Vácuo
domingo, dezembro 17, 2006
Se tivesse de descrever esta procura,
uma palavra bastaria:
inútil.
Como qualquer outra, nos dias que correm.
E é assustador pensar que as palavras podem perder-se hoje,
e nunca mais voltar.
E eu com elas.
As palavras já não nascem na mesma fonte salgada,
mas também nunca foram derramadas pelo sol.
E eu continuo a procura-las.
inutilmente.
O negro véu que cobre certezas acabou por esconder dúvidas.
O véu do tempo,
sujo de rotinas,
dourado de esperas,
descobriu o ócio.
E a espera cegou-me sonhos ou pessimismos.
Como que me esqueceu.
Sou só eu aqui.
Mais só que nunca.
Já não há vícios nem folhas em branco,
agora só o silêncio dos dias que passam
vagarosamente depressa.
E eu vejo-os passar,
conto mais uma vez os segundos,
descubro heterónimos da alma
que nunca saberei escrever,
e vejo que são inuteis,
mais uma vez,
todas estas redundâncias.
O agora é um grande pedaço de nada embrulhado no tempo
que passa sem me consultar.
Procuro apenas as palavras.
Procuro nas palavras
se ainda há vida aí.
Tenho quase quase a certeza que hibernaste dentro de ti.
E que esse Tu
Sou Eu.
Patricia Silva