Vozes
sábado, março 18, 2006
Há dias em que me sinto
arrastado por um não sei quê
nostálgico que me constrange.
A infância:
Ontem, há muito tempo...
o meu fatinho de menino
já roto... tão roto!...
aquele fatinho que me cingiu
o corpo de menino pobre,
tão longe... tão distante...
Hoje recordo os amores antigos
dispersos no esquecimento
dos amores recentes.
Ela:
Era tão doce o seu canto.
tão belos os seus cabelos
que já não têm cor...
o seu andar vagueia perdido
no emaranhado de idéias
que me acometem dispersas;
dispersos os seus carinhos,
os seus beijos esquecidos
nos beijos de outras bocas
que não a dela.
As saudades:
Das quitandeiras gemendo reclamos,
os cestos em equilíbrio nas cabeças,
as cabaças frescas de quimbombo,
os meninos negros pendendo
as cabeças de alcatrão
nos sujos panos que os cingem...
Há dias... há muitos dias...
recordo e sinto
arrastado num não sei quê nostálgico
que me constrange...
Já ouço o dobre que me chama:
os lábios dela chamam
vinganças de saudade,
o fatinho já roto
aborta prantos,
as saudades... Ah! as saudades...
ficarão sempre clamando
sons arrastados do passado!...
Ruy Burity da Silva
(Cantiga de mama Zefa)