Tonga
quinta-feira, junho 07, 2007
Banana. Palmar. Dendém.
Café robusta de Angola.
Preto na tonga
voluntário
contratado
preto-prato-colher
manta-sandália:
seus pertences nas estradas de Angola.
Monangamba de vinte angolares por dia
fuba-peixe seco-óleo de palma
esteira na cama de tábua nua.
Monandengues de dez angolares:
meninos sem escola
no café robusta de Angola
que brincam de gente adulta
com a experiência do mundo nos olhos
e barriga grande na infância da vida.
Banana. Palmar. Dendém.
Café robusta de Angola
E os meninos sem mãe
as mães sem marido
e os homens sem mulher
pelas estradas de Angola.
Cândido da Velha
Monangamba de vinte angolares por dia
Vinte angolares por dia? Isso é que era bom! Nem dez! À data de 25 de Abril de 1974, um monangamba que trabalhava nas tongas ganhava em média cerca de 60$00 por semana. Destes 60, 30 eram-lhe pagos de imediato, para que ele gastasse na cantina da roça, pagando o sabão, os cigarros Hermínios e a cerveja Cuca ao preço que o roceiro muito bem entendesse. Não raros monangambas chegavam ao fim do "contrato" a dever dinheiro ao patrão!
O resto do salário era pago (quando era!) no fim do contrato, quando o nosso homem já estava de volta ao seu kimbo. Muitas vezes, este dinheiro só lhe era entregue depois de ter passado o prazo para o pagamento do imposto, a fim de que ele não tivesse dinheiro para o pagar e fosse assim obrigado a partir para mais um "contrato", como "castigo".
A palavra escravatura não é excessiva para caracterizar o "contrato". Era mesmo uma escravatura, que durava anos e anos, enquanto o monangamba tivesse forças para trabalhar.
Isto foi assim até 1975!
Sem qualquer duvida, amigo Denudado!
A realidade era a que efectivamente descreve sem se retirar uma virgula.
Objectivamente havia escravatura embora os títeres do regime se tenham esforçado por maquilhar a situação.
Esse «trabalho» foi tão bem feito que ainda hoje há quem não acredite, negue ou substime a situação.
Abraço, amigo!