A Canção do Albatroz




Sobre a superfície cinzenta do mar
O vento reúne pesadas nuvens
Semelhante a um raio negro

Entre as nuvens e o mar
Paira orgulhoso o albatroz
Mensageiro da tempestade

E ora são as asas tocando as ondas
Ora é uma flecha rasgando as nuvens

Ele grita
E as nuvens escutam a alegria
No ousado grito do pássaro

Nesse grito
Sede de tempestade

Nesse grito
As nuvens escutam a fúria

A chama da paixão
A confiança na vitória

As gaivotas gemem
Diante da tempestade
Gemem e lançam-se ao mar

Para lá no fundo esconder
O pavor da tempestade

E os mergulhões também gemem

A eles, mergulhões
É inacessível a delícia
Da luta pela vida:
O barulho do trovão amedronta-os

O tolo pinguim
Timidamente esconde
Seu corpo obeso entre as rochas

Apenas o orgulhoso albatroz voa
Ousado e livre
Sobre a espuma cinzenta do mar

Tonitroa o trovão
As ondas gemem na espuma da fúria
E discutem com o vento

Eis que o vento abraça
Uma porção de ondas com força
E lança-as com maldade selvagem
Nas rochas

Espalhando-as como a poeira
Respingando uma noite
De esmeraldas

O albatroz paira a gritar
Como um raio negro
Rompendo as nuvens
Como uma flecha
Levantando espuma com suas asas

Ei-lo voando rápido
Como um demónio

Orgulhoso e negro
Demónio da tempestade

Ri das nuvens, soluça de alegria
Ele - sensível demónio
Há muito vem escutando
Cansaço na fúria do trovão

Tem certeza de que as nuvens
Não escondem
Não, não escondem

Uiva o vento
Ribomba o trovão

Sobre o abismo do mar
Um monte de nuvens pesadas
Brilham como centelhas

O mar pega as flechas de relâmpagos
E apaga-as em sua voragem
Parecem cobras de fogo

Os reflexos desses raios
Rastejando sobre o mar
E desaparecendo

Tempestade!
Breve rebentará a tempestade!

Esse corajoso albatroz
Paira altivo entre os raios

E sobre o mar furiosamente urrando
Então grita o profeta da Vitória


QUE MAIS FORTE
ARREBENTE A TEMPESTADE!


Máximo Gorki


Máximo Gorki escreveu este belo
poema em 1901 sentindo o tempo que vivia.

A palavra albatroz (burieviestnik) em russo pode ser traduzida como mensageiro
(viéstnik) da tempestade (buria), por ser ele o único animal que sai
alegremente a voar e sente-se perfeitamente à vontade
no meio de qualquer tormenta.

A mensagem é clara: no meio do caos, não devemos temer as tempestades,
mas voar com elas e contribuir para que elas transformem efectivamente o mundo!