Inocência



























Já venerei dias de miséria
nos ponteiros trilhados
de um relógio sem tempo
onde cresce o meu tormento


o mesmo flash se repete
com miúdos sem nome
a abraçar desgraças


nas ruas...


andam aos milhares
soltando as malícias do ventre
as vozes de fome


no e mesmo instante
em cada flash
brilham as barrigas
destes miúdos que esperam
(sem tempo) a abraçar desgraças
contrastam com as barrigas eminentes
da gente que passa e
se escapa a escarrar luxúria
regresso odiosamente à minha infância
com impulsos incontrolados do coração
onde se encontra a muda revolta da minha aflição


vejo-me
revejo-me
nestes retratos na rua
onde o flash se repete em cada esquina
como um pedaço de mim
escondendo-me dos bocejos da noite
mas essa graça da inocência...eu já perdi.



Chô du Gury