Quitandeira
quarta-feira, novembro 22, 2006
A quitanda.
Muito sol
e a quitandeira à sombra
da mulemba.
- Laranja, minha senhora,
laranjinha boa!
A luz brinca na cidade
o seu quente jogo
de claros e escuros
e a vida brinca
em corações aflitos
o jogo da cabra-cega.
A quitandeira
que vende fruta
vende-se.
- Minha senhora
laranja, laranjinha boa!
Compra laranja doce
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.
Compra-me a infância do espírito
este botão de rosa
que não abriu
princípio impelido ainda para um início.
Laranja, minha senhora!
Esgotaram-se os sorrisos
com que chorava
eu já não choro.
E aí vão as minhas esperanças
como foi o sangue dos meus filhos
amassado no pó das estradas
enterrado nas roças
e o meu suor
embebido nos fios de algodão
que me cobrem.
Como o esforço foi oferecido
à segurança das máquinas
à beleza das ruas asfaltadas
de prédios de vários andares
à comodidade de senhores ricos
à alegria dispersa por cidades
e eu
me fui confundindo
com os próprios problemas da existência.
Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.
Tudo tenho dado.
Até mesmo a minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.
Agora vendo-me eu própria.
- Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
- sangue.
Talvez vendendo-me
eu me possua.
- Compra laranjas!
Agostinho Neto
Viva
Creio que este poema é de Agostinho Neto e não de Costa Andrade.
Por vezes passo pelo teu blog, a que faço referência no meu kantoximpi.blogspot.com.
Também nasci em Angola, Luanda, e enviei-te um poema meu mas fpo devolvido por teres a caixa cheia.
Saudações
Victor Nogueira
Amigo Vitor
É evidente que qualquer apenas um lapso inexplicável (indesculpável, também) levou ao erro que, bem, observou.
Aliás, em http://kotodianguako.blogspot.com/2004/08/quintandeira.html já havia postado o mesmo poema, aí correctamente atribuído ao seu autor.
Naturalmente já procedi á correcção.
Terei todo o prazer em publicar os trabalhos e contributos que todos os amigos e leitores quiserem ter a amabilidade de me enviar.
É estranho haver essa mensagem da conta de email - nunca encheu!
Um abraço