A questão não pode ser "quem foi" mas sim "a quem aproveita"

















Que a política de contenção do défice tem sido particularmente difícil e penosa para a imensa maioria dos portugueses, não é novidade...
Que o governo para atingir esse objectivo tem lançado mão a quase tudo tornando a vida dos portugueses muitas vezes num inferno, é público...
Que o autismo e a cegueira inerente a esse combate, em muitas frentes, se tem mostrado particularmente injusto para vastas camadas da população, é notório...
Que o governo para obter o silêncio das camadas mais favorecidas não ataque os seus interesses e lucros, é por demais evidente...

Mesmo assim, os portugueses, de uma forma absolutamente estóica, tem entendido os sacrifícios, ainda que injustos... e aguentado com um ou outro queixume...
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Porém algo se está a passar... começam a haver demasiados disparates bem explicados e situações inacreditáveis, habilmente escondidas ou disfarçadas. E isso é preocupante.

O governo através do Decreto-Lei 55/2007, de 12 deste mês determina que poderão ocorrer excepções à restrição de construção em povoamentos florestais, permitindo projectos de “interesse público” ou “empreendimentos com relevante interesse geral”.

Mais, o reconhecimento pode ser pedido, e concedido, a qualquer momento através de um despacho conjunto dos governantes do Ambiente, da Agricultura e eventualmente do membro do Governo envolvido no projecto.

Se isto não fosse o bastante, o pedido de reconhecimento é entregue no Ministério do Ambiente e implica um documento comprovativo de que os interessados são alheios ao incêndio “emitido pelo responsável máximo do posto da GNR da área territorialmente competente”.

Leio mas nem quero acreditar...

A lei que impedia a construção em área ardida por determinadao período de tempo foi, assim, co-incinerada na fornalha do que parecem ser estranhos interesses...
Caricato é o facto de que nem sequer se postula ou previne o princípio de - quem beneficia com o crime???... Penso que é intolerável.

Intolerável porque os fogos florestais voltam a ser armas úteis nas mãos de grandes interesses.
Intoleráveis porque voltaremos a ver crescer betão por tudo quanto é lado, sabendo-se dos imensos interesses e corrupção envolvida nestes processos... Será necessário dizer o nome de alguns envolvidos em processos???
Intolerável porque num momento em que grandes alterações climáticas ocorrem, o sinal dado á sociedade é que é benéfico para a economia a prosecussão de crimes ambientais que, sabemo-lo, vão ajudar a hipotecar as possibilidades das gerações futuras de disporem de um país melhor.

Estando tudo entretido com «fait-divers» como a Ota, não custa admitir que isto passe despercebido... e só em Agosto, quando o país estiver de novo a arder alguém se lembre disto.
Não é sequer necessário esperar por Agosto... basta consultar o blog Verão Verde para nos apercebermos que o verão, em face das alterações climáticas, já chegou.