Era no tempo dos tamarindos
quinta-feira, dezembro 07, 2006
Era no tempo dos tamarindos
Meu pai sempre me acordava pela manhã
E ia cantando para o quintal
Enquanto fazia a barba
Debaixo do caramanchão
Da buganvília cor-de-violeta.
Era no tempo dos tamarindos
Zenza Niala vinha entrando na cancela
À cabeça a quinda carregadinha de fruta
Sempre cumprimentava minha mãe:
-“Sápêrê, Dona!”
Minha mãe respondia:
-“Olá”
Ela agachava no chão
Destapava a quinda
E por sob as folhas frescas de mamoeiro
Mostrava papaias e pitangas saborosas
Às vezes trazia fruta-pinha e sápe-sápe
Era sempre o mesmo diálogo
Minha mãe:”Chingamin?”
Zenza Niala no chão sorria
Mostrava os dentes de marfim
E respondia
-“Meia-cinco, sinhóra”
Era no tempo dos tamarindos.
E havia “bigodes” e “bicos-de-lacre”
Cantando nas acácias do quintal.
Depois Zenza Niala ia embora,
As ancas baloiçando
A quinda na cabeça
Era no tempo dos tamarindos
Ernesto Lara Filho
Fausto
Lembro que há uma canção de Fausto com este poema de Ernesto Lara Filho.
Bem Lembrado, amigo Denudado!
do album "A preto e branco" de 1989, que não possuo...Estou a tentar ver se encontro essa faixa para publicação. Fá-lo-ei de imediato.
Um grande abraço!
Grandes mundos. Recordar é viver.