Sete horas húmidas
sábado, abril 15, 2006
Ao Alferes Mário Beja dos Santos, na Guiné
Sete horas húmidas, algures.
Progressão, fardas ensopadas.
Silêncio nos corpos, silêncio na terra de combate.
Estacas calcinadas.
O piar das aves, o olhar súplice.
Dois tiros quase num só eco.
O desabar de folhas ramos rápidos.
Um grito incerto.
Missão cumprida, meta adivinhada.
Febre sem alma ou acordo.
O peso súbito de um morto
caindo nos meus ombros estreitos
ou
nos ombros estreitos da minha miséria.
Ruy Cinatti (1970)
in "Guerra de África" - Angola 1961-1974
de Rui de Azevedo Teixeira