Mais tarde
sábado, setembro 17, 2005
A minha morte chegará um dia
Um dia na primavera, luminoso e gracioso
Um dia de inverno, poeirento, distante
Um dia vazio de outono, desprovido de alegria.
A minha morte chegará um dia
Um dia doceamargo, como todos os meus dias
Um dia oco como o que passou
Sombra de hoje ou de amanhã.
Os meus olhos adaptam-se à penumbra dos pátios
As minhas faces parecem frio, pálido mármore
Subitamente o sono arrasta-se sobre mim
Livro-me de todos os gritos dolorosos.
Lentamente minhas mãos deslizam sobre anotações
Que chegaram até mim debaixo do feitiço da poesia,
Relembro que outrora em minhas mãos
Retive o sangue flamejante da poesia.
A terra convida-me para os seus braços,
As gentes reúnem-se para me sepultar aqui
Talvez à meia-noite os meus amantes
Coloquem sobre mim coroas de muitas rosas.
Forough Farrokhzad
tradução: Vasco Gato
Transcrito do blog da amiga Márcia Maia, Alfabeto.
Beijo, amiga!