Vácuo


























Se tivesse de descrever esta procura,
uma palavra bastaria:

inútil.

Como qualquer outra, nos dias que correm.

E é assustador pensar que as palavras podem perder-se hoje,
e nunca mais voltar.
E eu com elas.

As palavras já não nascem na mesma fonte salgada,
mas também nunca foram derramadas pelo sol.

E eu continuo a procura-las.
inutilmente.

O negro véu que cobre certezas acabou por esconder dúvidas.
O véu do tempo,
sujo de rotinas,
dourado de esperas,

descobriu o ócio.

E a espera cegou-me sonhos ou pessimismos.
Como que me esqueceu.
Sou só eu aqui.
Mais só que nunca.

Já não há vícios nem folhas em branco,
agora só o silêncio dos dias que passam
vagarosamente depressa.

E eu vejo-os passar,
conto mais uma vez os segundos,
descubro heterónimos da alma
que nunca saberei escrever,
e vejo que são inuteis,
mais uma vez,
todas estas redundâncias.

O agora é um grande pedaço de nada embrulhado no tempo
que passa sem me consultar.

Procuro apenas as palavras.
Procuro nas palavras
se ainda há vida aí.

Tenho quase quase a certeza que hibernaste dentro de ti.
E que esse Tu
Sou Eu.



Patricia Silva