Prometeu
sexta-feira, outubro 07, 2005
Esta
a morada. A fronteira,
o horizonte destruído.
A raiz do cardo
nas fragas. Insubmissa
como a cólera,
o fogo ou o vento.
Este
o dorso massacrado,
alimento
de abutres insaciáveis
como a esperança,
o amor e a morte.
Este
o destino, o preço
e a glória.
O desespero de quem
sobre os ombros
só sabe colar
efémeras asas.
Papiniano Carlos
(in «Jornal de Notícias, 1960)
Papiniano Carlos nasceu em Lourenço Marques, Moçambique em 1918. Estudou na Faculdade de Engenharia do Porto e tornou-se administrador duma propriedade agrícola. Opositor ao regime do Estado Novo, foi um dos directores do «Notícias do Bloqueio», tendo colaboração dispersa na «Seara Nova», «Vértice» e no «Jornal de Notícias». Está incluído em várias antologias e colectâneas poéticas, com realce para a coligida por Jorge de Sena, «Líricas Portuguesas», (volume I, Edições 70, 1984). Publicou, entre outros, os livros «Esboço» (1942), «Estrada Nova» (1946), «Terra Com Sede» (1946), «Mãe Terra» (1952) e «Caminhemos Serenos» (1957). Como escritor para crianças lançou «Uma estrela Viaja na Cidade» (1958) e «A Menina Gotinha de Água» (1962).