Receita
quarta-feira, agosto 10, 2005
Um colar de missangas fica bem.
E um dongo na baía.
Acácias rubras quanto baste.
E uma negra Maria.
Uma vóvó qualquer, de preferência
muito velha e negrinha.
Uma côr de miséria pitoresca
Pintada com decência.
Contratado também não fica mal.
E um poente vermelho sobre o mar.
Benguela é indispensável
E um versito em kimbundo é magistral.
Um ar contestador não sei de quê
Com odes ao pirão e á sanzala.
Marcar bem a distância complacente
Da pessoa que fala.
«Angolano» dizer como Arquimedes
No banho disse «eureka»
Mas jamais englobar a descoberta
No sentido mais lato de africano.
De cultura europeia nem falar
De cultura africana nem saber.
Mas «cultura angolana» com certeza.
Leva-se ao forno e dá-se a quem gostar.
Jorge Huet Bacelar
(inédito)
In No Reino de Caliban II