
que correm do passado para o futuro.

E a solidão do poeta no ermo da sua casa,
no beiral da tempestade em festa,
entre quatro paredes que não têm tecto,
sobrevive como a estátua equestre
duma velha fraternidade
desprovida de objecto.
Nem mesmo a multidão que manifesta
os formidáveis ideias que já perdeu,
que recita as palavras de ordem
de uma ordem senil e diluída
como a prece do moribundo ateu
que pergunta por deus no fim da vida,
vence o medo e ultrapassa a musa
que pouco a pouco se entranhou de desgraça.

A solidão verdadeira do poeta,
no abraço da multidão confusa
é a solidão de toda a massa
de um povo heróico que perdeu a meta.



Henrique Abranches

Mangas verdes com sal





















Mangas verdes com sal
sabor longínquo, sabor acre
da infância a canivete repartida
no largo semicírculo da amizade.

Sabor lento, alegria reconstituída
no instante desprevenido,
na maré-baixa,
no minuto da suprema humilhação.

Sabor insinuante que retorna devagar
ao palato amargo,
à boca ardida,
à crista do tempo,
ao meio da vida.



Rui Knopfli

Romance de Luanda





















Coqueiros esguios - leques ao vento
abanando a Ilha.

Um dongo flutua
na baia.

E ela, a negra maravilha
condecorada com reflexos de prata
com que o céu a está beijando,
com que o céu a está vestindo,
- adormeceu sonhando
placidamente sorrindo.

Nas águas verdes da baia calma,
caem pétalas vermelhas
de uma linda flor de ónix!

E o timoneiro, um preto atleta,
jovem pescador
é um brutal Cupido,
- é o Deus do Amor
em bronze reproduzido!

Nas águas verdes da baia calma,
caem pétalas de sangue,
duma flor já desfolhada...

Um dongo flutua
na baia.

Vai rompendo a madrugada!



Tomaz Vieira da Cruz
In “Tatuagem - poesia d'África”

Nada mal..

























Se se considerar que foram Doutores e Engenheiros, todos com certificados de habilitações sem mácula e com curriculum vitae cuja dimensão daria para chegar a Alfa Centauri, que lançaram o país á beira do precipicio;

Se se considerar que foram Doutores e Engenheiros, todos impolutos e que nunca meteram uma cunha para si ou para qualquer Engº. Técnico amigalhaço ou do aparelho, que cobriram a política portuguesa de ridículo;

Se se considerar que são Doutores e Engenheiros, todos de «papel passado», primos e familiares dos Purezas, por parte da tia, que têm gerido a coisa pública até ao descalabro e sem qualquer tipo de responsabilidade;

Se se considerar que são exactamente os mesmíssimos Doutores e Engenheiros, carregados de canudos pesadíssimos, que pensam que ao pretenderem ridicularizar esse facto os torna imediatamente competentes;

Considerando o facto de o 1º. ministro, afinal, não passar de um ex-PPD e de estar a fazer o que pelas bandas da S. Caetano sempre apregoaram e nunca fizeram;

Se se pensar que apenas o «melhor português» de todos os tempos fez, pelas finanças públicas, aquilo que Sócrates está a fazer;

Considerando os considerandos há que concluir que a sociedade portuguesa é hipócrita e que por viver de aparências (e assim querer continuar) tenderá a abrir a tumba onde alguns (poucos) lutam pela sobrevivência colectiva;

Considerando que imensos Doutores e Engenheiros, todos eles com quantidade de volumes de MBA's superiores aos do Processo Casa Pia, competentíssimos portanto, para dar uma simples ordem ao porteiro, reunem-se de um séquito imenso de assessores;

Finalmente, porque para se ser líder, basta ter carisma, saber o que quer, como quer e saber coordenar... a escolaridade obrigatória é, para vergonha dos Tios Engenheiros e Doutores, o estritamente necessário.

É óbvio que o Rei vai nú e hoje em dia, felizmente, apenas se deixa enganar, voluntáriamente, quem parte para qualquer liça com «missal» nas mãos...

Acreditem que tenho todas as razões para não gostar de Sócrates, nem um pouco, mas a verdade é que o homem tem valor, tem trabalho feito e não é, naturalmente, a imprensa ao serviço de interesses económicos (sobretudo) e políticos (difícil de engolir, porque o «descrédito» de Sócrates não credibiliza nem a liderança de ninguém nem lhe confere competência) que farão alterar o rumo das medidas tomadas.

Muito duras, injustas umas, cegas outras, mal geridas e aparentemente caóticas, quase todas, mas absolutamente imprescindíveis.

Convenhamos que para um Engº. Técnico (ou estudante de Engenharia) ou mesmo que fosse iletrado... apresentar resultados onde, por si só, os verdadeiros canudos deveriam ser suficientes mas falharam rotundamente... é obra!

Nada mal, senhor 1º. Ministro, continue a estudar.

Quando tiver o verdadeiro canudo imagino o que será capaz de fazer!!

Afixação obrigatória

Vão entender...



























"Quando a última árvore tiver caído,
quando o último rio tiver secado,
quando o último peixe for pescado,
vocês vão entender que dinheiro não se come".



Mahatma Ghandi

Medite-se...
























"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a encontraram só há 500 anos. O irmão europeu da fronteira pediu-me um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financeiro europeu pede-me o pagamento, com juros, de uma dívida contraída por um Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu explica-me que toda divida é paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento.

Eu também posso reclamar pagamento e juros.
Consta no Arquivo das Índias que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.
Terá sido isso um saque?
Não acredito porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao Sétimo Mandamento!
Teria sido espoliação?
Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão.
Teria sido genocídio?
Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirma que a arrancada do capitalismo e a actual civilização europeia se devem à inundação de metais preciosos retirados das Américas!

Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de outros empréstimo amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indemnização por perdas e danos.

Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano "MARSHALLTESUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho diário e outras conquistas da civilização.

Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, poderemos perguntar:
Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo desses fundos?
Não.
No aspecto estratégico, delapidaram-no nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino a não ser terminarem ocupados pelas tropas estrangeira da NATO, como no Panamá, mas sem Canal.
No aspecto financeiro foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros, quanto independerem das rendas liquidas, as matérias primas e a energia barata que lhes exporta e prove todo o Terceiro Mundo. Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar, e nos obriga a reclamar-lhes, para o seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos a cobrar.

Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros que os irmãos europeus cobram aos povos do Terceiro Mundo.
Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro fixo de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com perdão de 200 anos. Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos os descobridores que nos são devidos 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as quantidades elevadas potência de 300, que supera amplamente o peso total do planeta Terra.

Muito peso em ouro e prata...quanto pesariam calculadas em sangue?

Admitir que a Europa, em meio milénio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para pagar esses módicos juros, seria como admitir o mais absoluto fracasso financeiro e a demência irracionalidade dos conceitos capitalistas.

Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam, índios americanos. Porém exigimos a assinatura de uma carta de intenções que discipline aos povos devedores do Velho Continentes e que os obrigue a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permita entregar suas terras, como primeira prestação da divida histórica... ".




Guaicaípuro Cuatemoc


Discurso irónico, cáustico e de exactidão histórica, proferido por Cuatemoc, cacique de uma nação indígena da América Central, na Conferência dos Chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em 2002, em Madrid.

Páscoa Feliz




















A todos os amigos e visitantes.
Abraço.

Olhemos os olhos das crianças


















Olhemos os olhos das crianças que eles encerram mistérios;

dentro de suas pupilas moram selvagens bons,
pairam neles as lendas das terras desconhecidas.
Olhemos os olhos das crianças;
quando com eles cruzamos nossos olhos,
há reconhecimentos súbitos
e reminiscências que revivem.
Que ausência de ouro e prata existe neles!
Que verdes potros relincham em suas colinas!
Que indiferença pelas arcas ricas!
Como se parecem com os olhos dos poetas!
Olhemos os olhos da crianças,
desprevenidos de crimes e borrascas,
inconscientes entre o Bem e o Mal
sempre transparentes como a água e o mel.
Olhemos os olhos das crianças,
com seus horizontes claros, claros,
capazes de deixar transparecer
o avô curvado e trêmulo,
o pai de sobrecasaca e a menina mãe.
Fitemos os olhos das crianças
como quem fita um écran
e vê desenrolar-se lá dentro
uma história familiar.
Olhemos os olhos das crianças
para repousar nestes céus sem pensamento
a angústia de procurar pátrias distantes
e as constelações que já morreram.




Jorge de Lima

Soneto ao mar




















amanhã vou acordar cedinho
para ver o sol raiar
e iluminar o caminho
que ao mar me há-de levar

de branco me vou vestir
e minhas tranças soltar
minhas tristezas despir
pra com lágrimas me lavar

vou andar pelo caminho
ao som de hinos e cantos
que eu mesma irei entoar

irei muito de mansinho
e, enfim, afagarei meus prantos
no mar que os há-de levar



Anny Pereira