Tears























As I stand on my Mountain
and throw my head back to the sky
and the tears in my eyes
flow freely
into my ears
and down my neck
as I cry to the Grandfathers
release me please
from this enormous pain

and the Winds whistle
and blow around me
trying to comfort this loss
and remind me
that in this pain
I am not alone

yet calling forth all that is
to comfort me
to hold me close in this
my greatest time of need
to support me
and hold my aching body

hold me Grandfathers
for I am weak and alone
cut off from all I hold dear
hold me in this agony and loss
hold this heart which cries out
for what is gone and can never be again

I reach my arms out to hold you
please hold these empty arms Grandfathers
fill them with the love I have known
and can not share now
fill me with what I know to be your love

fill me with the love of my People
who have known this pain
fill me Grandfathers
fill me again



Crys The Tears/Dreamwalker~Lakota

Esta Tarde a Trovoada Caiu




















Esta tarde a trovoada caiu
Pelas encostas do céu abaixo
Como um pedregulho enorme...
Como alguém que duma janela alta
Sacode uma toalha de mesa,
E as migalhas, por caírem todas juntas,
Fazem algum barulho ao cair,
A chuva chovia do céu
E enegreceu os caminhos ...

Quando os relâmpagos sacudiam o ar
E abanavam o espaço
Como uma grande cabeça que diz que não,
Não sei porquê — eu não tinha medo —
pus-me a rezar a Santa Bárbara
Como se eu fosse a velha tia de alguém...

Ah! é que rezando a Santa Bárbara
Eu sentia-me ainda mais simples
Do que julgo que sou...
Sentia-me familiar e caseiro
E tendo passado a vida
Tranqüilamente, como o muro do quintal;
Tendo idéias e sentimentos por os ter
Como uma flor tem perfume e cor...

Sentia-me alguém que nossa acreditar em Santa Bárbara...
Ah, poder crer em Santa Bárbara!

(Quem crê que há Santa Bárbara,
Julgará que ela é gente e visível
Ou que julgará dela?)

(Que artifício! Que sabem
As flores, as árvores, os rebanhos,
De Santa Bárbara?... Um ramo de árvore,
Se pensasse, nunca podia
Construir santos nem anjos...
Poderia julgar que o sol
É Deus, e que a trovoada
É uma quantidade de gente
Zangada por cima de nós ...
Ali, como os mais simples dos homens
São doentes e confusos e estúpidos
Ao pé da clara simplicidade
E saúde em existir
Das árvores e das plantas!)

E eu, pensando em tudo isto,
Fiquei outra vez menos feliz...
Fiquei sombrio e adoecido e soturno
Como um dia em que todo o dia a trovoada ameaça
E nem sequer de noite chega.




Alberto Caeiro

Mais Desejo
























O meu olhar cai sobre ti
como água fresca de Verão
desliza sobre o teu corpo
possuindo-te no abandono
Tudo em ti é fascínio
porque tudo exclusivamente
os cabelos, o brilho dos olhos
os lábios, pétalas rosa
a sombra que desliza dos seios
e o tesouro intímo e mágico
que ocultas tão meigamente
na elevação planetária de deusa
O meu olhar cai sobre ti
perpassando corpo e essência
suave, ternamente, comendo-te
Derivas para dentro de nós
realizas não haver distâncias
quando assim somos encontro
vivendo este morrer e nascer
entre suspiros feitos gemidos
tão loucos tão sentidos



Manuel Martins Gaspar Tomé

No meu quintal

Pereira

Fui ao médico

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Esperança






















A lua assoma entre as nuvens
Em rodopio com o contraste dos ventos
Raios de luz desfilam pelos matagais
Abafando prantos de ansiedade


E nas sanzalas solitárias
Quebram-se as trevas da noite
E renasce a esperança do amanhã



Beto Van-Dúnem

Realização

























Não desfrises os cabelos
não pintes os lábios
dança o makopo
passos de samba
escuta o ngoma
requebro kaviula.

Olhem espantados a tua gargalhada
natural e limpa
admirem a tua beleza natural e limpa

tua beleza gritando a noite que desperta

levanta-te e caminha altiva
igual à igualdade livre dos povos

e canta
canta no coro das vozes roucas caladas séculos

Não concedas ao mito
ao modelo
ao exótico.

Importa apenas a mensagem
que espelhas no olhar
cumpri-la e projectá-la
despertar inexploradas energias.

... e ao entardecer futuro
um breve gesto de amor
na linguagem realizada
dos teus dedos-áfrica.



Costa Andrade

Poema da viagem ainda por fazer



















Foto de Luis Rosa, aqui



Devia ir por aí, na frente do sol,
levar-te uma mensagem, um rebuçado
de funcho, um livro com poemas de viajantes,
de marinheiros ou de eremitas urbanos,
contando o silêncio das pedras das ruas,
dos tempos esquecidos das cidades de bruma,
construídas bem juntinho à espuma cansada
do mar, ao calhau preto do vulcão adormecido.


Precisaria de coragem para ir, agarrado
à madeira rija dos barcos antigos, nas mãos
do vento agreste, orientado pelas estrelas
saltitantes dos navegadores de outrora,
obrigatoriamente proibido de olhar para trás,
para o lugar onde ergueram as pontes,
abriram estradas, montaram as paredes
das casas rumorejantes, onde as noites
se acolhem, nos abraços dos amantes.


Mas não tenho. Não posso partir. Ainda.
A terra prende-me aos seus sulcos, ao cheiro
das ervas, ao canto dos ribeiros, às sombras
das encostas, ao apelo das montanhas,
aos desenhos coloridos da infância, aos luares
que me bateram à janela, ao roçar dos galhos
das anoneiras nas vidraças. E então sento-me
no muro com vista para as falésias distantes,
com as bandeiras da tarde crepuscular
a decorar o azul das escarpas e da babugem,
a me prender para sempre a pele ao esqueleto
da ilha, no cume exacto onde se encontram
as aves que me conhecem desde os primeiros
olhares que lhes dei, sobre a penedia, lendo
a poesia dos canaviais, com a sua música
verdejante. E adormeço, de novo, calmamente,
por aqui, onde o mundo olvidou a necessidade
prosaica de um dia me procurar, em busca de novas.




José António Gonçalves

Manhã de sol com azulejos


























Tudo se veste da cor de teu vestido azul
Tudo - menos a dona do vestido:
meus olhos te passeiam nua
pela grama do campo de golfe


Uma curva e eis-nos diante de meu coração

Não amiga não temas
meu coração;
é apenas um chapéu surrado
que humildemente estendo
para colher um pouco de tua alegria
de tua graça distraída
de teu dia



Francisco Alvim
(1968) "Sol dos cegos"

Sob o signo da inquietação

























O susto em nós foi avançar
muito para dentro do proibido.
Muito para perto de uma zona perigosa
A boca da noite... o desconhecido...
Vagos caminhos de uma via nebulosa.
Vários conceitos para falar da mesma coisa
O susto em nós foi descobrir porteiras de territórios nunca antes percorridos
No fundo de todos nós um visitante
No fundo, a falta de sentido...

Visitantes de nós mesmos cometíamos
a imprudência de quase enlouquecer
Para chegar à compreensão.
E uma coisa afiada nos conduzia
através da trilha da poesia
e do difícil trajecto da paixão....


Bruna Lombardi

Paixões

M. Célia Silva, do Digitalarte-mc, acaba de despertar mais... Paixões.
O poema que transcrevo, com a devida vénia, á apenas a primeira demonstração do seu imenso talento.





Tristeza



Pedaços de água no olhar...
De sonhos desfeitos em nada
Cabelos em desalinho
Onde brilham em torvelinho,
Pérolas de pranto ao luar....

Olhos tristes de quem sofreu
Na vida, tormentos mil
Silêncios a quem doeu,
Um amor que já morreu,
Ainda por começar...

Embalada nos braços fortes
De uma recordação,
Vai tropeçando em pedaços
Vazios de um coração...

Sonha, menina triste,
Limpa as lágrimas, sorri
Também eu vivi morrendo
E morri, vivendo em ti....


- M. Célia Silva


Tragédia em 2 actos























O Preconceito

I ACTO

Cena 1
(ao telefone)

Jovem: - Bom dia, gostaria de saber se está ainda por preencher alguma das vagas que o anúncio publicado refere...
Entrevistador: - Bom dia... Ainda temos algumas vagas. Terá que apresentar a sua candidatura na sede da empresa no endereço indicado no anúncio.
Jovem: - Muito bem, irei de imediato.

Cena 2
(pessoalmente)

Jovem: - Vinha apresentar a minha candidatura. Telefonei há pouco, falei com F....
Entrevistador: - O seu nome, por favor...
Jovem : - Silvia
Entrevistador: - Idade?
Jovem: - 22
Entrevistador: - Residência?
Jovem: - Rua Principal, 1213 Bairro Alto da Cova da Moura

O entrevistador pára repentinamente o preenchimento da ficha e avalia a jovem de alto a baixo.
Levanta-se, dirige um sorriso misterioso á jovem... e dirige-se a um terminal de computador.
Digita vagamente algo... Franze o sobrolho aparentando preocupação. Troca palavras inaudíveis com outro colega. Dirige-se ao local onde a jovem o aguarda.

Entrevistador: - Como deve ter reparado...
Jovem: - (levantando-se e envergando o melhor sorriso sarcástico...) - Sim, sei... não se incomode, as vagas afinal estão preenchidas...
Entrevistador: - Exactamente, lamento...

II ACTO

Sílvia opta por responder ao anúncio que, afinal, teima em continuar a aparecer no jornal.
Muda de estratégia, dá como residência o endereço de um familiar não muito longe da Cova da Moura...

Após a entrevista com outro funcionário, com outro visual para não ser facilmente relacionável com a jovem da Cova da Moura, acaba por ser admitida.


Nota explicativa:

O relato, ficcionado, é real. A jovem é minha amiga, é branca, altamente competente, empreendedora, mas morava - e mora! - na Cova da Moura!!!

Mudança




















Mudo o prefixo da mudança
Não uso o mudo silêncio de estar
A mudança é olhar do não ficar
No abuso do uso da dança.


Visionarás a tua eternidade nos silêncios das coisas.
E na dimensão do sonho verás a intemporalidade.
O que ilude a metafísica do olhar é julgar a verdade da fronteira.



António Pompílio

Nzoji

























o passado
é uma laranja amarga
a chuva
cai dos teus olhos
o vento
tem cabeça de galo
e
o jacaré
levou tua perna
pro palácio
de seu rei

*

por noites de outubro
almas de antepassados
acordam
lagartos adormecidos

riso
de menina só
quebra-se
nos cincos dedos da mão
que
almas de antepassados
por noites de outubro
não impedem de fechar

*

corvos de ronda
não sabem
quem matou o antílope
cor de vento listrado de chuva
e
pombos verdes
de vôo redondo
não sabem
por que o homem tatuado
caiu no feitiço das coisas de longe

*

por fendas
de máscara apodrecida
passam
tufos de capim de outubro

nos charcos
de teus olhos
pairam moribundos
espíritos de antepassados
e
pássaros d’água
fazem ninho
em cabeça de mologe

por fendas
de máscara apodrecida
passam
tufos de capim de outubro

*

a nuvem produziu um elefante
o elefante pariu o coelho
das orelhas do coelho saíram montanhas
as montanhas tornaram-se tetas duma cadela prenha
das tetas da cadela prenha caiu a chuva



Arlindo Barbeitos
in "Nzoji" (Sonho)

Santomensidão



















Foto de António Ferreira de Sousa em Caminhadas e Descoberta em STP


O poema está no ritmo
do nosso sangue cruzado. Na idade
da nossa santomensidão

cheiros de terra quente
palmares de avó Sipinge
distância em distância entre
o leste e o oeste
o norte e o sul

o poema
é a única rota que deixa sulcos no cais
imensurável dos nossos atropelos



Olinda Beja
in "Água Crioula"

I Am Spirit

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The Spirit of the Mountain, By Maria Célia Silva em Digitalarte - MC




I am the Spirit that years to feel the pureness of a winter snow
I am the Spirit that howls when then wind is blowing
I am the Spirit that brings forth the sacredness of a Hot Springs bath
I am the Spirit that searches for the sacred path

I am the Spirit that sends our winged brothers up high
I am the Spirit that falls as a tear from a child's eye
I am the Spirit that holds love in its arm
I am the Spirit that stands to protect the people from harm

I am the Spirit that grows with our brother and sister trees
I am the Spirit of the howl for the wolf that runs free
I am the Spirit that flows from a mountain spring high
I am the Spirit that sparkles in the midnight sky

I am the Spirit that lives in the stones of Mother Earth
I am the Spirit of newness that come in birth
I am the Spirit past, present, and what will be
I am the Spirit that travels from sea to sea

I am the Spirit of fire that warms ones soul
I am the Spirit of darkness in the deep deaths of a hole
I am the Spirit that keeps the songs of the past
I am the Spirit that says 'remember' so the songs will last

I am the Spirit of horse that runs through the land
I am the Spirit of buffalo destroyed by mans hand
I am the Spirit of the tipi standing proud for all to see
I am the Spirit of imprisoned warriors that yearn to be free

I am the Spirit of Creator who hears my prayers on high
I am the Spirit of Mother Earth who now has tears in her eye
I am the Spirit of the drum, the heartbeat of the land
I am the Spirit of dance where sacred feathers are held in ones hand

I am the Spirit of mist that brings forth the rainbow arched high
I am the Spirit of beauty so great all who look will stand in awe and sigh
I am the Spirit of the ancients that guide us in all things
I am the Spirit of humming bird searching for nectar in the spring

I am the Spirit that lives and survives in all things

I am Spirit




By John Three Eagles Fly Walden

Único

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... Vermelho, laranja... de uma calma sumptuosa, quente e belo... que nos deixa na mente a ideia de assistir a algo único. O sol "nasce" e "morre" a cada dia mas nunca como em África.
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Vozes

























Há dias em que me sinto
arrastado por um não sei quê
nostálgico que me constrange.

A infância:
Ontem, há muito tempo...
o meu fatinho de menino
já roto... tão roto!...
aquele fatinho que me cingiu
o corpo de menino pobre,
tão longe... tão distante...

Hoje recordo os amores antigos
dispersos no esquecimento
dos amores recentes.

Ela:
Era tão doce o seu canto.
tão belos os seus cabelos
que já não têm cor...
o seu andar vagueia perdido
no emaranhado de idéias
que me acometem dispersas;
dispersos os seus carinhos,
os seus beijos esquecidos
nos beijos de outras bocas
que não a dela.

As saudades:
Das quitandeiras gemendo reclamos,
os cestos em equilíbrio nas cabeças,
as cabaças frescas de quimbombo,
os meninos negros pendendo
as cabeças de alcatrão
nos sujos panos que os cingem...
Há dias... há muitos dias...
recordo e sinto
arrastado num não sei quê nostálgico
que me constrange...
Já ouço o dobre que me chama:
os lábios dela chamam
vinganças de saudade,
o fatinho já roto
aborta prantos,
as saudades... Ah! as saudades...
ficarão sempre clamando
sons arrastados do passado!...



Ruy Burity da Silva
(Cantiga de mama Zefa)

Ebony and Ivory

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Ebony And Ivory Live Together In Perfect Harmony
Side By Side On My Piano Keyboard, Oh Lord, Why Don’t We?

We All Know That People Are The Same Where Ever You Go
There Is Good And Bad In Ev’ryone,
We Learn To Live, We Learn To Give
Each Other What We Need To Survive Together Alive.

Ebony And Ivory Live Together In Perfect Harmony
Side By Side On My Piano Keyboard, Oh Lord Why Don’t We?

Ebony, Ivory Living In Perfect Harmony
Ebony, Ivory, Ooh

We All Know That People Are The Same Where Ever you Go
There Is Good And Bad In Ev’ryone,
We Learn To Live and We Learn To Give
Each Other What We Need To Survive Together Alive.

Ebony And Ivory Live Together In Perfect Harmony
Side By Side On My Piano Keyboard, Oh Lord Why Don’t We?

Side By Side On My Piano Keyboard, Oh Lord Why Don’t We?

Ebony, Ivory Living In Perfect Harmony



Paul McCartney



Paul McCartney & Stevie Wonder

Nosotros

















Nosotros
enemos la alegría de nuestras alegrías
Y también tenemos
La alegría de nuestros dolores
Porque no nos interesa la vida indolora
Que la civilización del consumo
Vende en los supermercados
Y estamos orgullosos
Del precio de tanto dolor
Que por tanto amor pagamos.
Nosotros
Tenemos la alegría de nuestros errores,
Tropezones que muestran la pasión
De andar y el amor al camino,
Tenemos la alegría de nuestras derrotas
Porque la lucha
Por la justicia y la belleza
Valen la pena también cuando se pierde
Y sobre todo tenemos
La alegría de nuestras esperanzas
En plena moda del desencanto,
Cuando el desencanto se ha convertido
En artículo de consumo masivo y universal.
Nosotros
Seguimos creyendo
En los asombrosos poderes
Del abrazo humano


Eduardo Galeano

O teu riso



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe o céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


Pablo Neruda

Pensamento do dia



"Tudo aquilo que algum idiota diz que é urgente, é algo que algum imbecil não fez em tempo útil e querem que você, o otário, se desenrasque para fazer em tempo recorde!"

Vaticano suspira de alívio

















Antes que o Príncipe Carlos cometesse mais uma asneira, o Benfica resolveu ontem um problema que ameaçava tornar-se mais grave a cada eliminatória da Liga dos Campeões.

Sabe-se que toda a influência estava a ser exercida...
Consta-se que o problema era de tal ordem que o Bispo de Roma encontrou maneira de o árbitro ser italiano, tendo pressionado, ao que se sabe, a Divina Providência para que Pedro, perdão, Simão marcasse um soberbo golo...

Quando Miccoli, um italiano, marcou o 2-0 foram audíveis os suspiros de alívio e Bento XVI não resistiu a agradecer aos céus...

Pudera!

You'll Never Walk Alone






Manchester foi.
Arsenal, irá...se vier, como espero!
Portanto, "You'll never walk alone", Liverpool...

Dia Internacional da Mulher

















Querida Inês



Seis séculos e meio se passaram
desde que entraste para a história
não porque foste aia ou princesa
mas por teres sido rainha
depois de te cortarem a cabeça

histórias da Idade Média
dizem alguns
e eu diria da pré-história
mas porquê do passado
se a tirania
ainda é o nosso dia-a-dia

olha só o que fizeram
à Catarina Eufémia
e foi há cinquenta anos
e à princesa Diana
parece que foi ontem
e ninguém foi julgado

sabes que mais Inês
neste preciso momento
há duas mulheres abortando
uma está numa boa clínica
e está tudo bem
a outra acaba de morrer
porque não tinha dinheiro
nem qualquer assistência



Policarpo Nóbrega

...Não, Poesia

















Foto de Jorge Neto no Africanidades



…Não, Poesia:
Não te escondas nas grutas do meu ser,
Não fujas à Vida.
Quebra as grades invisíveis da minha prisão,
Abre de par em par as portas do meu ser

- sai…
Sai para a luta (a vida é luta)
Os homens lá fora chamam por ti,
E tu, Poesia és também um Homem.
Ama as Poesias de todo o Mundo,

- ama os Homens
Solta teus poemas para todas as raças,
Para todas as coisas.
Confunde-te comigo…

Vai, Poesia:
Toma os meus braços para abraçares o Mundo,
Dá-me os teus braços para que abrace a Vida.
A minha Poesia sou eu.



Amílcar Cabral

Liberdade























Foto de Pedro Norton de Matos, em Caminhadas e Descoberta em STP




Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.





Sofia de Mello Breyner Andresen

Poema Enjoadinho




















("Cacussinha", 1986)



Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!



Vinícius De Moraes

Pensamento do dia

Breaking News



















A Kitanda, que participa no programa SETI, soube de fonte bem informada, terem sido recebidos em vários rádio-telescópios sinais de vida estraterrestre.
A mensagem é um grito lancinante, provindo de um ponto do espaço ainda não explorado.
Neste momento ainda não é possível indicar a proveniência.
A mensagem, muito simples terá, sob a forma de palimpsesto, vários níveis de informação fundamental para a compreensão da vida e evolução tecnológica e social cujo alcance, por agora, é imprevisível mas que constituirá uma revolução.
Os cientistas que estão encarregues da tarefa fundamental estão no entanto surpreendidos.
Esperavam encontrar a mensagem sob a forma de um código binário ou, se se apresentasse de outra forma inteligível aos seres humanos, que se revestisse de linguagem, certamente em inglês.
Os contactos dos vários observatórios astronómicos com a Universidade do Porto, o Plano Tecnológico, os acordos com o MIT e a visita de Bill Gates estão relacionados com o que será a mais importante descoberta da Humanidade - NÃO ESTAMOS SÓS!
.
O que se pensava ser uma simples etapa na cooperação científica reveste-se afinal de outros contornos.
Estes contactos são, eles próprios, um pedido lancinante de ajuda da Comunidade Internacional a Portugal.
Surpreendentemente, a mensagem vem... em PORTUGUÊS!
Confira abaixo um trecho da mensagem.








A Ganância do Império














Poderia dizer,
Flores na explosão
Mas não há flores
Nem folhas...

Poderia dizer,
Água suja de sangue
Mas não há água
Nem sangue...
Só há pessoas
Sem sangue
E sem nome!

Não há carne
Só fome!
Vejo crianças, bombas,
Motores de tanque que ronca

Trágica ditadura
Interrogatórios e tortura
Da maior nação
Que nem sequer
Jogou flores sobre o caixão.



Josanne Gonzaga

Poética



















Não sei palavras dúbias. Meu sermão
Chama ao lobo verdugo e ao cordeiro irmão.

Com duas mãos fraternas, cumplicio
A ilha prometida à proa do navio.

A posse é-me aventura sem sentido.
Só compreendo o pão se dividido.

Não brinco de juiz, não me disfarço em réu.
Aceito meu inferno, mas falo do meu céu.



José Paulo Paes
in "Um por todos"

Insónia





Nas noites de insónia
converso contigo.
Questionas a eito
com esse teu jeito.
e eu, como a um amigo,
confio-te ainda
os meus pensamentos,
partilho momentos.
Analisas meus medos,
escutas segredos,
mas não vês o rio
que corre pelas faces,
nem sentes o frio
da falta do abraço.
Este ténue laço
de que tenho uma ponta,
solitária e tonta,
flutua a outra no espaço
sem tua mão, sem teu calor.

Porque nos perdemos, amor?



Helena Guimarães

Refúgio dos Sonhos


















Para além do horizonte de um lugar onde vivia
Quando era jovem
Num Mundo de Magnetes e Milagres
Os meus pensamentos perdiam-se
Constantemente e sem limites

Havia um bando andrajoso ,
Que seguia as minhas pisadas
Correndo antes que o tempo levasse
Os meus Sonhos

Olhando através das brasas da ponte
Que brilham atrás de mim
Para um vislumbre de como era
Mais verde do outro lado
Passos tomados em frente mas
Andando no sono outra vez para trás
Arrastado pela força de uma maré interior

A uma altitude com a bandeira desfraldada
atingia as alturas daquele mundo sonhado

Sobrecarregando para sempre com o desejo e a ambição
Existe uma fome ainda por satisfazer
Os meus olhos cansados ainda fixam o horizonte
Por uma estrada onde já estive tantas vezes.

A relva era mais verde
A luz era mais vivida
O sabor era mais doce
A noite de prodígio
A névoa incandescente do amanhecer
A água a correr
O rio sem fim
Para sempre.



Likea Tattoo
in " One of these days "

Cruzamentos




















Foto de António Ferreira de Sousa em Caminhadas e Descoberta em STP



Tenho saudades da chuva
do meu Largo da Carvalha. Uma chuva
cinzenta e mole que abria longos riachos no meu peito de ansiedade
Tenho saudades do vento
do meu Largo da Carvalha. Um vento
agreste e serrano que agitava os plátanos
fazendo estremecer as folhas amarelecidas
no meu quintal de ternuras.
Tenho saudades das noites
do meu Largo da Carvalha. Noites passadas á mingua
noites de antigas vizinhas que me diziam
menina toma cuidado com os outros porque
tu és diferente e eles não gostam dos diferentes
histórias de lobisomem
cantigas do São João
rezas no adro da Sé.
Tenho saudades dos dias do outro lado do mar
dias de areia e de espuma a salpicarem-me o rosto
dias de barco sem cais nos escaleres da vida
dias de longe e de perto
a cruzarem o meu destino mestiço
entre as tílias do Rossio
e a ilha do chocolate.


Olinda Beja

Barcos







"Nha terra e' quel piquinino
E' Sao Vicente e' que di meu"



Nas praias
Da minha infancia
Morrem barcos
Desmantelados.


Fantasmas
De pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer vaga
Nem eu sei onde.


E eu sou a mesma
Tenho dez anos
Brinco na areia
Empunho os remos...
Canto e sorrio...
A embarcação
Para o mar!
E' para o mar!...


E o pobre barco
O barco triste
Cansado e frio
Não se moveu...



Yolanda Morazzo