(falta-me um gato)






















falta-me um gato
para fazer festas às palavras.
algumas chegam entre mãos
na carícia breve da madrugada.

enquanto não parto para ítaca,
viajo, aguardo circe
que me transforme em felino agudo.

depois é só encostar-me às pernas
e fitar-me
eu, nariz aquilino, olhos rasgados em mim
na verticalidade da íris;
lamber os pelos, a pele,
arquear o corpo na languidez do gesto.

ficar à espera que a palavra cresça.


abril 2002


José Félix
in “Geografia da Árvore (a reinvenção da memória)”