A Canção do Albatroz
sábado, outubro 22, 2005
Sobre a superfície cinzenta do mar
O vento reúne pesadas nuvens
Semelhante a um raio negro
Entre as nuvens e o mar
Paira orgulhoso o albatroz
Mensageiro da tempestade
E ora são as asas tocando as ondas
Ora é uma flecha rasgando as nuvens
Ele grita
E as nuvens escutam a alegria
No ousado grito do pássaro
Nesse grito
Sede de tempestade
Nesse grito
As nuvens escutam a fúria
A chama da paixão
A confiança na vitória
As gaivotas gemem
Diante da tempestade
Gemem e lançam-se ao mar
Para lá no fundo esconder
O pavor da tempestade
E os mergulhões também gemem
A eles, mergulhões
É inacessível a delícia
Da luta pela vida:
O barulho do trovão amedronta-os
O tolo pinguim
Timidamente esconde
Seu corpo obeso entre as rochas
Apenas o orgulhoso albatroz voa
Ousado e livre
Sobre a espuma cinzenta do mar
Tonitroa o trovão
As ondas gemem na espuma da fúria
E discutem com o vento
Eis que o vento abraça
Uma porção de ondas com força
E lança-as com maldade selvagem
Nas rochas
Espalhando-as como a poeira
Respingando uma noite
De esmeraldas
O albatroz paira a gritar
Como um raio negro
Rompendo as nuvens
Como uma flecha
Levantando espuma com suas asas
Ei-lo voando rápido
Como um demónio
Orgulhoso e negro
Demónio da tempestade
Ri das nuvens, soluça de alegria
Ele - sensível demónio
Há muito vem escutando
Cansaço na fúria do trovão
Tem certeza de que as nuvens
Não escondem
Não, não escondem
Uiva o vento
Ribomba o trovão
Sobre o abismo do mar
Um monte de nuvens pesadas
Brilham como centelhas
O mar pega as flechas de relâmpagos
E apaga-as em sua voragem
Parecem cobras de fogo
Os reflexos desses raios
Rastejando sobre o mar
E desaparecendo
Tempestade!
Breve rebentará a tempestade!
Esse corajoso albatroz
Paira altivo entre os raios
E sobre o mar furiosamente urrando
Então grita o profeta da Vitória
QUE MAIS FORTE
ARREBENTE A TEMPESTADE!
Máximo Gorki
Máximo Gorki escreveu este belo
poema em 1901 sentindo o tempo que vivia.
A palavra albatroz (burieviestnik) em russo pode ser traduzida como mensageiro
(viéstnik) da tempestade (buria), por ser ele o único animal que sai
alegremente a voar e sente-se perfeitamente à vontade
no meio de qualquer tormenta.
A mensagem é clara: no meio do caos, não devemos temer as tempestades,
mas voar com elas e contribuir para que elas transformem efectivamente o mundo!