Feliz Ano Novo






Que o novo ano seja pródigo de boas novas, de saúde, de sorte... para todos!

Vade Retro, 2005…






O fim de 2004 tinha trazido o tsunami…a reeleição de Bush, não augurando, por isso, nada de bom…

2005 mostrou. isto…

200.000 mortos no sueste asiático.
Dezenas de milhares no Paquistão
Milhões a morrer de fome e de SIDA em África.
Atentados em Londres.
Cínicos actos de contrição pela Guerra do Iraque
Devastação, pobreza, desorganização e descriminação em New Orleans
Alterações climáticas de consequências devastadoras
Situações de exclusão e violência extremas no país da Liberdade. Igualdade e Fraternidade, antecedidas de incêndios em «prédios» de emigrantes que pareceram tudo menos… acidentais.
Europeus, sem abrigo, selvaticamente incinerados…
Emigrantes ilegais africanos tratados de forma ignóbil…

…e isto…

Governo ridículo ser substituído por outro autista
País calcinado…
País sem outra estatégia que não seja o combate ao défice
Justiça elevada á maior potência negativa possível
Descrença…
Autarquias governadas por… cromos, demagogos e populistas, para não usar outros adjectivos, dada a falta de julgamentos e de sentenças transitadas em julgado.
Arrastões inexistentes e participação da imprensa no embuste…
Xenofobia

…e se não bastasse…

ressurreição de sebastianismo presidencialista
que parece anteceder a ressurreição do unanimismo esclarecido
como forma de «poder ético, anti-partidário»…
vacina eanista, seráfica, militarista e vingativa onde os nostálgicos do império e dignidade perdidas se revêem…
injecção alucinogénea inoculada onde vacinas anteriores falharam.
Lusa ilusão!

…mas vimos…

dizer NÃO ao projecto de Europa ultra-liberal
Live Aid trazer uma ténue esperança a África.
O perdão da dívida aos países africanos…


Muito pouco para um ano que esteve longe de ser auspicioso e que, ao invés, arrastou-se ao longo de penosos 365 dias de muito poucas boas notícias.

Não deixa, por isso, saudades!

Que 2006 seja melhor!!
Para todos!
Julgo que não deve ser muito difícil!

Vade retro, 2005!

Viva 2006!

Tous les Visages de L'Amour








Toi, par tes mille et un attraits
Je ne sais jamais qui tu es
Tu changes si souvent de visage et d'aspect
Toi quelque soit ton âge et ton nom
Tu es un ange ou le démon
Quand pour moi tu prends tour à tour
Tous les visages de l'amour

Toi, si Dieu ne t'avait modelé
Il m'aurait fallu te créer
Pour donner à ma vie sa raison d'exister
Toi qui est ma joie et mon tourment
Tantôt femme et tantôt enfant
Tu offres à mon cœur chaque jour
Tous les visages de l'amour

Moi, je suis le feu qui grandit ou qui meure
Je suis le vent qui rugit ou qui pleure
Je suis la force ou la faiblesse
Moi, je pourrais défier le ciel et l'enfer
Je pourrais dompter la terre et la mer
Et réinventer la jeunesse

Toi, viens fais moi ce que tu veux
Un homme heureux ou malheureux
Un mot de toi je suis poussière ou je suis Dieu
Toi, sois mon espoir, sois mon destin
J'ai si peur de mes lendemains
Montre à mon âme sans secours
Tous les visages de l'amour
Toi ! tous les visages de l'amour


Charles Aznavour

Lusofonia

Foto de António Ferreira de Sousa em Caminhadas e Descoberta em STP



Extensão imensurável da Portuguesa alma
que deixou raízes em solos longínquos
usos
costumes
sangues cruzados...
e os sonhos ficaram perdidos nas pedras
a circundar o Globo das nossas Vidas.

Estranhos?!
Estranhos porquê?

Talvez o sejamos na lusa distância
dos nossos palmeirais exóticos
dos nossos panos garridos
do nosso gargalhar sensual e
provocador...

Talvez o sejamos até no linguajar materno
que no berço ouvimos
mas se hoje procuramos a essência de
um Passado comum
é porque aquele acento no coração de todos nós
é a ave migratória
dos nossos mares entrelaçados



Olinda Beja
In "Aromas de Cajamanga"

Batuque no Monapo





Pairam nuvens altaneiras
A noite desce às sanzalas
Cantando canções guerreiras
Negros acendem fogueiras
Todo o mundo veste galas.
Rompe o silêncio um tambor
Jovens de lábios pintados
Ensaiam estranhos bailados
Cantando canções de amor.
Coloridas capulanas
Um mar humano em orgia.
Sipais, mainatos, mufanas,
Marrússis e metianas
Tudo baila neste dia!
O luar enamorado
Beija as folhas do sisal
Dando ao céu estrelado
Cintilações de cristal.
De "Jagaia", de Nampaco,
Do mais longínquo sertão,
Uma imensa multidão
Veio contar ao Monapo
Histórias da tradição.
A brisa agita as palmeiras,
Invade-me a nostalgia.

Morreu a luz das fogueiras,

Rompe a manhã, já é dia!



Rui Torres de Almeida

O Mar





Olhai: o Mar tem influência singular
Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos!
Valia a pena persegui-los no mar alto;
Valia a pena vê-los saltar através das ondas.

O Mar, esse mundo que os homens não habitam,
É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas:
Valia a pena olhá-las a correr
Loucamente; valia a pena
Ver qual delas primeiro entrava na baía.

Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala
Sim, fala-nos interiormente,
E nós compreendemos a sua língua:
É uma língua que se entende.

(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)



António Baticã Ferreira

in Poesia & Ficção

Um Natal

Foto de Gavin W. Hougham



Era já noite mas eu corria
corria cegamente pela página fora.
Ou era talvez a rua. Corria
para um encontro
não sei ao certo de que
de quem.
Um nome um rosto
um corpo nu deitado no abismo.
Mas era uma estrela
que me
guiava.
Era um sismo
era um vento.
Ou talvez a palavra. Ou talvez a palavra.
E por isso eu corria
loucamente corria pela noite dentro.



Manuel Alegre

A não perder...



Leitura obrigatória.
Simples e demolidor, como só o humor consegue...
Aqui.

Feliz Natal

Portugal




Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que de tou.
Mostro aos olhos que não te disfugura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço.

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.


Miguel Torga

Lenda Sioux



Conta uma lenda dos índios sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem Azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:

- Nós amamos-nos e vamos casar. Mas amamos-nos tanto que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

- Há uma coisa a fazer, mas é uma tarefa muito difícil e de sacrifício. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva!

Os jovens abraçaram-se com ternura e partiram para cumprir a missão. No dia estabelecido, á frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves.
O velho tirou-as dos sacos e constatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.

- E agora, o que faremos? Perguntaram os jovens.

- Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.

Fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se ferirem. Então o velho disse:

- Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se como também, cedo ou tarde, começarão a ferir-se um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.

Liberte a pessoa que ama para ela possa voar com as próprias asas.

Essa é uma verdade no casamento e também nas relações familiares, de amizade e profissionais. Respeite o direito das pessoas de voar rumo ao sonho delas. A lição principal é saber que somente as pessoas livres serão capazes de amá-lo como você quer e merece.
Respeite também as suas vontades e voe em direcção às realizações da sua vida. Tenho certeza de que, ao ser livre, encontrará pessoas felizes que adorarão voar ao seu lado.



Shinyashiki

Yeha Noha (Desejos de Felicidade e Prosperidade)





AH-UH NAYAH OH-WA OH-WA
SHON-DAY OH-WA OH-WA
SHON-DAY CAN-NON NON NOHA (NOHA)

AH-UH NAYAH OH-WA OH-WA
SHON-DAY OH-WA OH-WA
SHON-DAY YEHA-NOHA (NOHA)

AH-UH NAYAY TOR-SHNA NENA-NAY-YAYAH
NENA-NAY-YAY YEHA-NOHA (NOHA)
AH-UH NAYAY TOR-SHNA NENA-NAY-YAYAH
YEHA-NOHA (NOHA)

NEE-YOH-WAH NEE-YOH
NEE-YOH-WAH NEE-YOH

AH-UH NAYAH OH-WA OH-WA
SHON-DAY OH-WA OH-WA
SHON-DAY CAN-NON NON NOHA (NOHA)

AH-UH NAYAH OH-WA OH-WA
SHON-DAY OH-WA OH-WA
SHON-DAY YEHA-NOHA (NOHA)

AH-UH NAYAY TOR-SHNA NENA-NAY-YAYAH
NENA-NAY-YAY YEHA-NOHA (NOHA)
AH-UH NAYAY TOR-SHNA NENA-NAY-YAYAH
YEHA-NOHA (NOHA)


Música da Nação Navajo


Colheitas





De dez em dez anos
cada círculo
completa sobre si mesmo
uma viagem
nasce-se, brota-se do chão
e dez anos depois o primeiro
forma-se espera e cai
por gravidade
ao vigésimo oitavo dia

entre dez em dez anos
prepara-se
para a semente
a terra
aos vinte surge
o arado
a chuva
o sorriso
Alguns dez anos depois
espera-se o fim
de vinte e oito
em
vinte e oito dias


Ana Paula Ribeiro Tavares
In Rito de Passagem

A Ignorância do Poeta




O poeta contempla o mar
no agoniado tédio da tarde.
Caminha ao som de seus passos
ombros recurvos mãos nos bolsos
perseguindo a sua sombra.
O cão que lhe roça a solidão
não tolhe o verso escrito da memória.
Os namorados não o fitam.
De esguelha admira a inocência
dos gestos amorosos.
À sombra de jacarandás
percorre o trajecto
sobre as folhas silenciadas.

O poeta ignora mas a direcção
leva-o ao coração dos homens.


Nelson Saute
in A Pátria Dividida

Give Peace A Chance


.. Posted by Picasa



Two, one two three four
Ev'rybody's talking about
Bagism, Shagism, Dragism, Madism, Ragism, Tagism
This-ism, that-ism, is-m, is-m, is-m.
All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

C'mon
Ev'rybody's talking about Ministers,
Sinisters, Banisters and canisters
Bishops and Fishops and Rabbis and Pop eyes,
And bye bye, bye byes.

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Let me tell you now
Ev'rybody's talking about
Revolution, evolution, masturbation,
flagellation, regulation, integrations,
meditations, United Nations,
Congratulations.

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance

Ev'rybody's talking about
John and Yoko, Timmy Leary, Rosemary,
Tommy Smothers, Bobby Dylan, Tommy Cooper,
Derek Taylor, Norman Mailer,
Alan Ginsberg, Hare Krishna,
Hare, Hare Krishna

All we are saying is give peace a chance
All we are saying is give peace a chance


John Lennon



Menina dos Olhos Tristes




Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados,
Por que a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Vamos senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar.
- O soldadinho já volta
Do outro lado do mar.

O soldadinho já volta
Está mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.


Reinaldo Ferreira


Nambuangongo Meu Amor



Nambuangongo (matas), foto de Sebastião Pires em B.Caç-3869-CCS



Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo

Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.

Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.

Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.

É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo.


Manuel Alegre

L'été indien





Tu sais, je n'ai jamais été aussi heureux que ce matin-là
Nous marchions sur une plage un peu comme celle-ci
C'était l'automne, un automne où il faisait beau
Une saison qui n'existe que dans le Nord de l'Amérique
Là-bas on l'appelle l'été indien
Mais c'était tout simplement le nôtre
Avec ta robe longue tu ressemblais
A une aquarelle de Marie Laurencin
Et je me souviens, je me souviens très bien
De ce que je t'ai dit ce matin-là
Il y a un an, y a un siècle, y a une éternité

On ira où tu voudras, quand tu voudras
Et on s'aimera encore, lorsque l'amour sera mort
Toute la vie sera pareille à ce matin
Aux couleurs de l'été indien

Aujourd'hui je suis très loin de ce matin d'automne
Mais c'est comme si j'y étais. Je pense à toi.
Où es-tu? Que fais-tu? Est-ce que j'existe encore pour toi?
Je regarde cette vague qui n'atteindra jamais la dune
Tu vois, comme elle je reviens en arrière
Comme elle je me couche sur le sable
Et je me souviens, je me souviens des marées hautes
Du soleil et du bonheur qui passaient sur la mer
Il y a une éternité, un siècle, il y a un an

On ira où tu voudras, quand tu voudras
Et on s'aimera encore lorsque l'amour sera mort
Toute la vie sera pareille à ce matin
Aux couleurs de l'été indien



Letra e Música de Pierre Delanoé e Claude
Lemesle





Joe Dassin & Toto Cotugno

O Homem do Leme



Definitivamente... menos ainda com esse S maiúsculo de
Sebastião Serôdio
Salvador
Sassá Mutema
S, do cinto da Mocidade Portuguesa
S, de Sinzento mal escrito!
S, definitivamente NÃO!

Nha Testamento





Nha corpo é di tchom
Nha’alma é di Deus
Vida é di meu
Coraçon é pa bô

Passado m'ka eskcel
Presente m'ta vivel
Futuro m'ka conchel
Pensamento é só bô

Traz d’horizonte foi sonho sonhado
Margura d’vida po’m pé na tchom
Mi nha bússula ta encravado
Mi nha sina nascê ma mim

Sima tcheia na ribeira
M'ka ta kei na mesma asnera
M'krê sabura d’um cantadera
Num serenata sem janela

Sem tristeza na nha bera
Num grande noite di lua cheia
M'ta tchá mundo k’sê cansera
Bô ta do’m bô ragoce kê pa nha stera

Na dispidida m'ka crê margura
Nem sodade dum vida sonhado
M'crê ligria dum vida vivido
Embalado n’ondas di destino


Ildo Lobo








Calling All Angels

Nu de Dos II, de Alain Dumas



Calling all angels
I need you near to the ground
I miss you dearly
Can you hear me on your cloud?

All of my life
I've been waiting for someone to love
All of my life
I've been waiting for something to love

Calling all angels
I need you near to the ground
I have been kneeling
And praying to hear a sound

All of my life
I've been waiting for someone to love
All of my life
I've been waiting for something to love

All of my life
I've been waiting for someone to love
All of my life
I've been waiting for something to love

Day by day
Through the years
Make my way

Day by day
Through the years
Day by day
Through the years

Day by day
Through the years
Day by day
Make my way

Day by day
Through the years
Day by day
Day by day


Lenny Kravitz


Declaração



Misty sunrise, de Malachi Smith



As aves, como voam livremente
num voar de desafio!
Eu te escrevo, meu amor,
num escrever de libertção.

Tantas, tantas coisas comigo
adentro do coração
que só escrevendo as liberto
destas grades sem limitação.
Que não se frustre o sentimento
de o guardar em segredo
como liones, correm as águas do rio!
corram límpidos amores sem medo.

Ei-lo que to apresento
puro e simples - o amor
que vive e cresce ao momento
em que fecunda cada flor.

O meu escrever-te é
realização de cada instante
germine a semente, e rompa o fruto
da Mãe-Terra fertilizante.


António Jacinto

70 anos após a sua morte


Pessoa, por Luis Badosa


De tudo, ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre a começar...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que iremos ser interrompidos
antes de terminar...

Portanto devemos:
Fazer da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro...


Fernando Pessoa

Ensaio de Lágrimas





Se as nossas lágrimas
apagassem o ódio que nos cerca
e apagassem também o fogo que nos mata
mãe
eu pediria as lágrimas de todos
sangrando as pupilas.

Mas temo, mãe
que nos afoguemos um dia
dentro das nossas lágrimas.



Helder Muteia
In Verdades e Mitos

Dia de Chuva no Mato





Chove,

E a trovoada
é um batuque incessante,
uma estranha batucada.

Os raios são setas de fogo
que mesteriosamente, em tom de guerra,
espíritos do mal lançam da Altura
para incendiar a Terra.

O vento
Ora violento, ora brando,
o vento é o cazumbi dos cazumbis
-o deus do mar, do rio e da floresta-
que vai cantando e dançando,
em tragicómica festa,
o seu coro de mil vozes,
os seus bailados febris.

As nuvens negras são virgens tontas,
quais almas do outro mundo,
errando como sonambulas
pelo céu negro e profundo...
E a chuva, constante e forte,
é o pranto (parece eterno)
dos deuses negros que a Morte
sacrificou no Inferno.


Geraldo Bessa Victor

Regresso





Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar,
o meu canto ao Creador!
Porque me deu, vida e amor,
para voltar...

Voltar...
Ver de novo baloiçar
a fronde magestosa das palmeiras
que as derradeiras horas do dia,
circundam de magia...
Regressar...
Poder de novo respirar,
(oh!...minha terra!...)
aquele odor escaldante
que o humus vivificante
do teu solo encerra!
Embriagar
uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
com o tom da tua paisagem,
que o sol,
a dardejar calor,
transforma num inferno de cor...

Não mais o pregão das varinas,
nem o ar monotono, igual,
do casario plano...
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano...
Não mais o agitar fremente
de uma cidade em convulsão...
não mais esta visão,
nem o crepitar mordente
destes ruidos...
os meus sentidos
anseiam pela paz das noites tropicais
em que o ar parece mudo,
e o silêncio envolve tudo
Sede...Tenho sede dos crepusculos africanos,
todos os dias iguais, e sempre belos,
de tons quasi irreais...
Saudade...Tenho saudade
do horizonte sem barreiras...,
das calemas traiçõeiras,
das cheias alucinadas...
Saudade das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia
em cada hora,
soando pelos longes, noites fora!...

Sim! Eu hei-de voltar,
tenho de voltar,
não há nada que mo impeça.
Com que prazer
hei-de esquecer
toda esta luta insana...
que em frente está a terra angolana,
a prometer o mundo
a quem regressa...

Ah! quando eu voltar...
Hão-de as acacias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
Voltei!...



Alda Lara

Poema da Farra






Quando li Jubiabá
me cri Antônio Balduíno.
Meu Primo, que nunca o leu
ficou Zeca Camarão.

Eh Zeca!

Vamos os dois numa chunga
Vamos farrar toda a noite
Vamos levar duas moças
para a praia da Rotunda!
Zeca me ensina o caminho:
Sou Antônio Balduíno.


E fomos farrar por aí,
Camarão na minha frente,
Nem verdiano se mete:
Na frente Zé Camarão,
Balduíno vai no trás.


Que moça levou meu primo!
Vai remexendo no samba
que nem a negra Rosenda;
Eu praqui olhando só!


Que moça que ele levou!
Cabrita que vira os olhos.
Meu Primo, rei do musseque:
Eu praqui olhando só!


Meu primo tá segredando:
Nossa Senhora da Ilha
ou que outra feiticeira?
A moça o acompanhando.


Zé Camarão a levou:
E eu para aqui a secar.
Eu eu para aqui a secar.


Mário António


Surucucu





Fui mordido sem remédio
quem me mordeu foste tu...
E agora morro de tédio,
veneno surucucu.
Foi numa triste cubata,
mais longe do que a distância,
mais longe do que a saudade
que é tempo morto que mata.
Nunca mais posso esquecer
a tua boca sem fala,
quando um leão que é rei,
assustava e complicava
as murmúrios da sanzala.
Uma palmeira,
à luz da Lua, parecia que rezava
naquele mundo profano!...
Fui mordido... - Foste tu! -
Nunca mais posso esquecer-te
- veneno surucucu.


Tomaz Vieira da Cruz
in Quissange,1971

Fantástico!!.... lol




Um caboclo do interior, bem interior mesmo, tinha um touro que era o melhor da região. O touro era seu único patrimônio.
Os fazendeiros da redondeza descobriram que o tal touro era o melhor animal reprodutor e começaram a alugar o bicho para cruzar com suas vacas.
Sempre nasciam os melhores bezerros. Era só colocar uma vaca perto dele e o touro não perdoava uma.
O caboclo estava ganhando muito dinheiro com isso, o que era seu sustento.
Os fazendeiros se reuníram e decidiram comprar o touro. Um representante deles foi até a casa do caboclo e foi logo falando:
- Põe preço no seu bicho que vamos comprá-lo.
O caboclo, aproveitando da situação, falou um preço absurdo.
Os fazendeiros não aceitaram a proposta e foram se queixar com o prefeito da cidade. Este, sensibilizado com o problema, comprou o animal com o dinheiro da prefeitura e o registrou como patrimônio da cidade. E resolveu fazer uma festa para apresentar o touro para a cidade.
No dia da festa, os fazendeiros trouxeram suas vacas para o touro cobrir, seria tudo de graça.
Na hora da primeira vaca, o touro esbravejou, pulou, cheirou a vaca e nada.
- Deve ser culpa da vaca, disse um fazendeiro.
- Ela é muito magra.
Trouxeram uma vaca holandesa, a mais bonita da região.
O touro esbravejou, pulou, cheirou a vaca e nada.
O prefeito, louco, chamou o ex-dono do animal e lhe preguntou o que estava acontecendo.
- Não sei... - disse o caboclo - Ele nunca fez isso antes! deixa que eu vou conversar com o touro.
E o caboclo, aproximando-se do bicho, foi logo perguntando:
- O que há com você? Não tá mais a fim de trabalhar?
E o touro, dando uma espreguiçada, respondeu:
- Não me enche o saco. Agora eu sou funcionário público!


(recebido por email)
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Pensamento



"A primeira lei da natureza é a tolerância -

já que temos todos uma porção de erros e

fraquezas."

Voltaire

Nós





Nós ...
Não é a vida
Que nos faz viver ...
Nós fazemos a vida.
Não é a morte
Que nos leva ...
Nós, deixamo-nos levar.
Não é o amor
Que nos conquista ...
Nós deixamo-nos conquistar.
Não é um nada
Que nos dá tudo ...
Tudo ... por vezes ...
Dá em nada.
A vida ...
A morte ...
O amor ...
O nada ...

Somos nós.


Desconheço o autor
(recebido por email)

A Tua Voz Angola




Nos tribos
E assobios
Dos pássaros bravios
Ouço a tua voz Angola.

Dos fios
Esguios
Em arrepios
De mulembas sólidas
Escorre a tua voz Angola.

Nas ondas calemas
Barcos e velas
Dongos traineiras
Âncoras e cordas
Freme a tua voz Angola.

Em rios torrentes
Regatos marulhentos
Lagoas dormentes
Onde morrem poentes
Brilha a tua voz Angola.

No andar da palanca
No chifre do olongo
No mosqueado da onça
No enrolar da serpente
Inscreve-se a tua voz Angola.

No acordar dos quimbos
Nos cúmulos e nimbos
Nos vapores tímidos
Em manhãs de cacimbo
Flutua a tua voz Angola.

Na pedra da encosta
No cristal de rocha
Na montanha inóspita
No miolo e na crosta
Talha-se a tua voz Angola.

Do chiar dos guindastes
Do estalar dos braços
Do esforço e do cansaço
Emerge a tua voz Angola.

No ronco da barragem
No camião da estrada
No comboio malandro
Nos gados transumantes
Ecoa a tua voz Angola.

Dos bongos e cuicas
Concertinas apitos
Que animam rebitas
Farras das antigas
Salta a tua voz Angola.

A flor da buganvilia
A rosa e o lírio
Cachos de gladíolos
O gengibre e a cola
Perfumam a tua voz Angola.

Ouve-se e sente-se e brilha
A tua voz Angola

Inscreve-se nos seres talha-se nas rochas
A tua voz Angola

Vai com o vento goteja com o suor
A tua voz Angola

Por toda a parte por toda a parte
A tua voz Angola

Que voz é essa tão forte e omnipresente
Angola?

Que voz é essa omnipresente e permanente
Angola?

É a voz dos vivos e dos mortos
De Angola
É a voz das esperanças e malogros
De Angola
é a voz das derrotas e vitórias
De Angola
É a voz do passado do presente e do porvir
De Angola
É a voz do resistir
De Angola
É a voz dum guerrilheiro
De Angola
É a voz dum pioneiro
De Angola.



Antero Abreu
in "A Tua Voz Angola"




Em todas as ruas te encontro





Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

Oferta





Sou a quitandeira mais doce
que todos os doces de coco,
minha boca é tão docinha
como a fruta da minha quinda.
Tenho os seios para dar
duas laranjas do loje,
tenho nos olhos pitangas
tão boas de namorar

Tenho o Sol na barriga
e doçura da manga nos braços,
quem quer a minha vida
pra adoçar os seus cansaços?


António Cardoso
In Reino de Caliban II - antologia
panorâmica de poesia africana de expressão portuguesa

Rugas





Rugas, trilhos do tempo
que sulcam nosso rosto
delineando tarefas cumpridas
marcando caminhos percorridos
esculpindo risos alargados
tatuando a saudade de quem nos faz falta
o vazio deixado pelos que partiram
traços que nos transformaram
lentamente...
Gosto de mim... assim desenhada...
Fui riacho... encorpei...
Agora sou rio... fui amada e dupliquei...
Num dia de Cacimbo, ao mar vou chegar
pintado com o vermelho da minha terra
e com a prata do Luar
serenamente, sem pressa...
no remanso das ondas, desaguarei...



Isaura
in Sanzalangola

Vadiagem






meus passos, sempre meus passos,
eis-me a sós em solo diário
mapeando tardes inteiras e urbanas
automotivas
sinalizadas
enfileiradas
congestionadas
em meu coração que pulsa
na mais legítima contra-mão

ruas intercaladas
de pressas e surpresas
tudo gesto, acção e dispersão
em trajectos que somos
reais, humanos ou mera colisão



Zhô Bertholini

Sem nome…sem lei…


Foto de Rute Santos



Ontem…
Abandonei o claustro
Desamarrei o olhar
Sacudi o lodo da fatalidade
Tomei nas mãos o sorriso
E penetrei em todas as vielas.

Deambulei por ruelas vadias
Rasguei códigos desgastados.
Rompi os véus do formalismo
Desnudei a alma
E tornei-me forasteira de sonhos.

Hoje,
Procurei o cais do silêncio
Tomei o barco da aventura
E converti-me em passageira furtiva
Sem nome e sem lei…



Fátima Morão

Saudade





saudade
é o tempo de pacassas pardas
e macacos sem rabo servindo de administradores
quando o calor ia derretendo o céu
e a chuva se vendia na farmácia
do comerciante de cabelos de fio
saudade
é o tempo de patos bravos
e macacos sem rabo servindo de padres

quando o medo ia gelando a terra
e o pranto se dava de beber aos porcos
do comerciante de cabelos de fio


Arlindo Barbeitos
in "Angola Angolê Angolema"

Os Rios Atónitos

Rio Congo no Soyo



Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba



Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.

E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.


José Eduardo Agualusa







Miriam Makeba
Kongo

Linha de Rumo


Montanhas de Timor, vistas de ErmeraPosted by Picasa



Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em meu redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.

Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flôres
E silvas...

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo,
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede...


Ruy Cinatti

Lelo


Camacho Costa Posted by Picasa


''No tribunal, o juiz diz para o réu:
- No momento do roubo, o senhor não pensou na sua mulher e na sua filha?
- Pensei sim, Senhor Doutor Juiz! Mas só havia roupa para homem.''

Rain


Foto de David Sidwell




Listen to the pouring rain
listes to it pour,
And with every drop of rain
You know I love you more

Let it rain all night long,
let my love for you go strong,
as long as we're together
who cares about the weather?

Listen to the falling rain,
listen to it fall,
and with every drop of rain,
I can hear you call,
call my name right out loud,
I can here above the clouds
and I'm here among the puddles,
you and I together huddle.

Listen to the falling rain,
listen to it fall.

It's raining,
it's pouring,
The old man is snoring,
went to bad
and bumped his head,
he couldn't get up in the morning,

Listen to the falling rain,
listen to the rain.


Jose Feliciano

Quando a Manhã Vier





Quando a manhã vier
com um sol maduro
ofertando beijos
aos órfaos da ternura
quando a manhã vier
em apoteose de luz
a semear no vento
risos de alegria


quando a manhã vier
definitivamente
em alvorecer roseo
de paz e tranquilidade


de mãos nas mãos
saberemos chegado o nosso dia.


Jofre Rocha
(1961)


E a manhã chegou há 30 anos!
Finalmente.

Baião de Luanda







Tão velhinha e tão linda, e tão presa
nos mistérios das ondas do mar,
é Luanda uma flor, uma beleza
com perfume e encantos sem par.


De S. Paulo à Marginal
- Vem ver , meu amor! -
Luanda ao sol-pôr,
Como é sem favor, divinal!


Raparigas do Bungo e da Samba,
do Cruzeiro e da Sé, do Balão,
na Paris, Polo Norte ou Mutamba,
são a nossa maior tentação.


Nesta terra onde eu nasci
eu quero casar
e ter o meu lar
e rir e chorar
só por ti.


Pelos bailes selectos da Alta,
nos batuques tão ricos de côr,
é Luanda que dança e que salta,
numa festa de vida e amor.


Bungo, Samba e Sambizanga
ou Portas do Mar
- Tudo isto é Luanda,
cidade e quitanda
ao luar...


Tão velhinha e tão bela e fagueira,
debruçada nas ondas do mar,
É Luanda sagaz, feiticeira.
Quem cá chega, cá quer ficar!


Reis Ventura

O Meu Demónio





Tempos houve em que o meu demónio ria,
E eu era uma luz em jardins soalheiros,
Tinha jogo e dança por companheiros
e o vinho do amor que me inebria.

Tempos houve em que o meu demónio chorava,
E eu era uma luz em jardins de crueldade,
Tinha por companheira a humildade
Que a casa da pobreza iluminava.

Hoje o meu demónio não ri nem chora,
Eu sou uma sombra num jardim perdido,
E o meu companheiro, pela morte enegrecido,
É o silêncio vazio de antes da aurora.


Georg Trakl (1887-1914)

(in "Outono Transfigurado";
Tradução: João Barrento)