Sete horas húmidas
























Ao Alferes Mário Beja dos Santos, na Guiné


Sete horas húmidas, algures.
Progressão, fardas ensopadas.
Silêncio nos corpos, silêncio na terra de combate.
Estacas calcinadas.

O piar das aves, o olhar súplice.
Dois tiros quase num só eco.
O desabar de folhas ramos rápidos.
Um grito incerto.

Missão cumprida, meta adivinhada.
Febre sem alma ou acordo.
O peso súbito de um morto
caindo nos meus ombros estreitos
ou
nos ombros estreitos da minha miséria.



Ruy Cinatti (1970)

in "Guerra de África" - Angola 1961-1974
de Rui de Azevedo Teixeira