Meu amor, eu te falo de um amor


























Meu amor, eu te falo de um amor
que toma a forma de todos os poderes do tempo
que tenha os compassos na duração da vida
e que se reconheça em um só ser
e um sem o outro sintam-se como que decantados.
Eu te falo de um amor de reconhecimentos antigos
e de encontros perpétuos
de um feixe de luz pousado sobre tua fronte
em direção aos pontos cardeais do seu corpo.
Eu te falo do fundo dos desesperos
e das horas de lentidão extrema.

Meu amor
dos olhos secos
da alma negra
dos cabelos ruivos

Teus filetes alongados escoam-se pelas minhas pernas de Cigana Vesperal!
Nossos suspiros marcam no Espaço uma confusão de estrelas entrelaçadas
de Mercúrio
e o nosso signo fala da mesma fórmula que extende os limites do
Sobrenatural ao Humano
Nossos poderes vinculam-se aos mistérios no Universo das coisas
e transformam a vida num bater eterno,
como da asa das borboletas.
O movimento volitivo que alimenta o homem encontrou em nós
sua bola de cristal de propriedades encantatórias
os pecados incestuosos de nossas noites
marcam,
mais uma vez,
a despedida dos olhares mascarados em retornos e monumentos de
prazeres imensos.

Meu amor
eu te falo pela língua da víbora
pelos dons dos castelos em ruínas
e pelas fogueiras armadas em meu coração
Eu te falo pelo delicado prisma que escolheste para amar
Meu amor
a vida faz parte do mistério do encontro das pessoas
que habitam as terras estranhas.

Meu amor
as circunstâncias do desespero são sempre apaixonadas...




Leila Ferraz Lima
In A PHALA – Revista do Movimento Surrealista